O Macaco Elétrico

@PauloSilvestre

Jornalista (preferencialmente digital), educador (preferencialmente digital), trabalhando para tornar o mundo um lugar melhor

  1. Somos vítimas na “Terceira Guerra dos Navegadores”

    HÁ 8 H

    Somos vítimas na “Terceira Guerra dos Navegadores”

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 A inteligência artificial está transformando os navegadores, o tipo de software que todos nós mais usamos. Além de exibir as páginas que queremos, essa nova geração incorpora assistentes de IA que oferecem interações contextuais, automação de tarefas e respostas inteligentes na mesma tela. Mas apesar desses benefícios, isso dispara alertas sobre invasão de privacidade e até interferência em nosso livre arbítrio. Nesta terceira edição da “guerra dos navegadores”, programas como o Comet, da Perplexity, e o Atlas, da OpenAI, desafiam o domínio do Chrome, que reina com 65% desse mercado. O Google entrou nessa briga para não perder sua liderança, incorporando o Gemini, sua plataforma de IA, ao Chrome. Mas o gigante enfrenta o desafio de evitar que isso canibalize seu buscador, sua principal fonte de receita. As empresas de IA querem ter seus navegadores, pois eles se tornaram o novo ponto de controle da vida digital. Passamos neles a maior parte do tempo online, portanto dominá-los significa ter acesso direto ao comportamento, às preferências e ao contexto de cada usuário. Integrar tudo o que fazemos a um agente de IA é o sonho de qualquer um que queira não apenas fornecer respostas, mas influenciar decisões. O Google já promoveu o Chrome a um “aplicativo que faz tudo” nos seus Chromebooks, notebooks mais baratos em que o navegador é o local onde tudo funciona. Agora, com assistentes de IA interagindo com nossos e-mails, agenda, documentos, compras, relações sociais e tudo mais que fazemos online, isso vai além, tornando-se um intermediário invisível entre a vontade humana e a execução digital. A produtividade norteia essa revolução, mas quando o navegador decide o que priorizar e até o que omitir, ele ameaça nossa autonomia. Trata-se de um deslocamento silencioso, mas profundo, na relação entre humanos e máquinas. Como podemos então aproveitar todo esse poder sem abrir mão da nossa liberdade? É sobre isso que falo nesse episódio. E você, já está usando um navegador com IA?

    10min
  2. Os US$ 5 trilhões da Nvidia e os limites da IA

    3 DE NOV.

    Os US$ 5 trilhões da Nvidia e os limites da IA

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 No dia 29 de outubro, a Nvidia atingiu estratosféricos US$ 5 trilhões de valor de mercado. E isso esconde alertas para todos nós. Primeira empresa a chegar a essa marca, ela é o indicador mais reluzente da importância que a inteligência artificial passou a ocupar em nossas vidas. Mas o mercado já teme que a hipervalorização das empresas ligadas à IA seja uma bolha especulativa prestes a estourar. O questionamento mais importante, entretanto, é quanto a IA seria uma tecnologia viável sem essa injeção insana de dinheiro. A euforia é justificada pelo seu potencial transformador. O mercado calcula que ela deve elevar o PIB global em 7% e a produtividade em 1,5% em uma década. Nesse ano, já representa cerca de 40% do crescimento do PIB americano e é responsável por 80% dos ganhos nas ações. Sem a IA, o crescimento econômico da terra do Tio Sam teria sido cerca de um terço do que foi. Os exageros residem na pressa do mercado em querer que a tecnologia “entregue o futuro logo”, ignorando que poucas dessas empresas são lucrativas, e que a IA ainda impacta pouco ou nada nos resultados de 95% dos que nela investem. A própria OpenAI, maior estrela do setor e criadora do ChatGPT, opera no vermelho. Além disso, seu faturamento estimado em US$ 13 bilhões é insignificante perto dos US$ 300 bilhões que ela se comprometeu a gastar com infraestrutura da Oracle e US$ 250 bilhões com a Microsoft. As empresas investem na IA porque têm medo de ficar para trás, não porque encontraram um modelo de negócio sustentável. O próprio Sam Altman, CEO da OpenAI, disse em agosto que o setor de IA vive em uma bolha e que “alguém vai perder uma quantidade fenomenal de dinheiro”. Claro que não dá mais para deixar a IA de lado. Mas manter esses investimentos sem retornos pode ser insustentável e causar um “banho de sangue” em poucos anos. Essa corrida desenfreada para “ser dono” da IA já passou dos limites. Para entender melhor como escaparmos disso, convido você a ouvir esse episódio. E depois comente as suas percepções.

