7 episódios

E se as histórias secretas de pessoas aleatórias fossem reveladas?

"Crônicas do Fim do Mundo" é um projeto que constrói narrativas curtas com um toque de suspense noir.

Escrito e produzido por Caio Salgado. Leia essas e outras crônicas no Medium, acessando o link: https://goo.gl/tIGy6p

Comentários, críticas e sugestões: caio@chsalgadofoto.com.br ou pelo Twitter: @chsalgado.

Crônicas do Fim do Mundo Caio Salgado

    • Artes
    • 5,0 • 2 avaliações

E se as histórias secretas de pessoas aleatórias fossem reveladas?

"Crônicas do Fim do Mundo" é um projeto que constrói narrativas curtas com um toque de suspense noir.

Escrito e produzido por Caio Salgado. Leia essas e outras crônicas no Medium, acessando o link: https://goo.gl/tIGy6p

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    [S01E07] Um Homem Normal

    [S01E07] Um Homem Normal

    O episódio "Um Homem Normal", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado.

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    Transcrição

    Sete horas. Estaciono meu carro absolutamente normal em frente à padaria. Eu sou uma pessoa convencional, daquelas que gostam de pãezinhos quentes com manteiga e café com leite servidos em copos americanos.

    Quem me observa, sentado no balcão e tomando meu café, vê um indivíduo comum, com contas para pagar, plantinhas para regar e um trabalho banal, que vai sugar minha energia e me levar a uma aposentadoria medíocre.

    Quando eu tinha oito anos, vi uma menina, mais ou menos da minha idade ser atropelada. Ela pediu ajuda. O motorista pediu ajuda. A única coisa que consegui fazer foi ficar ali, parado, observando suas últimas expressões, seus gemidos de dor.

    Não sei se a menina entendia toda a vida de alegrias, festas, sofrimentos e normalidades que ela estava perdendo. Eu não entendi muito bem o que acontecia. Segui sendo mais um.

    Agora, eu tomo café, como pão com manteiga e assisto ao jornal da manhã. A primeira notícia mostra um plano detalhe de um homem baleado no pescoço. O sangue escorre e encharca a mão dos paramédicos. O balconista não consegue piscar. Ele chama o padeiro, que para em frente à tela. Segundos depois, uma dezena de pessoas está ali, zumbificada, paradoxalmente não acreditando e querendo mais daquelas imagens, que se repetem em loop. É isso que eu faço: cruzo a cidade à procura do que apenas eu sou capaz de registrar. O som das sirenes e os gritos desesperados são o café na caneca que sua mãe te trouxe de souvenir do Chile e o fone de ouvido que toca música indie enquanto você fecha mais um relatório.

    Quando a âncora chama a previsão do tempo, todos voltam a seus dias ordinários.

    A imagem da menina coberta daquele líquido vermelho me fez não vomitar nem sentir nojo ao ver intestinos saindo de dentro dos corpos de pessoas acidentadas. Observar atentamente seus olhos se apagando não me deixa tremer enquanto seguro a câmera para filmar a morbidez a ser exibida no jornal das sete.

    O primeiro vídeo foi o de uma senhora atropelada. Uma van passou sobre sua perna. Instintivamente, peguei meu celular e filmei um paramédico tentando dar unidade ao que mais parecia um bolo de carne. Envie as imagens para uns amigos. Na manhã seguinte, as imagens estavas sendo exibidas na TV local. Lamentei por não ter recebido um centavo sequer com aquilo.

    O editor da TV espera violência gráfica. Eu entrego membros decepados, tiros, sangue e ferragens atravessando pele, gordura e ossos. Minhas noites são longas e terminam com uma transferência bancária para minha conta corrente e um pão com manteiga na padaria.

    • 3 min
    [S01E06] A Garçonete

    [S01E06] A Garçonete

    O episódio "A Garçonete", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado.

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    Transcrição

    Há erros que não podem ser cometidos...

    Nunca acreditei em sorte, ou nas oportunidades que a vida dá. Mas eu não sou a melhor pessoa para contar histórias de sucesso. Afinal, gente como eu nasce para servir e se aproveitar, como ratos, dos restos que animais superiores deixam cair pelos cantos.

    Esses restos compram a nossa fidelidade.

    O medo de perdermos a relação de comensalismo que nos mantém nos leva a fazer tudo o que o grande animal ordena. De comprar docinhos para o aniversário de sua avó a seguir garçonetes, que saem do trabalho carregando sacos de papel que não deviam estar mal escondidas por baixo de um sobretudo.

