11 episódios

Um podcast para falar sobre estudos da religião, história, mitologia antiga, livros, séries, filmes e temas ligados à espiritualidade e à linguagem.

Calango Sagrado Calango Sagrado

    • Educação

Um podcast para falar sobre estudos da religião, história, mitologia antiga, livros, séries, filmes e temas ligados à espiritualidade e à linguagem.

    Hillazon-Tekhelet: Azul da cor do mar

    Hillazon-Tekhelet: Azul da cor do mar

     

    Entre essas culturas do Mediterrâneo e do Levante houve um momento em que era difícil a
    separação das cores púrpura e o tekhelet. Sendo que a primeira cor ficou com o
    uso restrito a quem pudesse pagar e durante os vários impérios da antiguidade,
    apenas a alta nobreza e posteriormente o uso fica exclusivo à realeza e ao
    palácio.

     

    Na cultura dos hebreus essa cor sofreria algum tipo de especificidade para diferenciar-se dos
    demais tons de lilás dos cananeus da famosa cidade de Tiro que aprenderam dos outros
    povos do Mediterrâneo a extração de um pigmento de um caracol, o conhecido Murex
    Trunculus que estava presente por toda a costa mediterrânea. Deste caramujo era
    extraída a cor púrpura que logo ficou restrita e relacionada à realeza e à
    nobreza.

     

    O processo de separação cultural, linguística, dietética e de elementos políticos dos povos
    cananeus e dos antigos hebreus envolveu um período de rejeição da cultura
    original do Levante, adaptação e apropriação com fatores diferenciados da
    cultura de origem. Nesse processo de apropriação houve a criação de histórias e
    mitologias que justificassem essa separação e distinção dos hebreus de seus
    vizinhos. Esse processo também envolveu historiografia e historiosofia que
    pudesse explicar tal distinção. Essa diferença não podia meramente acontecer
    por razões humanas, era preciso haver algo divino, fora do comum para que as
    gerações futuras não se aproximassem dos cananeus.

     

    No períodopós-exílio quando o texto do Pentateuco foi compilado e organizado, uma das
    ordenanças da classe sacerdotal, os prováveis redatores da Torá. Os textos da
    Torá, marcam especificamente várias dessas diferenças dos hebreus com os outros
    povos cananeus, e relatam o possível porquê, como ordem divina para estas
    distinções. Voltando ao tema de nobreza e elite que nesse tempo eram compostos
    necessariamente pela classe sacerdotal e uma elite que coordenava e financiava
    a redação dos texto era que os sacerdotes usassem um tecido com uma que
    representasse o azul messiânico.

     

    Criaram-se várias histórias sobre a origem desse azul messiânico,
    como a cor preferida do rei Davi, além de ser também a cor do trono do “Din”
    (julgamento) e simboliza o Shamayim (céus) pois, seria dessa mesma cor o trono
    de Javé. Os diversos tons de azul, mudam de acordo com cada escola de
    pensamento judaico. Em suma, esse azul messiânico e exclusivo dos hebreus, o
    tekhelet estava associado à realeza e à classe sacerdotal, que no pós-exílio
    também ocupou a função real/política nesse “novo Israel.” Até que chegassem os
    romanos, e instituíssem que esse azul, agora conhecido como púrpura seria
    exclusividade da nobreza romana. Os judeus, agora colonizados, não condiziam
    com o status de exclusividade para usar a tal cor. Por volta do século 5 E.C.
    Apenas o imperador podia usar a cor púrpura, no que ficou conhecido como a lei
    suntuária, o Sumptuariae leges.

     

    Textos extra bíblicos como a mishnah, o talmude e reflexões de Maimônides trataram de
    explicar alguns dos mandamentos da Torá que apresentam esse azul messiânico.
    Bem como a sua origem, o mítico  animal Hillazon. Como um segredo que perde pela história o Hillazon desapareceu e com
    ele a esperança do cumprimento do estabelecimento do reino sacerdotal com o azul
    messiânico e o trono de Javé.