    9min
  3. Como a Internet muda vidas na Amazônia

    27 DE OUT.

    Como a Internet muda vidas na Amazônia

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Podemos aprender muito observando como comunidades amazônicas redesenham seu futuro com o mundo digital. Para você, a Internet funciona de maneira líquida e certa. Mas para quem vive na floresta amazônica, sua chegada amplia a fronteira civilizatória. Não se trata de conforto, e sim de uma “virada de época”, reconfigurando possibilidades de vida. A Amazônia é um desses lugares onde a transformação digital é forçada nos seus limites. Afinal, se algo funciona lá, funciona em qualquer lugar; se fracassa, expõe que o discurso digital talvez fosse frágil, apenas protegido por infraestrutura abundante. E se a tecnologia não preserva a vida com sentido e não produz valor para quem mora na floresta, ela falha miseravelmente. Comprovei esse impacto na semana passada, quando visitei a comunidade ribeirinha Tumbira e a aldeia da etnia Kambeba Três Unidos, a cerca de duas horas de lancha de Manaus. Elas recebem orientação e investimentos da Fundação Amazônia Sustentável. Para isso, há dez anos ela usa soluções da SAP na gestão de seus projetos, com ganhos em transparência, planejamento e impacto socioambiental. A FAS visa conservar a “floresta em pé” e melhorar a qualidade de vida das populações da Amazônia. Partindo do pressuposto de que pessoas com melhores condições cuidarão mais da natureza, implanta programas de educação, cidadania, saúde, empoderamento, pesquisa e inovação, conservação ambiental, empreendedorismo e geração de renda. Também melhora a infraestrutura das comunidades, inclusive com eletricidade e Internet, apoiada por empresas. Isso impede que a Amazônia entre em um colapso ecológico, o que agravaria a crise climática global. Esses ganhos fortalecem a posição do Brasil como um país capaz de conservar e gerar prosperidade na região, não apenas por ser “dono da floresta”, mas sim dono de soluções. Para entender melhor como isso tudo funciona, convido você a ouvir esse episódio. E depois deixe suas percepções nos comentários.

    9min
  4. ChatGPT finalmente se rende à pornografia

    20 DE OUT.

    ChatGPT finalmente se rende à pornografia

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 A OpenAI pelo jeito decidiu abandonar os princípios e liberou bots de sexo e pornografia no ChatGPT. A empresa anunciou que permitirá conteúdo adulto na plataforma, incluindo aplicativos eróticos criados por empresas externas. Só que, disfarçada de liberdade criativa, a medida carrega riscos enormes, que vão muito além da exposição de adolescentes. A novidade insere tecnologia sofisticada em um campo carregado de estereótipos, manipulação e consequências sociais imprevisíveis, e isso afeta até quem não consome pornografia. Desenvolvedores independentes e a própria OpenAI ganharão com a abertura de um mercado enormemente lucrativo até então inexplorado pela empresa. Do outro lado, adolescentes ficarão mais vulneráveis, assim como qualquer pessoa sujeita à naturalização de padrões sexuais distorcidos. Na quarta passada, o CEO Sam Altman declarou que a OpenAI “não é a polícia moral eleita do mundo”, ao justificar a liberação. A frase parece uma defesa de princípios, mas é desonesta. Em agosto, ele dizia sentir orgulho por evitar “bots de sexo”, que dariam engajamento, mas seriam “desalinhados com o objetivo de longo prazo” da empresa. Agora, o negócio parece ter pesado mais do que a ética. Esse recurso deve piorar, reforçar e perpetuar estereótipos já consolidados na pornografia. Mulheres e minorias podem ser retratadas de forma ainda mais degradante, e a tecnologia, em vez de corrigir distorções, tende a amplificá-las, criando novas camadas de objetificação. Por fim, não é exagero dizer que isso pode alterar a maneira como as pessoas se relacionam entre si. Expectativas inatingíveis, comportamentos sexualizados distorcidos e uma compreensão enviesada do consentimento são consequências prováveis, pois este recurso reduzirá a necessidade de lidar com a complexidade de parceiros reais. Mas gostem ou não, as pessoas precisam se relacionar com gente de verdade. Para entender melhor esse caso, convido você a ouvir esse episódio. E depois comente o que você acha desse anúncio.

