Live Como Anda a Sua Saúde Mental‪?‬ Pergunte ao Psiquiatra - Dicas Sobre Saúde & Bem-Estar

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Transcrição



Cláudio Lottenberg: É um prazer.



Sérgio Klepacz: Muito obrigado pelo convite, Claudio, por ter lembrado. Muito obrigado.



Cláudio Lottenberg: Imagina. Que isso, eu admiro muito o que você faz. Mesmo à distância, saiba que eu tenho muito respeito e vi coisas que você tem aprofundado, tentando ligar coisas que as pessoas, muitas vezes, tratam até com muito preconceito. E são coisas que talvez não são tão explicáveis dentro da lógica, dentro do pensamento cartesiano, e sim mais quântico.



Sérgio Klepacz: Sim, sim. Essa história do preconceito é interessante. Eu sempre conto essa história e até hoje tem uma marca do preconceito. Nos meus receituários, pelo menos em uns deles, eu não coloco o meu título de psiquiatra.



Quando eu comecei a exercer, em 1980, o preconceito era muito grande e quando eu falei: “Ah, vou ser psiquiatra”, as críticas foram enormes. Legal era ser cirurgião na época: “Não, você tem que ser cirurgião, porque psiquiatra é uma coisa estranha, esquisita, na família todo mundo é normal”. Aquele papo.



Cláudio Lottenberg: Mas você sabe que é interessante, porque eu acho que a pandemia vai ajudar no sentido de as pessoas entenderem a importância da saúde mental. E eu queria te fazer uma pergunta, para começar: como é que você enxerga a questão da felicidade? Você fala muito sobre isso quando escreve. O que é felicidade?



Sérgio Klepacz: Olha, Claudio, nós já temos muitos anos de profissão. Quando você fala das questões que você trata, você já tem toda uma reflexão sobre isso, toda uma profundidade. Então, deixa eu te contar a historinha. A historinha é simples. Quando você atende a pessoa, a pessoa sofre de depressão, aí a pessoa melhora: “Melhorou?”, “Eu melhorei, mas a vida é ruim mesmo”. E tem aquelas pessoas que falam: “Eu não sou assim, sou uma pessoa feliz”, aí quando você trata, a pessoa melhora e volta ao nível de felicidade.



Ou seja, hoje em dia – os próprios trabalhos demonstram, isso é uma coisa vista na prática – nós vemos que felicidade, grau de felicidade, humor e depressão, estão descolados parcialmente. São sistemas diferentes. Então, a história da felicidade é uma história, mas cada um tem a sua. Os trabalhos mostram que se você ganhar na loteria vai ficar muito feliz por seis meses, depois tudo volta ao normal, ao teu grau anterior. E o contrário também: se acontecer uma grande desgraça na sua vida, depois você volta ao normal. Para algumas pessoas isso aqui é um copo meio vazio, para outras está meio cheio. Isso seria o grau da felicidade.



A dinâmica é bem diferente, eu acho que felicidade é uma coisa que todos almejam, ninguém está imune a tentar desejar ser feliz, e nós traçamos dentro da gente nossos planos de felicidade. É até interessante, eu gosto muito de tentar trabalhar com essa coisa da química, de neurotransmissor, então até os neurotransmissores são diferentes do humor. O pessoal fala, “Puxa vida, se tomar um remédio antidepressivo, você vai ser mais feliz?” – que, aliás, foi o marketing do Prozac nos anos 80. E não, não vai ser mais feliz. O seu nível de felicidade vai continuar igual. O humor sim, é um dos componentes da felicidade, mas não é só esse.



Realmente, para quem alcançou boa parte das coisas na vida, o que nós mais queremos é tentar pensar: “Sou feliz? Eu acho que eu sou feliz. Sou feliz. Eu acho que não totalmente, preciso disso e daquilo, mas eu vou chegar à felicidade”. Então, esse é nosso grande objetivo. 



Cláudio Lottenberg: Olha, que interessante. Esses termos, mesmo para quem é médico – que é o meu caso –, são termos difíceis de definir. Você falou do humor, quer dizer, um remédio que é um antidepressivo trabalha com o teu humor. Como você pode definir o humor perante os leigos?



