Calango Sagrado Calango Sagrado
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- Educação
Um podcast para falar sobre estudos da religião, história, mitologia antiga, livros, séries, filmes e temas ligados à espiritualidade e à linguagem.
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Hillazon-Tekhelet: Azul da cor do mar
Entre essas culturas do Mediterrâneo e do Levante houve um momento em que era difícil a
separação das cores púrpura e o tekhelet. Sendo que a primeira cor ficou com o
uso restrito a quem pudesse pagar e durante os vários impérios da antiguidade,
apenas a alta nobreza e posteriormente o uso fica exclusivo à realeza e ao
palácio.
Na cultura dos hebreus essa cor sofreria algum tipo de especificidade para diferenciar-se dos
demais tons de lilás dos cananeus da famosa cidade de Tiro que aprenderam dos outros
povos do Mediterrâneo a extração de um pigmento de um caracol, o conhecido Murex
Trunculus que estava presente por toda a costa mediterrânea. Deste caramujo era
extraída a cor púrpura que logo ficou restrita e relacionada à realeza e à
nobreza.
O processo de separação cultural, linguística, dietética e de elementos políticos dos povos
cananeus e dos antigos hebreus envolveu um período de rejeição da cultura
original do Levante, adaptação e apropriação com fatores diferenciados da
cultura de origem. Nesse processo de apropriação houve a criação de histórias e
mitologias que justificassem essa separação e distinção dos hebreus de seus
vizinhos. Esse processo também envolveu historiografia e historiosofia que
pudesse explicar tal distinção. Essa diferença não podia meramente acontecer
por razões humanas, era preciso haver algo divino, fora do comum para que as
gerações futuras não se aproximassem dos cananeus.
No períodopós-exílio quando o texto do Pentateuco foi compilado e organizado, uma das
ordenanças da classe sacerdotal, os prováveis redatores da Torá. Os textos da
Torá, marcam especificamente várias dessas diferenças dos hebreus com os outros
povos cananeus, e relatam o possível porquê, como ordem divina para estas
distinções. Voltando ao tema de nobreza e elite que nesse tempo eram compostos
necessariamente pela classe sacerdotal e uma elite que coordenava e financiava
a redação dos texto era que os sacerdotes usassem um tecido com uma que
representasse o azul messiânico.
Criaram-se várias histórias sobre a origem desse azul messiânico,
como a cor preferida do rei Davi, além de ser também a cor do trono do “Din”
(julgamento) e simboliza o Shamayim (céus) pois, seria dessa mesma cor o trono
de Javé. Os diversos tons de azul, mudam de acordo com cada escola de
pensamento judaico. Em suma, esse azul messiânico e exclusivo dos hebreus, o
tekhelet estava associado à realeza e à classe sacerdotal, que no pós-exílio
também ocupou a função real/política nesse “novo Israel.” Até que chegassem os
romanos, e instituíssem que esse azul, agora conhecido como púrpura seria
exclusividade da nobreza romana. Os judeus, agora colonizados, não condiziam
com o status de exclusividade para usar a tal cor. Por volta do século 5 E.C.
Apenas o imperador podia usar a cor púrpura, no que ficou conhecido como a lei
suntuária, o Sumptuariae leges.
Textos extra bíblicos como a mishnah, o talmude e reflexões de Maimônides trataram de
explicar alguns dos mandamentos da Torá que apresentam esse azul messiânico.
Bem como a sua origem, o mítico animal Hillazon. Como um segredo que perde pela história o Hillazon desapareceu e com
ele a esperança do cumprimento do estabelecimento do reino sacerdotal com o azul
messiânico e o trono de Javé.
No final do século 19 um rabino polonês seguiu em sua busca pelo Hillazon e pelo azul
messiânico. Esse rabino chegou a dizer que sem que houvesse as roupas
sacerdotais com o azul messiânico, tekhelet, o Messias não podia chegar. E ele
como Elias, em sua busca estava preparando o caminho para a construção do
terceiro templo e o estabelecimento do reino sacerdotal comandado pelo Messias
e seu trono azul, tekhelet.
