Inquietação João Albuquerque

A 19 de novembro de 2019, em Lisboa, morria aos 77 anos, José Mário Branco. O Zé Mário, que em tempos tivera 37 anos, e a quem lhe faltavam dentes, do Porto, deixou-nos há dois anos.

Este regresso é um regresso especial e, espero, será o mote para relançar este podcast com uma maior periodicidade dos episódios que se vão produzindo nesta chafarica. É um regresso que se pretende lento, ou melhor, demorado, porque é um episódio de um só tema. E especial porque ocorre no dia em que se assinalam os dois anos da morte daquele que é, possivelmente, uma das minhas maiores inspirações musicais, e que, não por acaso, está na origem do nome deste podcast.

Episódio 5 - Mais do que sobre o amor, ou sobre quem e como se ama, queria que este episódio fosse sobre a liberdade. Sobre a liberdade de não termos de ter medo de nos afirmarmos na nossa pluralidade, nas diferentes dimensões de que somos feitos e compostos. Sobre a liberdade de rasgarmos os rótulos que persistem em nos querer colar à pele, como se cada afirmação identitária automaticamente nos definisse como um todo. As nossas orientações sexuais, nas suas múltiplas dimensões, as nossas opções sexuais e relacionais, as nossas identidades sexuais ou de género, por si só, não são suficientes para nos fechar nas caixinhas agregadoras em que, tantas vezes, nos queremos encaixar uns aos outros. Ao invés disso, toda esta pluralidade, estes plurais que usei propositadamente, devem ser motivo de celebração, de afirmação de uma parte, e apenas, uma parte do nosso ser. E que, como cada uma das nossas identidades, nos deve fazer exaltar enquanto indivíduos, enquanto seres únicos e individuais que não devem ter vergonha serem o que são. Gays, lésbicas ou bi, transexuais e transgéneros, pessoas intersexo, hetero e cis, monogâmicos ou poliamor. E mais, e mais, e mais. Rótulos atrás de rótulos que limitam e constringem, em vez de libertarem e promoverem a aceitação de cada um de nós.

Estamos no mês do Orgulho. Do orgulho de sermos quem somos e de o vivermos em liberdade. É a fórmula mágica que nos permite tentar minimizar a dor e a angústia de tantas e tantos entre nós. Que nos deve levar a afirmar esse orgulho bem alto e a defender, dia após dia, o direito de cada um de nós a viver a sua existência de acordo com a sua própria essência. We are here and we are queer. E não vamos deixar, nunca mais, que se retroceda no que custou tanto a conquistar.

Episódio 4 - O episódio de hoje é para Kathleen Romeu. Para as muitas Kathleen que são vítimas de um sistema que perpetua desigualdades e torna quase impunes quem mata minorias e favelados, estejam eles atrás do gatilho, na Guanabara ou no Planalto.

“Kathleen Romeu, 24 anos, grávida de 4 meses, morta durante operação policial no Rio de Janeiro. Uma notícia que se repete com tanta frequência que dá náusea. Inocentes. Pretos. Mortos. Operação policial. O Estado brasileiro não está em guerra contra as drogas. Está, desde sua formação, servindo ao extermínio da população preta e periférica. Não dá mais para fingir que não. Luz e amor para a família e os amigos de Kathleen. Vidas Negras importam. E é um absurdo e um inferno ter que dizer isso.” - Ícaro Silva

Episódio 3 - São de versos fortes, aquelas palavras que nos entram no ouvido e nos alertam para os nossos preconceitos, medos e ódios. E é contra eles, e contra os braços em riste que deles se aproveitam, que devemos levar a sério o que não pode, nunca, ser para rir. A dimensão da tristeza e tragédia humana que estes medos e preconceitos provocam devem-nos impelir a agir, sob pena de que não sobre mesmo ninguém.

Episódio 2 - As inquietações de hoje atravessam fronteiras e levam-nos ao difícil território da colonização e descolonização portuguesa, naquela que será apenas a primeira parte dedicada a este tema. Mas este não é o único tema deste episódio. A semana passada, celebrou-se mais um Dia Internacional do Trabalhador. Numa altura em que as reformas do trabalho estão na ordem do dia, aceleradas por uma pandemia que, espero, começa a ter um fim à vista, não resisti a deixar-me levar pelas músicas que tanto marcaram o meu pulsar revolucionário.

Episódio 1 - Sendo sobre música de intervenção, que o é, não é, nem pretende ser, uma análise exaustiva da música de intervenção em Portugal. Possivelmente, nem tão pouco ficará cingido a Portugal, que não temos o monopólio da inquietação e elas deambulam por outras paragens também. Antes de mais, este é um canto de refúgio. De abrigo às ideias, a pulsões, sentimentos e utopias. De coleta de memórias. Sim, há muita memória nesta inquietação.