Letter to a Young Poet Rodrigo Brand
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- Arte
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Flower | Poetry
Look at the flower
How beautiful it sits
(with no use)
Still, while moving
Patiently living
Graciously dying
A perfect example of being.
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Olhos Marrons | Poesia
A menininha dos olhos marrons
Tinha olhos assim, marrons
Todo marrons
Nem uma pitadinha de azul ou verde para clarear, não
Não eram mel
Eram marrons!
Castanhos! Escuros!
Não eram como o céu ou como mar
Não!
Eram cor de jegue! De jumento! De burro!
Mas a menininha de olhos marrons era linda, a menina
Mais lindos ainda eram seus olhos
Marrons
Castanhos-escuros
Tão lindos, como ela
Um par, amêndoado
Cor de castanha [ do Pará ]
Sua pele mudava de cor
Mas nunca seus olhos
Seus olhos não
Que eram assim, marrons
Tão lindos que marrom virou predicado [ apelido ]
Marrom como olhos castanhos, lindos
Quem os tem os guarda em segredo
A beleza de ter olhos escuros [ infinitos ]
Como a menina de olhos... côr-de-bur.
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Seio Nu | Poesia
Meu estilo é poesia
Finco a terra – planto a semente
O que vai crescer não sei
Talvez um seio nu
Rego: uma gota de sangue
Mais, se for necessário
Às vezes jorra
Mas meu pé não da manga
A veia que cresce não é cajueiro
Todavia tem o vermelho do morango
Tem verde e tem azul
Amarelo, vai lá saber
A água que corre é de beber
Este é meu sentido.
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Primavera | Poesia
Quero sombra e água fresca
Quiça uma rede para deitar
Frutos doces para saciar minha sede
Um córrego para banhar meus pés
Quero o conforto de um dia de sol
É provável que chova
(as flores agradecem)
Mas hoje não
Quero o calor em minha pele
Olhar o tempo passar
Talvez eu me torne uma árvore
Crie raízes
Fique em um só lugar
Adoraria ter galhos frondosos, braços
Extendidos em direção ao céu
Quem sabe um dia,
Alguém sente à minha sombra
Admire as minhas flores
Coma dos meus frutos
E sinta algo bom.
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Esperança | Poesia
Pela janela vejo um sinal de esperança
O mar, refletido no azul do céu,
E quando digo “o mar”
Eu quero dizer “a vida”
(Hoje em dia, poesia tem que se explicar)
Sim, um pouco mais triste
Ao menos para nós
Foi-se Martinho, foi-se a Fernanda
A Dona Adelaide, o seu Alcyr!
Que, só a família, e
Alguns amigos, conheciam
Não importa, o mundo fica mais triste
No momento de uma partida
Quem dera ainda tivêssemos viagens à navio
Acenar com um lenço o barco sumindo na distância
Poder dizer adeus ao menos uma vez mais
Memórias, de um passado distante
Um dia, seremos nós
Mas nesse momento
(Enquanto você lê esse texto)
Está nascendo a Samira
Um dia vai virar professora, poetisa
Talvez médica, espero que seja mãe
Continuar o ciclo da vida
Contribuir para o azul do céu
Faz bem fazer o bem
E enquanto existir algo a se plantar
Há Esperança.
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A Menina Sem Estrela | Poesia
Olha você. Eu. Não era pra ser. Nasci prematura. Infintamente miúda. Sem movimento. Sequer podia respirar. Incapacitada. Um alma. Dentro de um casca quebrada. Escorrendo.
Meu pai perguntou: “Há esperança? Quero a verdade, nada mais”. “Não”, disse o médico.
Essa era a minha vida. Nada para dar. Além de minha presença. Um peso. Um fardo. Numa cadeira de rodas... pra facilitar a movimentação. “Carrega a Daniela.”
Meus olhos azuis não tinham vida. Olhos negros. Como os de cegos. Numa história escrita pelo meu pai.
A morte numa família é um peso para todos. Quem morre, se vai. Mas o que fica é dividido. Entre todos os restantes. Somente em alguns casos, quando já se está perto do fim, é um alívio.
Carregam o corpo. Os familiares. Talvez alguns amigos. Depositam em cova profunda. Uma oração e algumas palavras. Por cima, terra solada. Uma bonita lápide. Depois, é com o tempo. Quiça um dia, conseguem esquecer.
Eu fiz Nelson chorar. Eu fiz Nelson Rodrigues chorar. Sabe você o que é isso? Sabe você o que é vexar o “anjo pornográfico”? E não foi lágrima escondida não. Lágrima transviada por lenço posto de volta no paletó. Eu fiz ele chorar copiosamente. Soluços ouvidos por todo o edifício. Lágrimas sem retorno. Como um rio que deságua no mar. Ele não sabe. Mas eu sei.
Eu. Um corpo numa cadeira. Transformei a vida ao meu redor. Fiz minha avó. Uma senhora. Personagem de colunas sociais. Subir de joelhos. Os 365 degraus, da Igreja da Penha.
Minha mãe. Todas as noites. Também ajoelhada. Massageando minhas pernas sempre geladas. Devido à má circulação. Meu pai. Todas as noites. À observar.
Jantar na minha casa era à luz de velas. Um funeral adiantado. Todos aguardavam. Ansiosos. O dia de minha prematura partida.
Mas nem tudo era tão triste. A oposição e a adversidade também tem a sua verdade. Elas uniram meu pai e minha mãe.
União. Fundada na solidão de quem enfrenta uma batalha. Eu era uma causa. Um propósito. Uma missão. Comigo por perto, minha mãe pôs meu pai na linha. O convênceu a usar óculos. Tentou que ele abolisse os suspensórios. O ensinou a tomar banho direito. E às vezes, ela entrava no chuveiro, para que eles se lavassem juntos. Purgavam seus pecados. Uma forma... de amor.
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