     

    No final do século 19 um rabino polonês seguiu em sua busca pelo Hillazon e pelo azul
    messiânico. Esse rabino chegou a dizer que sem que houvesse as roupas
    sacerdotais com o azul messiânico, tekhelet, o Messias não podia chegar. E ele
    como Elias, em sua busca estava preparando o caminho para a construção do
    terceiro templo e o estabelecimento do reino sacerdotal comandado pelo Messias
    e seu trono azul, tekhelet.

     

    Mas o que era o Hillazon? Como todo o segredo antigo a ser decifrado, a busca pelo animal que
    supostamente traria o Messias, teve suas controvérsias e m

    • 20 min
    Nephilim - Gigantes pela própria natureza

    Nephilim - Gigantes pela própria natureza

     

    הָאֱלֹהִים אֶל-בְּנוֹת הָאָדָם, וְיָלְדוּ לָהֶם:  הֵמָּה
    הַגִּבֹּרִים אֲשֶׁר מֵעוֹלָם, אַנְשֵׁי הַשֵּׁם.  {פ}

    (Bíblia Hebraica – Texto Massorético)

     

    “Os Nephilim estavam sobre a terra e aconteceu que os
    filhos de Deus [Elohim] deitaram-se com as filhas do homem e geraram filhos:
    eles são os herois, homens de renome.”

    tradução de Gênesis 6:4 de Robert Alter. (versão em português, tradução livre)

     

    Estamos no episódio 4 de nossa série Monstros Bíblicos. No episódio de hoje falaremos sobre os Nephilim.  No mundo antigo em diversas culturas havia
    uma história sobre um dilúvio que inundou o mundo conhecido. A criação de
    histórias e mitos, na maioria das vezes serve como um recurso linguístico para explicar
    uma narrativa, e lidar com o imaginário de povos e culturas distintas.

    A construção de histórias precisa de sustentação narrativa e também de justificavas para entrar no mundo
    da oralidade, onde verossimilidade poderia ser apenas um simples detalhe. No
    mundo do folclore/mitologia dos antigos hebreus também era assim. A história do
    dilúvio precisa encontrar um mote que fizesse sentido à audiência hebreia,
    permeada naquele momento pela idealização moral de uma desordem cósmica que
    apenas Javé, e Javé somente, era capaz de reordenar.

    Não entraremos nos motivos teológicos do dilúvio (campo dogmático), mas apenas no recurso narrativo,
    folclórico onde uma das justificativas para tal evento cataclísmico seria a
    união sexual entre um grupo de seres celestes e mulheres. Os B’nei Elohim, traduzido
    como “anjos” em algumas versões, são seres que podem habitar o mundo dos
    deuses, não necessariamente anjos, no sentido em que entendemos hoje em dia.

    A história dos Nephilim é contada
    e recontada com mais propriedade na literatura apócrifa do período que
    conhecemos como judaísmo do segundo templo. Essa religião do segundo templo
    absorveu com mais ênfase aspectos do pensamento persa, egípcio e o próprio
    folclore hebreu/cananeu antigo é retomado e revisto. A relação causa e efeito
    agora torna-se uma constante na explicação de fenômenos históricos, onde o
    metafisico entra no mundo físico. Numa área conhecida, como historiosofia,
    aquilo que está por trás das histórias contadas.

    Os livros de Enoque (1Enoque)  e o Livro do Jubileu são
    literaturas que mencionam a possível origem dos Nephilim. Na literatura
    enoquita está escrito que 200 seres celestes, chamados de sentinelas coabitaram
    com mulheres e geraram os Nephilim. Esses seres, sentinelas, também ensinaram
    às mulheres a mística, encantamentos e como usar plantas e raízes para a cura,
    além da arte das pinturas, adereços e cosmética. O livro canônico de Daniel também
    apresenta a palavra sentinela para referir-se a uma classificação de ser
    angelical. O livro de Enoque relata ainda que os sentinelas foram punidos,
    aprisionados em correntes num abismo e no Dia do Messias, serão julgados e
    condenados.