    A cafeteria, que agora é uma cena de crime, abriu suas portas para mais pessoas durante o dia do que recebe clientes em uma semana inteira. Em dias assim é fácil observar e identificar quem está escondendo alguma coisa. Quando, de cinco em cinco minutos, uma jovem abre a porta de vidro para fumar, você tem um perfil. Em oito horas, foram exatamente vinte cigarros. O último, acendido ao fim do expediente.

    Ela joga o maço vazio na lixeira, coloca o capacete e sobe em sua vespa vermelha.

    Seus cachos amarelo ouro se escondem por baixo do capacete.

    Essa vida de garçonete deve ser uma merda, mesmo. Se eu ficasse servindo cafezinhos de trás de um balcão eu certamente me apegaria à primeira chance de sair dessa vida. Mas é tanta inocência pensar que ninguém viria atrás daquele saco de papel?

    Ela passa pelas lombadas sem desacelerar. Não procura refúgio. Dirige-se diretamente para a saída da cidade.

    Os cigarros alimentaram-na durante o dia. Agora não mais. Ela estaciona no primeiro posto de gasolina à beira da rodovia e se encaminha para o restaurante. De longe, posso vê-la, através do vidro.

    Coitadinha, está tão encantada com o saco de papel. Ou melhor, com o que está dentro dele, que esquece a fome por alguns instantes.

    Será que ela já está pensando como será seu futuro? Uma vida nova, numa cidadezinha do interior, sem preocupações e, se tudo der certo, com um marido, filhos e um gato.

    É bom ter sonhos. Mesmo sabendo que eles jamais se realizarão.

    É bom que ela procure um lugar isolado para buscar um recomeço.

    De volta à estrada, o Sol se esconde e as luzes dos carros começam a tomar cor. O pequeno círculo amarelado da vespa brilha e me guia.

    Enquanto isso, fico aqui, pensando um pouco mais sobre os erros que cometemos. Por mera esperança ou qualquer outro sentimento banal, arriscamos tudo por chances mínimas de sucesso. Essa jovem que pilota, cerca de cinquenta metros à minha frente, é apenas mais uma sonhadora.

    Que pena.

    Ela dá seta para a direita.

    Ela reduz para entrar em um hotel de beira de estrada.

    Eu piso no acelerador.

    • 3 min
    [S01E05] Inocente

    [S01E05] Inocente

    O episódio "Inocente", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado.

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    Transcrição

    Dia três mil, seiscentos e um. É meu aniversário. Eu ganhei uma nova goteira.

    A água podre que escorre do encanamento dos andares de cima se acumula e vai formando uma poça no chão de concreto batido. A água toma conta do cubículo onde passei os últimos anos.

    A única saída é feita por uma porta de ferro, pesada e enferrujada. Não existem janelas, apenas uma pequena entrada de ventilação, que empurra o ar quente para esse espaço, pequeno e úmido. Mal posso ficar de pé ou me deitar na cama de concreto, construída junto à parede lateral. E é lá que fico por horas.

    Não posso dizer que não tenho contato com o ambiente externo. Duas vezes por dia, me alimentam com uma ração malcheirosa e um pouco de suco ralo. Um guarda bate à porta e eu tenho alguns segundos para me virar e tapar os olhos para não me cegar. Ele abre e atira a comida para dentro.

    Ao menos esse processo renova o ar e posso respirar melhor por uma hora ou duas.

    Além disso, a cada seis meses um médico e um dentista me examinam. Eles me vendam, me apalpam, me jogam aqui e trancam a porta.

    Eu estou preso por dois motivos. O primeiro é porque tive um mau advogado. O segundo é porque ele ainda tentou ser criativo.

    Eu sou inocente. Você pode até não acreditar. Honestamente, não me interessa. Você não pode me tirar daqui, mesmo.

    Quando seu advogado tenta “melhorar a sua situação” alegando insanidade, é isso que acontece, ao menos nessa cidade. Você acaba aqui, vivendo e se alimentando de sombras.

    Psicopatas e sociopatas... todos ficariam loucos se fossem enclausurados nesse esgoto. Eu, não.

    Os primeiros anos são difíceis. Mas depois você se acostuma. As gotas que caem do teto se transformam em melodia, a escuridão nos dá muitas horas de sono e a cama de concreto se torna uma pluma. Como não vemos nada, ninguém também nos vê.

    Somos invisíveis. Na verdade, para quem está do lado de fora, somos seres não vivos.

    Contudo, ninguém sabe o que se passa na nossa cabeça. Cada segundo, dormindo ou desperto, serve para que a gente imagine o que vai fazer quando sair daqui.