Mas o que era o Hillazon? Como todo o segredo antigo a ser decifrado, a busca pelo animal que
supostamente traria o Messias, teve suas controvérsias e m -
Nephilim - Gigantes pela própria natureza
הָאֱלֹהִים אֶל-בְּנוֹת הָאָדָם, וְיָלְדוּ לָהֶם: הֵמָּה
הַגִּבֹּרִים אֲשֶׁר מֵעוֹלָם, אַנְשֵׁי הַשֵּׁם. {פ}
(Bíblia Hebraica – Texto Massorético)
“Os Nephilim estavam sobre a terra e aconteceu que os
filhos de Deus [Elohim] deitaram-se com as filhas do homem e geraram filhos:
eles são os herois, homens de renome.”
tradução de Gênesis 6:4 de Robert Alter. (versão em português, tradução livre)
Estamos no episódio 4 de nossa série Monstros Bíblicos. No episódio de hoje falaremos sobre os Nephilim. No mundo antigo em diversas culturas havia
uma história sobre um dilúvio que inundou o mundo conhecido. A criação de
histórias e mitos, na maioria das vezes serve como um recurso linguístico para explicar
uma narrativa, e lidar com o imaginário de povos e culturas distintas.
A construção de histórias precisa de sustentação narrativa e também de justificavas para entrar no mundo
da oralidade, onde verossimilidade poderia ser apenas um simples detalhe. No
mundo do folclore/mitologia dos antigos hebreus também era assim. A história do
dilúvio precisa encontrar um mote que fizesse sentido à audiência hebreia,
permeada naquele momento pela idealização moral de uma desordem cósmica que
apenas Javé, e Javé somente, era capaz de reordenar.
Não entraremos nos motivos teológicos do dilúvio (campo dogmático), mas apenas no recurso narrativo,
folclórico onde uma das justificativas para tal evento cataclísmico seria a
união sexual entre um grupo de seres celestes e mulheres. Os B’nei Elohim, traduzido
como “anjos” em algumas versões, são seres que podem habitar o mundo dos
deuses, não necessariamente anjos, no sentido em que entendemos hoje em dia.
A história dos Nephilim é contada
e recontada com mais propriedade na literatura apócrifa do período que
conhecemos como judaísmo do segundo templo. Essa religião do segundo templo
absorveu com mais ênfase aspectos do pensamento persa, egípcio e o próprio
folclore hebreu/cananeu antigo é retomado e revisto. A relação causa e efeito
agora torna-se uma constante na explicação de fenômenos históricos, onde o
metafisico entra no mundo físico. Numa área conhecida, como historiosofia,
aquilo que está por trás das histórias contadas.
Os livros de Enoque (1Enoque) e o Livro do Jubileu são
literaturas que mencionam a possível origem dos Nephilim. Na literatura
enoquita está escrito que 200 seres celestes, chamados de sentinelas coabitaram
com mulheres e geraram os Nephilim. Esses seres, sentinelas, também ensinaram
às mulheres a mística, encantamentos e como usar plantas e raízes para a cura,
além da arte das pinturas, adereços e cosmética. O livro canônico de Daniel também
apresenta a palavra sentinela para referir-se a uma classificação de ser
angelical. O livro de Enoque relata ainda que os sentinelas foram punidos,
aprisionados em correntes num abismo e no Dia do Messias, serão julgados e
condenados.
No Livro dos jubileus é relatada a suposta origem, caráter e julgamento dos nephilim. No dia do juízo final.
O desenvolvimento da história narrada no livro diz que os espíritos deles transformaram-se em demônios. O Livro do
jubileu também confirma a tese que a presença da maldade dos nephilim causou um
desiquilíbrio cósmico na criação e Javé não teve uma alternativa a não ser o
dilúvio que destruiria o avanço dessas criaturas. A presença dos Nephilim no
mundo traria a maldade e segredos que os humanos não poderiam saber.
Na narrativa bíblica parece existir descendentes dos nefilim ainda em terras cananeias a serem conquistadas,
na contação de história do êxodo e os habitantes de Canaã e até no mítico embate
do jovem Davi e o famoso gigante Golias. Seriam os nefilim, gigantes ou apenas
homens sanguinários? De todos os modos, estamos vendo nessa série que alguns
dos m -
Ziz - A cacatua de Javé
Ziz (זיז) (Salmos
50:11)
יאיָדַעְתִּי כָּל־ע֣וֹף הָרִ֑ים וְזִ֥יז שָֹ֜דַ֗י עִמָּדִֽ
“Eu conheço
todas as aves das montanhas e as Ziz dos campos [são] minhas.” (tradução minha)
Estamos em nosso terceiro episódio da série monstros bíblicos e hoje vamos falar de um
dos pets de Javé menos conhecidos, a ave Ziz.
“Aconteceu uma vez que um
viajante em sua embarcação viu um pássaro. Quando essa ave se levantou das águas,
as águas cobriam apenas suas pernas e sua cabeça tocava o céu. Os que a viram
pensaram que as águas não eram profundas naquele ponto e pensaram que podiam se
banharem ali. O pássaro que os viajantes viram, não era outro, se não o Ziz.