    9min
  5. Por que professores brasileiros usam tanto a IA

    13 DE OUT.

    Por que professores brasileiros usam tanto a IA

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Por que os professores brasileiros usam tanta IA? Nesta quarta, comemora-se o Dia do Professor no Brasil. Mas, apesar de seu papel decisivo para a construção do país, esses profissionais têm pouco a celebrar, pelas conhecidas condições precárias de trabalho e formação e apoio limitados da sociedade. Ainda assim, persistem em sua nobre tarefa, até mesmo adaptando-se às mudanças tecnológicas na profissão, como as impostas pela inteligência artificial. Chega a ser surpreendente que, mesmo com tantas condições adversas, nossos professores estejam entre os que mais usam essa tecnologia no seu trabalho. A informação é da Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem, publicada no dia 6 pela OCDE. Realizada desde 2008, cerca de 280 mil professores de 54 países participaram dessa edição. O Brasil aparece em décimo nesse quesito, com 56% dos professores do Ensino Fundamental II usando IA nas suas aulas. Na liderança, empatados com 75%, estão os professores dos Emirados Árabes Unidos e de Cingapura. O país cujos professores menos usam é a França, com apenas 14%. A média dos países da OCDE é de 36%. Vale notar que a adoção da IA na sala de aula varia bastante entre os países com educação de alta qualidade. Cingapura é o único desses acima do Brasil na Talis. Outras nações com educação de destaque vêm depois, como Coreia do Sul (43%), Dinamarca (36%), Estônia (35%) e Finlândia (27%). Por isso, precisamos entender as condições em que essa tecnologia é utilizada na escola e o que leva os professores a adotá-la. Um uso sem preparo e sem apoio pode ajudar em tarefas pontuais, mas também prejudicar a própria compreensão da IA. Já falhamos na educação dos jovens para o uso das redes sociais, levando a problemas graves e diversos. Repetir o erro com a IA pode transformar uma tecnologia poderosa e revolucionária em uma máquina de controle social e limitação cognitiva. Mas então, como devemos usar a IA na aprendizagem? É sobre isso que falo nesse episódio. E você, o que sugere?

    9min
  6. “Criatividade estatística” da IA pode achatar o nosso senso crítico

    6 DE OUT.

    “Criatividade estatística” da IA pode achatar o nosso senso crítico

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Se fosse lançada hoje, a tirania dos algoritmos das plataformas de streaming teria matado “Bohemian Rhapsody”, obra-prima do Queen. Seus 5 minutos e 55 segundos e estilo para lá de ousado não passariam pelo crivo dessas plataformas, que promovem insistentemente músicas de até 3 minutos, para satisfazer uma geração de ouvintes ansiosos. Mas outro fator nos privaria dessa que é considerada uma das músicas mais inventivas da história: a “criatividade estatística” da inteligência artificial. O debate ganhou força com regras do Spotify para coibir o uso indevido de IA em sua plataforma, anunciadas no dia 24 de setembro. Elas incluem filtros rígidos para evitar spam musical, proteção contra a imitação não autorizada de artistas e a exigência de transparência na adoção da tecnologia. Segundo a plataforma, o objetivo não é punir o “uso criativo” da IA, mas impedir práticas que prejudiquem artistas e ouvintes. Apesar de restrições assim, o concorrente Deezer aponta que hoje 28% das músicas publicadas na plataforma são totalmente feitas por IA; em janeiro, eram “apenas” 10%. Um estudo da consultoria francesa PMP Strategy, publicado em dezembro, indicou que, até 2028, os artistas perderão 24% da receita no setor, pela substituição das obras humanas pelas geradas por IA e pelo uso não autorizado de criações originais. As plataformas de streaming e a IA estão transformando nosso gosto e a própria produção musical. Com o tempo, a IA modificará qualquer tipo de produção em nosso cotidiano, e infelizmente há um risco concreto de que isso piore a qualidade. Isso acontecerá porque já estamos usando, como ferramenta criativa, algo que muitos especialistas afirmam não ter nenhuma criatividade. Mas o problema não é se máquinas podem ser inventivas, e sim entender o que realmente significa criatividade e se estamos dispostos a reconhecê-la em processos não-humanos. Você acha que a “criatividade estatística” da IA pode ser considerada criatividade mesmo, algo até então exclusivo dos seres humanos?