    No Livro dos jubileus é relatada a suposta origem, caráter e julgamento dos nephilim. No dia do juízo final.
     O desenvolvimento da história narrada no livro diz que os espíritos deles transformaram-se em demônios. O Livro do
    jubileu também confirma a tese que a presença da maldade dos nephilim causou um
    desiquilíbrio cósmico na criação e Javé não teve uma alternativa a não ser o
    dilúvio que destruiria o avanço dessas criaturas. A presença dos Nephilim no
    mundo traria a maldade e segredos que os humanos não poderiam saber.



    Na narrativa bíblica parece existir descendentes dos nefilim ainda em terras cananeias a serem conquistadas,
    na contação de história do êxodo e os habitantes de Canaã e até no mítico embate
    do jovem Davi e o famoso gigante Golias. Seriam os nefilim, gigantes ou apenas
    homens sanguinários? De todos os modos, estamos vendo nessa série que alguns
    dos m

    • 21 min
    Ziz - A cacatua de Javé

    Ziz - A cacatua de Javé

    Ziz (זיז‎) (Salmos
    50:11)

     

    יאיָדַעְתִּי כָּל־ע֣וֹף הָרִ֑ים וְזִ֥יז שָֹ֜דַ֗י עִמָּדִֽ

    “Eu conheço
    todas as aves das montanhas e as Ziz dos campos [são] minhas.” (tradução minha)

     

    Estamos em nosso terceiro episódio da série monstros bíblicos e hoje vamos falar de um
    dos pets de Javé menos conhecidos, a ave Ziz.

     

    “Aconteceu uma vez que um
    viajante em sua embarcação viu um pássaro. Quando essa ave se levantou das águas,
    as águas cobriam apenas suas pernas e sua cabeça tocava o céu. Os que a viram
    pensaram que as águas não eram profundas naquele ponto e pensaram que podiam se
    banharem ali. O pássaro que os viajantes viram, não era outro, se não o Ziz.
    Suas asas são tão grandes que podem encobrir a luz do sol. Elas (asas) protegem
    a terra contra os ventos do sul; sem a ajuda das asas de Ziz a terra não seria
    capaz de resistir aos ventos que sopram do sul. O fluido delas uma vez inundou
    sessenta cidades e o seu revoar destruiu trezentos cedros”.

                                                                                   
     ( Haggadot judaica-Tradução
    livre)

     

     

    Ziz é um animal grifo da mitologia judaica, é dito que com suas asas é capaz de cobrir a luz do
    sol. É uma das bestas primevas criadas por Javé e domina sobre os céus e seus
    dois consortes Leviatã e Behemoth governam sobre as águas e a terra
    respectivamente.

    Ziz foi também criado no quinto dia, juntamente com as outras bestas primevas. Ziz era quem
    dominava os céus. Pode ter tido influência das histórias sumério-acadianas,
    assírias, e até mesmo dos persas. Em histórias como a de Lamassu, que era uma
    divindade feminina protetora, representada em amuletos, portais e palavras de
    encantamento.

    Na mitologia suméria havia uma divindade híbrida homem-pássaro chamada Anzu, que pode também
    ter dado origem a Ziz. Anzu era o guardião dos céus e a personificação dos
    ventos do sul. Anzu causava medo e terror em muitos deuses e apenas o poderoso
    deus Marduk foi capaz de derrotar a grande ave. Anzu aparece em embates na
    Epopéia de Gilgamesh. Anzu pode ter sido a narrativa influenciadora para a
    fênix grega bem como de Ziz, na mitologia hebreia.

    A figura bíblica/hebraica dos querubim também podem ter tido influência na língua acadiana-suméria, a
    palavra que deu origem pode significar: portador de bençãos, e tinham um papel
    protetor, tais como os leões chineses presentes até os dias de hoje em vários
    lugares na China nas entradas de cidades e locais importantes.

    As histórias contadas da mitologia sumério-acadiana espalharam-se desde o crescente fértil,
    à península arábica e chegaram até ao levante mediterrâneo.

    Na sua função linguística mitológica em um determinado momento Ziz, simbolizou o império
    persa e a sua religião, o zoroastrismo. A religião persa, assim como as
    histórias do império acadiano, influenciou vários povos, inclusive mitologias
    hindus como a ave mitológica garuda, símbolo de países como a Indonésia, nos
    dias de hoje.

