11 min

O TEATRO DE CHOCOLATE Da Boca para os ouvidos, passando pelo Teatro Viriato

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Conto de Patrícia Portela, a partir do conto “Hansel e Gretel” dos Irmãos Grimm

Lido por Gaspar Machado Gomes





Era uma vez uma família peculiar que vivia num planeta onde mal se podia viver. As geadas davam cabo  das searas, as cheias e os incêndios destruíam os campos e cidades, as ondas de calor e de frio matavam os  mais velhos e fechavam os mais novos em casa.

Esta família, como tantas outras, tinha insónias, e à noite, alguns davam voltas na cama, enquanto

elaboravam formas de se sustentar e de sobreviver às intempéries. Mas enquanto outras famílias decidiam  partir para outros lugares, mudar de emprego, duplicar os turnos e os trabalhos ou assaltar bancos para  melhorar o nível de vida, esta família peculiar teve uma ideia peregrina:

- Ó Zé, e se abandonássemos os nossos filhos à sua sorte, no meio da floresta? Acendemos-lhes uma  fogueira, damos-lhes um bocadinho de pão, dizemos que já voltamos e nunca mais aparecemos.

O Zé, que apesar das costas partidas, de um dedo amputado e duas úlceras, ainda tinha um bocadinho de  coração, hesitou, mas logo a Elvira o confortou com argumentos imbatíveis:

- Então vamos morrer os quatro para não deixar morrer dois, que nem sequer podem ajudar na labuta por  causa das malditas leis contra o trabalho infantil?

O Zé encolheu os ombros, o rabo entre as pernas, e concordou com o plano.

Mas porque a fome não deixa só os crescidos insones, João e Maria, no quarto ao lado, ouviram o plano  maquiavélico dos pais. Mas não se deixaram ir abaixo. Encheram os bolsos de pedrinhas e, de manhã, já eles estavam preparados. (...)

Conto de Patrícia Portela, a partir do conto “Hansel e Gretel” dos Irmãos Grimm

Lido por Gaspar Machado Gomes





Era uma vez uma família peculiar que vivia num planeta onde mal se podia viver. As geadas davam cabo  das searas, as cheias e os incêndios destruíam os campos e cidades, as ondas de calor e de frio matavam os  mais velhos e fechavam os mais novos em casa.

Esta família, como tantas outras, tinha insónias, e à noite, alguns davam voltas na cama, enquanto

elaboravam formas de se sustentar e de sobreviver às intempéries. Mas enquanto outras famílias decidiam  partir para outros lugares, mudar de emprego, duplicar os turnos e os trabalhos ou assaltar bancos para  melhorar o nível de vida, esta família peculiar teve uma ideia peregrina:

- Ó Zé, e se abandonássemos os nossos filhos à sua sorte, no meio da floresta? Acendemos-lhes uma  fogueira, damos-lhes um bocadinho de pão, dizemos que já voltamos e nunca mais aparecemos.

O Zé, que apesar das costas partidas, de um dedo amputado e duas úlceras, ainda tinha um bocadinho de  coração, hesitou, mas logo a Elvira o confortou com argumentos imbatíveis:

- Então vamos morrer os quatro para não deixar morrer dois, que nem sequer podem ajudar na labuta por  causa das malditas leis contra o trabalho infantil?

O Zé encolheu os ombros, o rabo entre as pernas, e concordou com o plano.

Mas porque a fome não deixa só os crescidos insones, João e Maria, no quarto ao lado, ouviram o plano  maquiavélico dos pais. Mas não se deixaram ir abaixo. Encheram os bolsos de pedrinhas e, de manhã, já eles estavam preparados. (...)

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