    Não existe pena. Ao menos não teoricamente. Mas, uma vez a cada cinco anos, temos o direito de sermos avaliados por uma comissão de psiquiatras e psicólogos que se sentam em uma mesa e te julgam. Sua barba malfeita é motivo para te colocarem por mais cinco anos nesse universo escuro. E assim, as vidas se exaurem.

    Só que, uma vez a cada dezena de anos, um de nós consegue sair.

    • 3 min
    [S01E04] Sobre Confiança

    [S01E04] Sobre Confiança

    O episódio "Sobre Confiança", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado.

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    Transcrição

    Boa tarde. Tudo bem? Para onde a gente vai?

    Você está confortável? Se importa se eu ligar o som?

    Eu adoro essa música. Dá uma sensação de tranquilidade. De paz.

    Eu estava pensando nisso um dia desses. Não, não em paz. Nos sentimentos. Queria descobrir qual deles é o mais importante. O que você acha? Qual o mais forte deles? O amor? O ódio? O medo?

    Você pode até ter a sua opinião. Ela pode até ser diferente da minha. Para mim tanto faz. Até o fim da nossa conversa, vamos estar na mesma página.

    O mais sólido dos sentimentos é, sem dúvida, a confiança. Quando a sua mãe se casou com seu pai – se é que eles se casaram - e decidiram morar juntos, todos falam que a decisão é motivada por amor. Entretanto, antes que sua mãe tivesse que lavar as cuecas do seu pai, foi criada uma relação de confiança entre os dois. Amor é só uma forma não palpável de confiança.

    Como podemos definir objetivamente, confiança é a certeza. A tranquilidade de que alguém irá sempre cumprir o que se espera dele. Por isso, tão complicado como amar, é confiar em alguém.

    Agora eu te pergunto. Você já confiou em alguém sem sequer conhecer? Não? Ah, eu posso garantir que sim.

    A quem você entrega seu corpo, seus pertences e seu destino sabendo, no máximo, um nome? E esse nome nem precisa ser verdadeiro.

    Vou te dar uma dica. Tem estofado gasto e cheira a nicotina. Se confunde em meio a milhares de outros veículos, todos pintados de amarelo, com uma plaquinha em cima.

    E por que não confiar? Somos todos homens simpáticos, entendemos de futebol, do clima... A gente sabe exatamente o que acontece e onde acontece.

    Nós já salvamos você em inúmeras situações. Na chuva, atrasado para uma reunião com o cliente, às seis da tarde. E, apesar de eu estar aqui, dando uma infinidade de motivos pelos quais você deveria nos confiar seu destino, você está, ao contrário, começando a duvidar disso.

    Peraí. Não precisa descer agora. Eu ainda não terminei.

    Você, o protagonista da sua vida, está aí atrás, isolado. Uma camada bem resistente de acrílico nos separa e, se olhar para a porta, verá que ela está travada.

    Não precisa gritar. Estamos anônimos, em meio a dezenas de táxis que pegam dezenas de passageiros que chegarão exatamente no destino planejado. O que não é o nosso caso. Nós vamos na direção do Sol. Admire o pôr do sol, você não o verá por um bom tempo.

    Viu por que a confiança é tão importante?

    • 4 min
    [S01E03] Déjà Vu

    [S01E03] Déjà Vu

    O episódio "Déjà Vu", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado.

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    Transcrição

    Você já teve um déjà vu? Se não teve, vai ter. A sensação de “isso já aconteceu comigo antes” ocorre devido a uma falha do nosso cérebro, que identifica cenários parecidos e diz que estamos revivendo a mesma situação.

    É exatamente essa a impressão que estou tendo agora, ao subir as escadas estreitas de um edifício histórico. O que, nesta cidade, significa um motel caindo aos pedaços e fedendo a mofo. No segundo andar, um aglomerado de policiais cerca uma das portas.

    Uma fita amarela separa os legistas dos curiosos, ávidos por registrar alguma coisa e obter um mórbido sucesso publicando tudo. Um guarda me identifica e eu não preciso mais me espremer por entre suor e perdigotos.

    A luz do início da manhã, parcialmente barrada pela persiana, ilumina mais que a lâmpada de tungstênio.

    Ela ainda teve sorte de poder usar um quarto com janela.

    Eu olho para ela, dos pés ao pescoço. Preciso acender um cigarro para olhar para seu rosto, coberto por um saco plástico.

