Gauchismo Líquido CLARISSA FERREIRA

Um programa dedicado às primeiras gravações do Rio Grande do Sul. Quais os ritmos se tocava? Quais as temáticas das canções? Quem eram as pessoas que faziam música por esses pagos? Será que se tocava milonga, chacarera e chamamé? Ouvimos gravações das pioneiras Casa A Electrica e Casa Edison, com os acordeonistas Moisés Mondadori e Lúcio de Souza, falamos sobre algumas mulheres musicistas desse período como a violinista Olga Fossati e a cantora Paquita Baylina. Ouvimos Geraldo Magalhães, o primeiro sambista gravado do estado e os representativos conjuntos melódicos Terror dos Facões, Sulferinos, Cayense investigando e percebendo os gêneros musicais, arranjos e sonoridades típicos desta fase inicial da indústria fonográfica gaúcha. Alerta spoiler: não se tocava milonga, nem chacarera, nem chamamé. Ouça agora quais eram os sons bens gaúchos que tocavam nesse tempo!

Peitaço da Composição Regional é um evento destinado à vivência, formação e prática de composição para mulheres da música regional. A segunda edição deste evento aconteceu recentemente e esse programa destina-se a ouvir algumas das composições criadas durante o festival em suas gravações ao vivo, juntamente com depoimentos de algumas participantes. Contamos com áudios das anfitriãs Shana Muller e Sandra Gulart, das organizadoras Maria Rita, Charlise Bandeira, Su Paz e Oristela Alves, também madrinha homenageada do festival, e das participantes Fátima Gimenez, Nair Terezinha, Loma, Ana Matielo, Rita Mauch, Lizzi Barbosa, Pyetra Hermes, Eunice Polman, Bibiana Alves e das oficineiras dessa edição Marília Kosby, Isabel Nogueira e Valéria Alencar.

O tema de hoje é antropológico, beira o exótico e chega a ser engraçado para os pouco acostumados com as lidas campeiras. Nesse episódio inspiradas no Inventário Nacional de Referências Culturais, que buscou apresentar os ofícios e modos de fazer que compõem o sistema da pecuária como um fato social para pensar a região do pampa, trouxemos poéticas musicais relacionadas às categorias de trabalho compreendidas como patrimônios imateriais. Grupo Candeeiro, Porca Veia, Jaime Caetano Braum, Telmo de Lima Freitas, ilustram sonoramente o tema falando sobre esquiladores, domadores, tropeiros, changueros, alambradores, posteiros, caseiros, capatazes, peões e guasqueiros. Claro que não poderíamos negligenciar a invisibilização da mulher campesina e sua força de trabalho, e para tal contamos com artigo da pesquisadora Andreia Sá Britto e músicas que abordem as profissões de curandeira, fiandeira, e parteiras, apenas para citarmos algumas.

Este programa reflete através de canções e leituras, os padrões de masculinidade tóxicas presentes na cultura. Nossa abordagem denuncia naturalizações de diversos tipos de violência de gênero que são sofridas pelas mulheres.  A visão patriarcal na cultura regionalista, o papel da mídia na legitimação do machismo gaúcho, a violência doméstica retratadas nas músicas regionalistas, são alguns dos temas que tratamos a partir de um vasto repertório de canções e textos científicos. Importante lembrar que este episódio é composto por conteúdo sensível podendo causar gatilhos a pessoas que sofreram algum tipo de violência.

O sétimo programa teve como tema a obra da compositora, cantora e acordeonista Berenice Azambuja. Nele elencamos alguns fatos marcantes da sua trajetória e de suas expressões musicais, fazendo um tour pelos discos gravados da Bere. Além de comentarmos as gravações, ouvimos trechos de uma entrevista no programa Jô Soares nos anos 90, e trechos do texto Berenice Azambuja: transgressão e hibridismo presente no livro Gauchismo Líquido: reflexões contemporâneas sobre a cultura do RS. Assuntos como o movediço eu-lírico feminino x masculino em suas letras, a contestada heteronormatividade na cultura tradicionalista, a velada homosexualidade feminina, e a reprodução dos discursos da masculinidade foram alguns dos temas abordados nesse programa, além de pensarmos sobre o regionalismo como um movimento que Berenice fez parte e que causou a popularização da música gaúcha através do hibridismo de gêneros musicais. Algumas músicas apresentadas foram Prenda Missioneira, Teiniaguá, Romance de Terra e Pampa, Dançando no Saravá, Quem tá mandando é a mulherada e O mundo é das mulheres. Puxem um banco e vão sentando, que hoje o tema em questão é Berenice Azambuja, paisanos! E sua personalidade de hibridismo e transgressão!

compartilhe e marque/siga @gauchismoliquido @clarisssaferreira

compre agora o livro Gauchismo Líquido no site www.clarissaferreira.com 

ouça www.radioqueroquero.net 

apoie meu trabalho em apoia.se/lavaca

No sexto programa, inspirada pela passagem da grande Lia de Itamaracá por Porto Alegre, abordamos como tema "Mestras da Cultura Popular". Através de histórias pessoais marcadas pela ancestralidade, a oralidade e a resistência, esse programa ouviu falas e músicas de algumas "intelectuais orgânicas" brasileiras como Lia do Côco, Inezita Barroso, Clementina de Jesus, Marlui Miranda, Martinha do Côco, Cátia de França, e claro a inspiradora Lia de Itamaracá que enviou mensagem especial para o programa no nosso bloco agenda. Refletimos como  suas experiências de vida e de produção de conhecimento são pautadas em suas histórias e trajetórias de vida, musicais e espirituais. Em suas obras carregam e resgatam a trajetória de mulheres negras e afro-indígenas, em sua maioria, bem como das divindades femininas, fortalecendo epistemologias decoloniais que se pautam por cosmologias indígenas e de matrizes africanas, conhecimentos diversos de resistência histórica de enfrentamento às matrizes de desigualdades, tais quais o racismo, o etnocídio e o sexismo.

@gauchismoliquido | @clarisssaferreira | www.radioqueroquero.net | www.editoracoragem.com | www.clarissaferreira.com