Suas asas são tão grandes que podem encobrir a luz do sol. Elas (asas) protegem
a terra contra os ventos do sul; sem a ajuda das asas de Ziz a terra não seria
capaz de resistir aos ventos que sopram do sul. O fluido delas uma vez inundou
sessenta cidades e o seu revoar destruiu trezentos cedros”.
( Haggadot judaica-Tradução
livre)
Ziz é um animal grifo da mitologia judaica, é dito que com suas asas é capaz de cobrir a luz do
sol. É uma das bestas primevas criadas por Javé e domina sobre os céus e seus
dois consortes Leviatã e Behemoth governam sobre as águas e a terra
respectivamente.
Ziz foi também criado no quinto dia, juntamente com as outras bestas primevas. Ziz era quem
dominava os céus. Pode ter tido influência das histórias sumério-acadianas,
assírias, e até mesmo dos persas. Em histórias como a de Lamassu, que era uma
divindade feminina protetora, representada em amuletos, portais e palavras de
encantamento.
Na mitologia suméria havia uma divindade híbrida homem-pássaro chamada Anzu, que pode também
ter dado origem a Ziz. Anzu era o guardião dos céus e a personificação dos
ventos do sul. Anzu causava medo e terror em muitos deuses e apenas o poderoso
deus Marduk foi capaz de derrotar a grande ave. Anzu aparece em embates na
Epopéia de Gilgamesh. Anzu pode ter sido a narrativa influenciadora para a
fênix grega bem como de Ziz, na mitologia hebreia.
A figura bíblica/hebraica dos querubim também podem ter tido influência na língua acadiana-suméria, a
palavra que deu origem pode significar: portador de bençãos, e tinham um papel
protetor, tais como os leões chineses presentes até os dias de hoje em vários
lugares na China nas entradas de cidades e locais importantes.
As histórias contadas da mitologia sumério-acadiana espalharam-se desde o crescente fértil,
à península arábica e chegaram até ao levante mediterrâneo.
Na sua função linguística mitológica em um determinado momento Ziz, simbolizou o império
persa e a sua religião, o zoroastrismo. A religião persa, assim como as
histórias do império acadiano, influenciou vários povos, inclusive mitologias
hindus como a ave mitológica garuda, símbolo de países como a Indonésia, nos
dias de hoje.
Ziz assim como Leviatã e Behemoth estará presente no Dia do Messias, será parte do banquete
servido aos justos por Javé. Diferentemente de Leviatã e Behemoth a Ziz foi
mantida a capacidade de procriação. É dito que Ziz punha ovos e uma vez um de
seus ovos quebrou e com o líquido desse ovo, sessenta cidades foram destruídas.
A extensão das asas de Ziz era tão grande que podia cobrir toda a terra e
encobrir a luz do sol.
Ziz controla os ventos, as aves dos céus e causa tempestades. Controlando elementos da natureza
e destruindo cidades inteiras com um simples revoar de suas asas. -
Leviatã - o dragão pet de Javé
Episódio 2 - Leviatã
Leviatã (לִוְיָתָן)– É um animal mitológico que aparece em 6 passagens na Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) Jó
3:8; 41:1; Isaías 27:1, 51:9 (dragão); Salmos 74:14; 104:26.
Alusões a esse animal também aparecem em Amós, Ezequiel e no Novo Testamento em Apocalipse.
Os babilônios acreditavam que o mito cosmogônico da origem dos céus
e da terra (Babilônia) foi a luta entre o jovem deus Marduk vence ao dragão marinho
que habita nas profundezas das águas do mar, Tiamat. Tiamat era uma besta marinha
que simboliza a desordem, o caos e criava deuses maus o que causava um desiquilíbrio
na ordem cósmica. Marduk vence a Tiamat e partir de seus restos mortais cria os
céus e a terra (Babilônia).
Os cananeus em sua visão de criação também possuem uma luta cósmica
de Yam e Baal. Baal num acesso de raiva e ciúmes pela predileção de El a Yam.
Baal convence sua mãe a deusa Asherah e com o apoio do deus artesão/fazedor-de-armas
Kothar que com suas armas mágicas o ajuda derrotar Yam, o monstro marinho que simbolizava
o caos e a desordem. Baal derrota Yam, ocupando a posição de controle e poder,
mais tarde usurpando um lugar de destaque no panteão ugarítico.
Apesar de serem histórias e cosmogonias distintas, a visão de mundo
dos povos mesopotâmios, cananeus e posteriormente hebreus compartilham alguns paralelos
de que o mundo das profundezas das águas representa o caos, a desordem algo a
ser vencido. No campo dos estudos das religiões esse tema de luta cósmica como
o Chaoskampf dentro da área de estudos dos povos do Antigo Oriente Próximo
(ANE), ou Sudoeste Asiático.