    Seus olhos verdes sem brilho chamam minha atenção porque, nesse exato instante, o que eu sinto não é um déjà vu, é uma lembrança perfeita de quando seus olhos ainda brilhavam.

    Ela não vive. E a culpa é minha.

    Mais um trago de cigarro e eu sinto a nicotina descer rasgando a minha garganta. Eu jogo a bituca pela janela enquanto tento voltar ao chão. Meus pés formigam.

    Todos já perdemos alguém, é verdade. Próximo ou distante. Muita gente morre, todos os dias. Muitos são assassinados ou têm um ataque cardíaco ao atravessar a rua. O que eu torço é para que ninguém morra porque você não fez nada. Porque você achou que era apenas mais uma fraude.

    Eu preferiria ter motivos para matá-la. Queria eu ter lhe arrancado a vida. Porque não há sensação pior que ser responsável por uma morte.

    Duas semanas antes, aqueles olhos, agora esbugalhados e cobertos de sangue, eram límpidos. A boca, roxa, era tão vermelha que parecia estar em carne viva. Ela era mais uma que dizia conhecer o assassino mais desconhecido do qual já ouvimos falar.

    Ela saiu com um cigarro e um pedaço de papel com meu número do meu celular.

    Eu volto à realidade. O legista está à minha frente. Acho que perdi alguns minutos da conversa. Seu rosto, movendo-se negativamente, apenas comprova o que já era esperado. Sem digitais, sem pelos, sem qualquer fluido corporal. Sem pedaços de papel com números de celular.

    Os primeiros raios e trovões são minha desculpa para sair dali.

    No carro, acendo mais um cigarro antes de ligar o rádio e dar a partida.

    Através do para-brisa embaçado eu só vejo seus olhos verdes.

    Meu celular toca.

    • 4 min
    [S01E02] No Café

    [S01E02] No Café

    O episódio "No Café", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado.

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    Transcrição

    A cafeteira apita com o vapor de água. A única garçonete em serviço deixa uma xícara cair e se despedaçar no chão. Um senhor se assusta e derruba metade de seu expresso.

    No fundo do estabelecimento, à penumbra, estou eu, olhando diretamente para a porta de madeira, que não se move.

    O meu pedido chega. Café preto, sem açúcar. É o momento de esquecer o cheiro de esgoto que toma a cidade e me debruçar em 200 mililitros de calor e amargor. Eu engulo a bebida fervente enquanto olho para a porta, imóvel.

    O Café dos Andes já foi o melhor do Estado. A pequena entrada, hoje escondida por anúncios de apresentações de strip-tease, atraía turistas interessados em conhecer o pequeno oásis com aroma de café no meio da avenida mais movimentada da cidade. Mas, desde que o Seu Hiroshi faleceu, acho que só eu me sinto confortável aqui.

    Eu confiro as horas. Sete e quarenta. Eles estão dez minutos atrasados. Eles nunca se atrasam.

    A porta range antes de se abrir. Eu tiro os olhos do café. Uma jovem morena, alta, e com sapatos vermelhos pede um cappuccino para a viagem. Ela sai. O senhor que derrubara sua bebida há alguns minutos sai. Eu permaneço, olhando para a porta e a porta imóvel.

    Tento não olhar para o saco de papel que está no chão, ao lado do meu pé esquerdo. Contudo, é impossível ignorar o conteúdo que motivou o encontro dessa manhã. Eu o confiro, pela terceira vez em vinte minutos. Está tudo lá. Exceto eles.

    Quando marcamos reuniões como esta, no fim das contas, queremos que elas não aconteçam.
    Queremos que elas não aconteçam até que alguém se atrasa.
    Queremos que elas não aconteçam até que estamos aqui, às sete e cinquenta, torcendo pelo ranger da porta.

    Um estalo me chama a atenção. Dessa vez não foi a xícara de café que caiu. Na rua, gritos. Mais estalos. Mais gritos. Eu regurgito o café, que sobe tão quente quanto estava no momento em que o engoli.

    A porta não se move até que, através do pequeno quadrado de vidro, cercado por uma moldura de madeira, eu vejo o que está lá fora. E eu vejo um rosto. O rosto de um deles. Pálido. Ele olha nos meus olhos antes de deslizar e fazer a porta ranger. Ela range. Meu estômago range. Meu corpo treme.

    Eu me levanto e caminho para o banheiro.

    O espaço cheirava a urina velha. Seca. Na privada: fezes. Eu me sento. Tiro um 38 do meu coturno. O banheiro fede, meu estômago embrulha.

    São oito horas e nada mais importa.

    • 3 min

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