    Ziz assim como Leviatã e Behemoth estará presente no Dia do Messias, será parte do banquete
    servido aos justos por Javé. Diferentemente de Leviatã e Behemoth a Ziz foi
    mantida a capacidade de procriação. É dito que Ziz punha ovos e uma vez um de
    seus ovos quebrou e com o líquido desse ovo, sessenta cidades foram destruídas.
    A extensão das asas de Ziz era tão grande que podia cobrir toda a terra e
    encobrir a luz do sol.

    Ziz controla os ventos, as aves dos céus e causa tempestades. Controlando elementos da natureza
    e destruindo cidades inteiras com um simples revoar de suas asas.

    • 15 min
    Leviatã - o dragão pet de Javé

    Leviatã - o dragão pet de Javé

    Episódio 2 - Leviatã
    Leviatã (לִוְיָתָן)– É um animal mitológico que aparece em 6 passagens na Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) Jó
    3:8; 41:1; Isaías 27:1, 51:9 (dragão); Salmos 74:14; 104:26.

    Alusões a esse animal também aparecem em Amós, Ezequiel e no Novo Testamento em Apocalipse.
     
    Os babilônios acreditavam que o mito cosmogônico da origem dos céus
    e da terra (Babilônia) foi a luta entre o jovem deus Marduk vence ao dragão marinho
    que habita nas profundezas das águas do mar, Tiamat. Tiamat era uma besta marinha
    que simboliza a desordem, o caos e criava deuses maus o que causava um desiquilíbrio
    na ordem cósmica. Marduk vence a Tiamat e partir de seus restos mortais cria os
    céus e a terra (Babilônia).
    Os cananeus em sua visão de criação também possuem uma luta cósmica
    de Yam e Baal. Baal num acesso de raiva e ciúmes pela predileção de El a Yam.
    Baal convence sua mãe a deusa Asherah e com o apoio do deus artesão/fazedor-de-armas
    Kothar que com suas armas mágicas o ajuda derrotar Yam, o monstro marinho que simbolizava
    o caos e a desordem. Baal derrota Yam, ocupando a posição de controle e poder,
    mais tarde usurpando um lugar de destaque no panteão ugarítico.
     
     
    Apesar de serem histórias e cosmogonias distintas, a visão de mundo
    dos povos mesopotâmios, cananeus e posteriormente hebreus compartilham alguns paralelos
    de que o mundo das profundezas das águas representa o caos, a desordem algo a
    ser vencido. No campo dos estudos das religiões esse tema de luta cósmica como
    o Chaoskampf dentro da área de estudos dos povos do Antigo Oriente Próximo
    (ANE), ou Sudoeste Asiático.
     
    O pensamento da antiga religião dos hebreus pode ter sido
    influenciado por outros mitos fundacionais e utilizando-se de historiosofia para
    explicar a sua origem, mas também um conceito que se desenvolveria ao passar do
    tempo, o fim da história. A linguagem apocalíptica, apresenta uma série de cataclismos
    atribuídos novamente a embates entre forças dessa vez políticas, com vendetas aos
    inimigos dos povos hebreus e recompensas aos justos e injustiçados hebreus,
    seguidores do deus combativo Javé.
    Leviatã é um desses inimigos símbolos do mal, do caos, do incontrolável,
    desconhecido que no pensamento hebreu foi criado no quinto dia da criação por
    Javé, junto com outros animais. Com um corpo extremamente brilhante,
    especialmente seus olhos, Leviatã tem o poder de “iluminar” as densas
    profundezas do mar. Foi criado junto com a sua contraparte Behemoth, e ambos
    foram esterilizados para não procriarem e assim não causarem dano à criação de
    Javé. Javé os mantém sob controle e nos Dias do Messias haverá uma outra luta cósmica
    onde os justos praticarão o esporte de caça a Leviatã e esse será o passatempo
    dos justos.
    O anjo Gabriel será empregado da tarefa de exterminar a Leviatã, mas
    dada a sua menor força diante da besta marinha, Javé usará sua espada e extirpará
    a Leviatã. Javé usará a pele de Leviatã para construir uma tenda para que os
    justos usem no banquete que significará o início do reinado do Messias. A carne
    de Leviatã abastacerá os mercados de Jerusalém. Com a pela da besta derrotada,
    Javé fará adornos e roupas para os justos e a pele que sobrar será estendida no
    muro da cidade de Jerusalém e o brilho dessa pele iluminará o mundo inteiro,
    como um testemunho do governo de Javé e seu Messias.  Essa história está descrita no Livro de Enoque
    e no livro de 2 Esdras 6:49, além do livro de orações judaicas, o Siddur.
    Leviatã é um dos pets de Javé. Ao mesmo tempo que representa o caos, a tirania e o poder político
    dos inimigos dos hebreus. É um impedimento ao reinado do Messias, com suas
    muitas cabeças. A serpente tortuosa, astuta e poderosa que pode comprometer a
    harmonia dos justos. Representa o começo e o fim da história, no mundo mitológico
    dos monstros bíblicos. No Apocalipse do Novo testamento, o dragão, é derrotado in