O pensamento da antiga religião dos hebreus pode ter sido
influenciado por outros mitos fundacionais e utilizando-se de historiosofia para
explicar a sua origem, mas também um conceito que se desenvolveria ao passar do
tempo, o fim da história. A linguagem apocalíptica, apresenta uma série de cataclismos
atribuídos novamente a embates entre forças dessa vez políticas, com vendetas aos
inimigos dos povos hebreus e recompensas aos justos e injustiçados hebreus,
seguidores do deus combativo Javé.
Leviatã é um desses inimigos símbolos do mal, do caos, do incontrolável,
desconhecido que no pensamento hebreu foi criado no quinto dia da criação por
Javé, junto com outros animais. Com um corpo extremamente brilhante,
especialmente seus olhos, Leviatã tem o poder de “iluminar” as densas
profundezas do mar. Foi criado junto com a sua contraparte Behemoth, e ambos
foram esterilizados para não procriarem e assim não causarem dano à criação de
Javé. Javé os mantém sob controle e nos Dias do Messias haverá uma outra luta cósmica
onde os justos praticarão o esporte de caça a Leviatã e esse será o passatempo
dos justos.
O anjo Gabriel será empregado da tarefa de exterminar a Leviatã, mas
dada a sua menor força diante da besta marinha, Javé usará sua espada e extirpará
a Leviatã. Javé usará a pele de Leviatã para construir uma tenda para que os
justos usem no banquete que significará o início do reinado do Messias. A carne
de Leviatã abastacerá os mercados de Jerusalém. Com a pela da besta derrotada,
Javé fará adornos e roupas para os justos e a pele que sobrar será estendida no
muro da cidade de Jerusalém e o brilho dessa pele iluminará o mundo inteiro,
como um testemunho do governo de Javé e seu Messias. Essa história está descrita no Livro de Enoque
e no livro de 2 Esdras 6:49, além do livro de orações judaicas, o Siddur.
Leviatã é um dos pets de Javé. Ao mesmo tempo que representa o caos, a tirania e o poder político
dos inimigos dos hebreus. É um impedimento ao reinado do Messias, com suas
muitas cabeças. A serpente tortuosa, astuta e poderosa que pode comprometer a
harmonia dos justos. Representa o começo e o fim da história, no mundo mitológico
dos monstros bíblicos. No Apocalipse do Novo testamento, o dragão, é derrotado in -
Behemoth - A besta indomável
Série Monstros Bíblicos
Episódio 1 - Behemoth
Behemoth (בהמות) – É um animal mitológico queaparece no livro de Jó 40:15-24. Pesquisadores tentam encontrar paralelos fora
dos textos bíblicos sobre esse animal mitológico relacionando-o com um
hipopótamo, uma espécie de mamute-elefante, ou até mesmo um dinossauro. Era desconhecido do público ocidental até por
volta do século 18 quando os textos bíblicos começaram a ser lidos de maneira
mais crítica.
O substantivo masculino plural (o dito plural majestoso) Behemoth em hebraico, pode ser
traduzido como algum tipo de animal bovino. O sufixo (moth) indica gênero
masculino ao substantivo em sua forma plural. Esse substantivo/nome não aparece
em nenhuma outra literatura antiga, a não ser os textos bíblicos em seu gênero
literário, mitologia-poética.
Behemoth não tem paralelo direto com o Touro Celeste que aparece no Épico de Gilgamesh e nem com os “Homens-touro”
da Mesopotâmia (Assíria). O paralelo mais próximo é com Atik-Ars(h), o Bezerro
de El. São mitologias distintas, mas os seres apresentam algum paralelo.
O texto
ugarítico diz: (Tradução livre)
“Eu derrubo a
serpente tortuosa, a poderosa com sete cabeças. (41:42)
Eu derrubo
Ars(h), o amado de El. Eu destruí Atik, bezerro de El. (43-44)
Eu derrubo
Fogo, cão de El. Eu aniquilo Chama, filha de El.” (45-47)
KTU 1.3 III.41-47
Ainda no texto
ugarítico KTU também está escrito:
KTU 1.6
50: No mar
estão Ars(h) e o dragão,
51: Que
Kothar-ha-Hasis os afugente.
52: Que
Kothar-há-Hasis os despedace.
KTU 1.6 – Ugarit – Museu do Louvre.
