3 episodes

Poeta, cronista, ensaísta. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

Boletim Parnaso Anderson C. Sandes

    • Arts

Poeta, cronista, ensaísta. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

    Arte e utilitarismo | Boletim Parnaso #01

    Arte e utilitarismo | Boletim Parnaso #01

    No programa de hoje, Anderson C. Sandes discute os fins utilitários da arte e suas possibilidades. Afinal, a arte é útil ou não? Assine o Boletim Parnaso: https://andersonsandes.com.br/boletim

    • 28 min
    O pequeno gigante | Poema

    O pequeno gigante | Poema

    Pequeno gigante, Anderson C. Sandes



    O homenzinho que ora
    simula um colosso
    faz sua pose desajeitada



    Cheio de vazio na garganta,
    fala de modo raso
    de tudo que é profundo



    Alguém elogiou o personagem — o colosso
    e o homenzinho agradeceu
    alardeando modéstia



    Não quer subir
    nos ombros dos gigantes,
    quere-os nos seus



    Vai à noite dormir sem fôlego,
    suspirando de amores
    pelos livros que não leu



    Com um cantarolar anasalado
    daquela bela canção
    que nunca ouviu



    Às pressas faz uma prece:
    — que me perdoe o perfeccionismo,
    amanhã tento melhorar



    Acaba sonhando consigo mesmo,
    em preto e branco,
    pois é o que alcança a imaginação



    do grande homenzinho,
    que de comprido
    só a lista do que não cumpriu.

    • 1 min
    O velho Emílio | Poema

    O velho Emílio | Poema

    O velho Emílio

    Anderson C. Sandes

    In memoriam de Emílio Cordeiro de Lima



    Jaz a lua minguante

    Sobre a serena garoa

    Que pega fúria

    Horas depois da viração

    Emílio levanta clamando por Maria

    — Ali outra goteira, traz o balde

    Sinto o cheiro de querosene

    Queimando no candeeiro

    Oh! que agradável, ah!

    Dane-se a minguada lua

    A miserável e tímida

    Obscurecida agora pelo toró

    Que faz pingar o telhado

    O velho raspa o fumo co’a

    Navalha, repousa-o na seda

    Fita um lugar p’ra cuspir

    Antes do trago

    Em julho as pernas doem mais

    A coluna entreva

    Mas deixa estar

    Balança a garrafa

    Em busca de café

    — Maria, Maria

    Alumia a rede

    Onde finge dormir o neto

    Que a tudo observa

    A meia luz e meio olhar

    Escondendo o sorriso

    O velho, por sua vez

    Não disfarça a graça

    — Deixa eu deitar aí

    — Venha, vô

    Digo não mais ocultando o riso

    — Tenha medo não

    Diz, referindo-se às trevas

    Entrego a rede como oferenda

    E a passos largos

    Vou ao pote de barro buscar água

    Um trovão bambeai-me as pernas

    E penso em voltar

    — Tenha medo não

    Brada a voz pelas sombras

    Pura carícia

    Levo o caneco direto

    À boca, sem despejar em outro

    Ninguém está vendo

    Volto tateando, veloz

    Destreza de frouxos

    — Tenha medo não

    Três ou quatro baldes

    De goteira engrossam

    A noturna sinfonia

    Perfeita para o repouso

    Vem Maria do leito

    Perplexa e supersticiosa:

    — Ouviram? A rasga mortalha

    — Misericórdia

    O silêncio reinou

    (...)

    Ainda sinto o cheiro do querosene

    Do candeeiro de vovô

    Aquela rasga mortalha

    Vez ou outra passa por cima

    De meu telhado

    Aprendi a amar seu canto

    Recorda-me tudo

    Cada luar

    Cada pingo

    Cada cuspida antes do trago

    O velho pote d'água

    O caneco amassado

    Tudo permanece aqui dentro

    Por causa do velho

    Emílio

    Que descansa em paz

    • 2 min

Top Podcasts In Arts

Fresh Air
NPR
The Moth
The Moth
99% Invisible
Roman Mars
McCartney: A Life in Lyrics
iHeartPodcasts and Pushkin Industries
Fantasy Fangirls
Fantasy Fangirls
Snap Judgment Presents: Spooked
Snap Judgment