    • 28 min
    Behemoth - A besta indomável

    Behemoth - A besta indomável

    Série Monstros Bíblicos

     

    Episódio 1 - Behemoth

     

    Behemoth (בהמות) – É um animal mitológico  queaparece no livro de Jó 40:15-24. Pesquisadores tentam encontrar paralelos fora
    dos textos bíblicos sobre esse animal mitológico relacionando-o com um
    hipopótamo, uma espécie de mamute-elefante, ou até mesmo um dinossauro.  Era desconhecido do público ocidental até por
    volta do século 18 quando os textos bíblicos começaram a ser lidos de maneira
    mais crítica.

     

    O substantivo masculino plural (o dito plural majestoso) Behemoth em hebraico, pode ser
    traduzido como algum tipo de animal bovino. O sufixo (moth) indica gênero
    masculino ao substantivo em sua forma plural. Esse substantivo/nome não aparece
    em nenhuma outra literatura antiga, a não ser os textos bíblicos em seu gênero
    literário, mitologia-poética.

     

    Behemoth não tem paralelo direto com o Touro Celeste que aparece no Épico de Gilgamesh e nem com os “Homens-touro”
    da Mesopotâmia (Assíria). O paralelo mais próximo é com Atik-Ars(h), o Bezerro
    de El. São mitologias distintas, mas os seres apresentam algum paralelo.

     

    O texto
    ugarítico diz: (Tradução livre)

     

    “Eu derrubo a
    serpente tortuosa, a poderosa com sete cabeças. (41:42)

    Eu derrubo
    Ars(h), o amado de El. Eu destruí Atik, bezerro de El. (43-44)

    Eu derrubo
    Fogo, cão de El. Eu aniquilo Chama, filha de El.” (45-47)

     

    KTU 1.3 III.41-47

     

    Ainda no texto
    ugarítico KTU também está escrito:

     

    KTU 1.6

     

    50: No mar
    estão Ars(h) e o dragão,

    51: Que
    Kothar-ha-Hasis os afugente.

    52: Que
    Kothar-há-Hasis os despedace.

     

    KTU 1.6 – Ugarit – Museu do Louvre.

     

    Behemot é o par masculino de outro ser que falaremos no próximo episódio: Leviatã. Behemot na
    literatura apocalíptica judaica é descrito como um animal caótico. Javé,
    impediu que o mesmo procriasse com Leviatã, pois o fruto desse acasalamento
    seria a destruição da criação de Javé.

     

    No livro de 1 Enoque Behemoth foi o primeiro animal a caminhar sobre a terra recém criada.
    Ainda no livro de Enoque é descrito que Behemoth habita num deserto invisível a
    leste do Jardim do Éden, o deserto de Dendayen.

     

    “ E naquele dia,
    se separarão dois monstros; uma fêmea chamada Leviatã, que habita nas
    profundezas das águas, acima das fontes das águas; E um macho chamado Behemoth;
    que com seus peitos, ocupará um deserto 
    invisível, chamado Dendayen ao leste do jardim, onde os justos e eleitos
    habitarão...”