Behemot é o par masculino de outro ser que falaremos no próximo episódio: Leviatã. Behemot na
literatura apocalíptica judaica é descrito como um animal caótico. Javé,
impediu que o mesmo procriasse com Leviatã, pois o fruto desse acasalamento
seria a destruição da criação de Javé.
No livro de 1 Enoque Behemoth foi o primeiro animal a caminhar sobre a terra recém criada.
Ainda no livro de Enoque é descrito que Behemoth habita num deserto invisível a
leste do Jardim do Éden, o deserto de Dendayen.
“ E naquele dia,
se separarão dois monstros; uma fêmea chamada Leviatã, que habita nas
profundezas das águas, acima das fontes das águas; E um macho chamado Behemoth;
que com seus peitos, ocupará um deserto
invisível, chamado Dendayen ao leste do jardim, onde os justos e eleitos
habitarão...”
(Livro de 1 Enoque 58:7-9) – Tradução Minha
O Livro de orações judaicas o Siddur, traz
uma oração/profecia para o Dia de Javé.
“Leviatã e Behemoth se engancharão com os
seus chifres... Seu Criador se aproximará e com a sua espada poderosa matará a
ambos. Assim, do lindo couro de Leviatã Javé construirá as tendas para abrigar
o justo, que comerá da carne de Leviatã e Behemoth com alegria e regojizo em um
enorme banquete que será dado aos justos e eleitos”.
(Siddur,
P.719) Tradução Livre
Behemoth nas lendas antigas de cosmogonias é um par mítico de Leviatã que simboliza o caos
das águas. Behemoth, simboliza um caos na terra, na natureza. Uma força que se
descontrola trazendo destruição, derramamento de sangue e extinção de outras
espécies. Dada sua agressividade vive fora do convívio da humanidade, num
deserto mítico enorme. Faz parte da categoria dos pets de Javé.
Na cultura pop Behemoth é descrito através de jogos de vídeo-game, de bandas de rock e de
confrontos bestiais como no épico embate com Godzilla. Behemoth tornou-se
também um adjetivo que significa algo enorme, de proporções monstruosas.
Referências Bibliográficas
Introdução à
teologia do templo – Margaret Baker
O profeta
perdido: O livro de Enoque e sua influência sobre o cristianismo – Margaret Baker
Introdução ao
misticismo do templo – Margaret Baker
King of the
Jews: Temple Theology in -
Intro - Série Monstros Bíblicos
Por Wellington Barbosa*
As histórias que nos contam remontam um tempo analógico onde o imaginário
ditava os limites do consciente daquilo que era humano e não-humano. Nesse episódio
introdutório falamos sobre o mundo que detalharemos na Série Monstros Bíblicos.
Contudo, antes de entrar no mundo bíblico em si, faz-se necessário remontar ao
mundo da contação de histórias que permeiam nossas culturas desde os tempos mais
remotos e que influenciaram diversos gêneros literários desde o passado até os
dias de hoje.
Em nossa série sobre monstros bíblicos falaremos de homens que cruzaram
a barreira dessas histórias onde o não-humano, invade o mundo humano,
conhecido. Onde a mitologia transpassa o limite do imaginário, e homens saíram
de suas vilas, cidades, templos e jardins para o mundo das criaturas, deuses,
heróis, vilões, anjos e demônios.
Vamos juntos nessa viagem ao mundo bíblico e encontrar monstros e
criaturas que permearam a fé, as histórias, a ideologia e a cosmologia do livro
mais vendido do mundo.
Espero você nessa jornada. É bom estar de volta.
Referências Bibliográficas:
Tratado da História das Religiões – Mircea Eliade
O Sagrado e o Profano: A essência das religiões – Mircea Eliade
História das crenças e das ideias religiosas: Volume 1: Da idade da pedra aos
mistérios de Elêusis – Mircea Eliade
Introdução à teologia do templo – Margaret Baker
O profeta perdido: O livro de Enoque e sua
influência sobre o cristianismo – Margaret Baker
Introdução ao misticismo do templo – Margaret Baker
King of the Jews: Temple Theology in John’s Gospel – Margaret Baker
Progress, Apocalypse and completition of
history and life after death of the human person in the world religionss: 4 – Peter Koslowski (Editor)
Wellington Barbosa é filólogo, linguista e teólogo. Licenciado
em letras: Português/Inglês. Graduado em
teologia. Mestre em Linguística Aplicada. É pesquisador na área da
linguagem e o ambiente mitológico/religioso/político. Sua pesquisa mais recente
é concentrada na área de Teologia do Domínio, fundamentalismos missionários e
de como grupos evangélicos utilizam a linguagem e o campo do imaginário para exercerem
controle politico/social. É professor de idiomas, e reside em Valência-Espanha.