Sérgio Klepacz: O humor já é mais objetivo, tem todas aquelas escalas e eu n

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Cláudio Lottenberg: É um prazer.



Sérgio Klepacz: Muito obrigado pelo convite, Claudio, por ter lembrado. Muito obrigado.



Cláudio Lottenberg: Imagina. Que isso, eu admiro muito o que você faz. Mesmo à distância, saiba que eu tenho muito respeito e vi coisas que você tem aprofundado, tentando ligar coisas que as pessoas, muitas vezes, tratam até com muito preconceito. E são coisas que talvez não são tão explicáveis dentro da lógica, dentro do pensamento cartesiano, e sim mais quântico.



Sérgio Klepacz: Sim, sim. Essa história do preconceito é interessante. Eu sempre conto essa história e até hoje tem uma marca do preconceito. Nos meus receituários, pelo menos em uns deles, eu não coloco o meu título de psiquiatra.



Quando eu comecei a exercer, em 1980, o preconceito era muito grande e quando eu falei: “Ah, vou ser psiquiatra”, as críticas foram enormes. Legal era ser cirurgião na época: “Não, você tem que ser cirurgião, porque psiquiatra é uma coisa estranha, esquisita, na família todo mundo é normal”. Aquele papo.



Cláudio Lottenberg: Mas você sabe que é interessante, porque eu acho que a pandemia vai ajudar no sentido de as pessoas entenderem a importância da saúde mental. E eu queria te fazer uma pergunta, para começar: como é que você enxerga a questão da felicidade? Você fala muito sobre isso quando escreve. O que é felicidade?



Sérgio Klepacz: Olha, Claudio, nós já temos muitos anos de profissão. Quando você fala das questões que você trata, você já tem toda uma reflexão sobre isso, toda uma profundidade. Então, deixa eu te contar a historinha. A historinha é simples. Quando você atende a pessoa, a pessoa sofre de depressão, aí a pessoa melhora: “Melhorou?”, “Eu melhorei, mas a vida é ruim mesmo”. E tem aquelas pessoas que falam: “Eu não sou assim, sou uma pessoa feliz”, aí quando você trata, a pessoa melhora e volta ao nível de felicidade.



Ou seja, hoje em dia – os próprios trabalhos demonstram, isso é uma coisa vista na prática – nós vemos que felicidade, grau de felicidade, humor e depressão, estão descolados parcialmente. São sistemas diferentes. Então, a história da felicidade é uma história, mas cada um tem a sua. Os trabalhos mostram que se você ganhar na loteria vai ficar muito feliz por seis meses, depois tudo volta ao normal, ao teu grau anterior. E o contrário também: se acontecer uma grande desgraça na sua vida, depois você volta ao normal. Para algumas pessoas isso aqui é um copo meio vazio, para outras está meio cheio. Isso seria o grau da felicidade.



A dinâmica é bem diferente, eu acho que felicidade é uma coisa que todos almejam, ninguém está imune a tentar desejar ser feliz, e nós traçamos dentro da gente nossos planos de felicidade. É até interessante, eu gosto muito de tentar trabalhar com essa coisa da química, de neurotransmissor, então até os neurotransmissores são diferentes do humor. O pessoal fala, “Puxa vida, se tomar um remédio antidepressivo, você vai ser mais feliz?” – que, aliás, foi o marketing do Prozac nos anos 80. E não, não vai ser mais feliz. O seu nível de felicidade vai continuar igual. O humor sim, é um dos componentes da felicidade, mas não é só esse.



Realmente, para quem alcançou boa parte das coisas na vida, o que nós mais queremos é tentar pensar: “Sou feliz? Eu acho que eu sou feliz. Sou feliz. Eu acho que não totalmente, preciso disso e daquilo, mas eu vou chegar à felicidade”. Então, esse é nosso grande objetivo. 



Cláudio Lottenberg: Olha, que interessante. Esses termos, mesmo para quem é médico – que é o meu caso –, são termos difíceis de definir. Você falou do humor, quer dizer, um remédio que é um antidepressivo trabalha com o teu humor. Como você pode definir o humor perante os leigos?



Sérgio Klepacz: O humor já é mais objetivo, tem todas aquelas escalas e eu n