    9min
  7. O valor da IA vem do equilíbrio entre tecnologia e humanidade

    29 DE SET.

    O valor da IA vem do equilíbrio entre tecnologia e humanidade

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 O valor da inteligência artificial vem do equilíbrio entre tecnologia e humanidade. A IA colocou as empresas em uma encruzilhada digital histórica. Extrair valor real dessa tecnologia exige mais que investimentos em sistemas e servidores. Para isso, as lideranças precisam também gerenciar expectativas e cuidar do preparo humano das equipes. Até hoje, apenas 20% dos projetos de IA alcançaram retorno financeiro, e míseros 2% promoveram uma transformação real nos negócios, onde reside o seu grande potencial. As empresas que encontram, capturam e sustentam ganhos com a IA são as que se afastam da descrença exagerada, que impede qualquer ação, e do deslumbramento inconsequente, que leva a investimentos sem foco. Essas foram algumas das principais mensagens da Conferência Gartner CIO & IT Executive, que aconteceu em São Paulo entre 22 e 24 de setembro. O problema muitas vezes vem do desalinhamento de expectativas, com as companhias investindo apenas em projetos de produtividade, mas esperando grande geração de receita. Atravessar esse “vale da desilusão” pede líderes que enfrentem ceticismo, calibrem metas e sustentem investimentos, mesmo sem resultados imediatos. Isso fica mais desafiador quando, segundo o Gartner, 95% dos latino-americanos querem usar IA, mas só 40% confiam que seus gestores farão os movimentos de forma responsável. Isso explica por que as empresas já percorreram quase metade do caminho da prontidão tecnológica para o uso da IA, mas esse avanço mal chega a um quarto no preparo humano. O medo de perder o emprego, a curva de aprendizagem íngreme e sobretudo a falta de confiança na chefia explicam essa diferença. Mas então, o que as empresas devem fazer para extrair esse valor real da IA. É sobre isso que falo nesse episódio. E no seu cotidiano, você vê a IA sendo usada de maneira verdadeiramente transformadora ou apenas incremental?

    9min
  8. IA pode acabar com a nossa privacidade

    22 DE SET.

    IA pode acabar com a nossa privacidade

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Cuidado, pois seus pensamentos em breve poderão não ser mais só seus. A inteligência artificial está sendo usada com outra ciência de ponta, a dos implantes neurais, para criar habilidades inéditas ou solucionar limitações físicas, como dificuldade de falar ou de se mover. Isso é algo muito bem-vindo, que beira a ficção científica, mas desperta alguns alertas de privacidade até então inimagináveis. Afinal, se uma máquina for capaz de ler com boa precisão o que se passa em nosso cérebro para realizar essas tarefas, que garantias teremos de que nossos pensamentos mais íntimos estarão protegidos? O cérebro continua sendo o último bastião da nossa privacidade. Nossos pensamentos são apenas nossos até que decidamos compartilhá-los. Mas agora novas aplicações da tecnologia BCI (sigla em inglês para “interface cérebro-computador”) podem mudar isso. Uma pesquisa recente, que visava identificar palavras que uma pessoa estava pensando para reproduzi-las em um alto-falante, identificou também pensamentos cujo dono não pretendia compartilhar. Considerando que temos cerca de 50 pensamentos por minuto, qualquer sistema com essa proposta merece atenção redobrada. O experimento ainda é embrionário, portanto ninguém precisa ter medo de que o ChatGPT acessará nossos segredos se não contarmos a ele. Mesmo assim, isso já deve alimentar debates sobre como impedir que máquinas invadam esse espaço sagrado que sustenta nossa própria individualidade. Além disso, na mão de governos e de outros grupos de poder, isso significaria a ferramenta definitiva de manipulação das pessoas. Mas, afinal, como funciona essa tecnologia? Estamos mesmo condenados a perder a nossa mais íntima privacidade? É sobre isso que falo nesse episódio. O que você acha que aconteceria se todo mundo soubesse tudo que o outro está pensando?

    9min

Sobre

Jornalista (preferencialmente digital), educador (preferencialmente digital), trabalhando para tornar o mundo um lugar melhor