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Para além da orelha - um podcast de leituras de crônicas, poemas e reflexões.

Para além da orelha ana paula dacota

    • Arts

Para além da orelha - um podcast de leituras de crônicas, poemas e reflexões.

    Testamento - Trilha sonora do booktrailler "A mão é uma pista de voo"

    Testamento - Trilha sonora do booktrailler "A mão é uma pista de voo"

    "Testamento" é de autoria de Lula do Prado. Na interpretação dele, os poemas do livro "A mão é uma pista de voo" soam como um legado positivo desse momento ruim que atravessamos. O título do poema "Quando fizer sol me encontre em lá" foi o mote que o inspirou, por fazer referência a três notas musicais: Sol, Lá e Mi (me). A música se desenvolve no tom de Mi maior, mas, para a introdução iniciada em Lá, ele criou uma frase musical que é a reprodução do título desse poema, tocando as notas referências (Sol, Mi e Lá) no momento em que elas são lidas na frase escrita.



    Curta essa bela composição!

    • 2 min
    Meu jardim

    Meu jardim

    meu jardim

    se queres adentrar

    meu jardim

    converta-se em criança

    ajoelhe-se na terra

    deite-se no chão

    olhe o mundo

    de baixo para cima

    rasteje junto às formigas

    observe-as entrando

    no subterrâneo

    onde a vida acontece

    depois vem cheirar as flores

    e lamber o orvalho

    que a noite deixou nas pétalas



    (Ana Paula Dacota - no prelo da antologia "Não nos afastemos, escrevamos" )

    • 47 sec
    Moça que sabe de si - na voz de Adriana Versiani dos Anjos

    Moça que sabe de si - na voz de Adriana Versiani dos Anjos

    é mulher arredia

    com o agravante

    de falar com os olhos

    seus silêncios

    são mal interpretados

    e quando ri

    é sem medida

    é mulher intensa

    feliz só por ser humana

    problemática assumida

    singularidade aviltante

    por ser assim e assado

    assusta

    o atrevido que se arrisca

    acaba perdendo os botões

    da camisa



    Autora: Ana Paula Dacota



    (do livro: Perfume atrás da orelha, Edições Alma de Gato, Scriptum, 2019)

    • 32 sec
    Ana Cristina Cesar - Quase

    Ana Cristina Cesar - Quase

    quase

    uma tarde cremosa.

    coração, bates; como quem está amoroso ou precisando

    escrutinar páginas virgens.



    há um outono lânguido tiquetaqueando por entre nuvens de lentidão;

    há um casal de andorinhas se buscando entre antenas e para-raios;

    há um homembinóculo de camisa azul, no alto de um

    terraço, violentando janela por janela;

    vozes surrealistas de crianças levantam voo por detrás de um

    varal; um urubu solitário espirala, talvez à cata de

     carniça entre o crepúsculo.



    os sonhos que rabiscam velhos mares não são mais daquela finidade antiga; e ser, nesta meia-hora,

    é descascar sem muita pressa, é interpretar nuances de magia.



    que mistério engravida esta cidade?



    ana cristina

    30.3.69

    17:30

    Anos 1960-70



    (do livro: antigos e soltos - 2008)

    • 1 min
    Clarice Lispector - É para lá que eu vou

    Clarice Lispector - É para lá que eu vou

    Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto – é para lá que eu vou.
    À ponta do lápis o traço.
    Onde expira um pensamento está uma ideia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia – é para lá que eu vou.
    Na ponta dos pés o salto.
    Parece a história de alguém que foi e não voltou – é para lá que eu vou.
    Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. É para lá que eu vou.
    Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra “tertúlia” e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois – depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio. Não sei sobre o que estou falando. Estou falando do nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.

    É para o meu pobre nome que vou.
    E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
    À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
    Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
    Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
    Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.

    — Clarice Lispector, no livro “Onde estivestes de noite”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

    • 3 min

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