    (Livro de 1 Enoque 58:7-9) – Tradução Minha

     

     

    O Livro de orações judaicas o Siddur, traz
    uma oração/profecia para o Dia de Javé.

     

    “Leviatã e Behemoth se engancharão com os
    seus chifres... Seu Criador se aproximará e com a sua espada poderosa matará a
    ambos. Assim, do lindo couro de Leviatã Javé construirá as tendas para abrigar
    o justo, que comerá da carne de Leviatã e Behemoth com alegria e regojizo em um
    enorme banquete que será dado aos justos e eleitos”.

     

    (Siddur,
    P.719) Tradução Livre

     

    Behemoth nas lendas antigas de cosmogonias é um par mítico de Leviatã que simboliza o caos
    das águas. Behemoth, simboliza um caos na terra, na natureza. Uma força que se
    descontrola trazendo destruição, derramamento de sangue e extinção de outras
    espécies. Dada sua agressividade vive fora do convívio da humanidade, num
    deserto mítico enorme. Faz parte da categoria dos pets de Javé.

     

    Na cultura pop Behemoth é descrito através de jogos de vídeo-game, de bandas de rock e de
    confrontos bestiais como no épico embate com Godzilla. Behemoth tornou-se
    também um adjetivo que significa algo enorme, de proporções monstruosas.

     

    Referências Bibliográficas

     

     

    Introdução à
    teologia do templo – Margaret Baker

    O profeta
    perdido: O livro de Enoque e sua influência sobre o cristianismo – Margaret Baker

    Introdução ao
    misticismo do templo – Margaret Baker

    King of the
    Jews: Temple Theology in

    • 11 min
    Intro - Série Monstros Bíblicos

    Intro - Série Monstros Bíblicos

    Por Wellington Barbosa*

    As histórias que nos contam remontam um tempo analógico onde o imaginário
    ditava os limites do consciente daquilo que era humano e não-humano. Nesse episódio
    introdutório falamos sobre o mundo que detalharemos na Série Monstros Bíblicos.
    Contudo, antes de entrar no mundo bíblico em si, faz-se necessário remontar ao
    mundo da contação de histórias que permeiam nossas culturas desde os tempos mais
    remotos e que influenciaram diversos gêneros literários desde o passado até os
    dias de hoje.
     
    Em nossa série sobre monstros bíblicos falaremos de homens que cruzaram
    a barreira dessas histórias onde o não-humano, invade o mundo humano,
    conhecido. Onde a mitologia transpassa o limite do imaginário, e homens saíram
    de suas vilas, cidades, templos e jardins para o mundo das criaturas, deuses,
    heróis, vilões, anjos e demônios.
    Vamos juntos nessa viagem ao mundo bíblico e encontrar monstros e
    criaturas que permearam a fé, as histórias, a ideologia e a cosmologia do livro
    mais vendido do mundo.
     
    Espero você nessa jornada. É bom estar de volta.
     
     
     
    Referências Bibliográficas:
     
    Tratado da História das Religiões – Mircea Eliade
    O Sagrado e o Profano: A essência das religiões – Mircea Eliade
    História das crenças e das ideias religiosas: Volume 1: Da idade da pedra aos
    mistérios de Elêusis – Mircea Eliade
    Introdução à teologia do templo – Margaret Baker
    O profeta perdido: O livro de Enoque e sua
    influência sobre o cristianismo – Margaret Baker
    Introdução ao misticismo do templo – Margaret Baker
    King of the Jews: Temple Theology in John’s Gospel – Margaret Baker
    Progress, Apocalypse and completition of
    history and life after death of the human person in the world religionss: 4 – Peter Koslowski (Editor)
     
     
    Wellington Barbosa é filólogo, linguista e teólogo. Licenciado
    em letras: Português/Inglês.  Graduado em
    teologia. Mestre em Linguística Aplicada. É pesquisador na área da
    linguagem e o ambiente mitológico/religioso/político. Sua pesquisa mais recente
    é concentrada na área de Teologia do Domínio, fundamentalismos missionários e
    de como grupos evangélicos utilizam a linguagem e o campo do imaginário para exercerem
    controle politico/social. É professor de idiomas, e reside em Valência-Espanha.

     

    • 6 min

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