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Origens da pandemia: a degradação ambiental e o consumo de carne - CantuÁrea #04 CantuÁrea

    • Society & Culture

No papo de hoje, falo sobre a estreita relação entre a degradação ambiental, o consumo de carne e as pandemias que têm constantemente ameaçado a saúde e a vida humana na contemporaneidade.

As hipóteses mais documentadas sobre o novo coronavírus – o Sars-Cov-2, também conhecido como COVID-19 – indicam o morcego como principal origem. Também se suspeita que o vírus possa ter pulado para outro mamífero – possivelmente um pangolim – antes de passar para os seres humanos. Independente destas circunstâncias, a causa está na intervenção humana sobre o habitat destes animais silvestres.

Tal realidade não se restringe ao novo coronavírus. De acordo com o especialista em ciência e natureza David Quamme, em seu livro "Spillover – Animal Infections and the Next Human Pandemic", são casos conhecidos de doenças provenientes deste contato: o hantavírus (roedores); as gripes / influenzas (suínos e aves); o HIV-1 (chimpanzés); o sarampo (ovelhas e cabras); a varíola e a tuberculose (gado); a raiva, o ebola e as SARS (morcegos); dentre muitos outros males.

Assim, combinado à ação predatória contra os biomas, o consumo de carne se estabelece como principal meio de contato com estes animais. No caso do novo coronavírus, a Universidade Agrícola do Sul da China suspeita que o consumo de carne de pangolim, um mamífero ameaçado de extinção, teria servido de ponte entre os morcegos e os seres humanos. Em regiões da Ásia, a carne do pangolim é uma valiosa iguaria e suas escamas são utilizadas na medicina tradicional local.

Enquanto isso, no Brasil, em agosto de 2019, um temporal de traços apocalípticos enoiteceu o céu paulista e tombou sob um atípico odor de fuligem. Era o resultado das queimadas que consumiam as florestas ao norte de Brasil, na Bolívia e no Paraguai. No período, o presidente Jair Bolsonaro culpabilizou as ONGs – e até mesmo o ator Leonardo DiCaprio – pelos incêndios. Em verdade, através de uma prática agropecuária extensiva, o agronegócio brasileiro devasta grandes territórios de floresta para o estabelecimento de pastagem e a criação de gado; além do plantio de soja, em grandes latifúndios, destinada à produção de ração para a pecuária estrangeira. No mundo, cerca de 75% das terras aráveis são utilizadas direta ou indiretamente para a pecuária.

Sim, a globalização nos integrou cultural e economicamente. Entretanto, além de toda a desigualdade e o caos social promovido pela mesma, também compartilhamos os impactos ambientais locais com todo o planeta. Se hoje sugerimos uma perspectiva sanitária em escala global para lidar com as pandemias, é porque já se estabeleceu uma globalização da degradação, do adoecimento e da morte.

Sendo assim, muito antes de questionarmos as possíveis mudanças climáticas aceleradas pela intervenção humana sobre os biomas, antes mesmo de sentirmos os duros impactos anunciados pelo aquecimento global, as vidas humanas já estão continuamente ameaçadas pelas doenças decorrentes da degradação ambiental, dos nossos inconsequentes hábitos de consumo e de uma devastadora prática de produção industrial.

Em conformidade com a profecia yanomami apresentada no livro “A Queda do Céu – Palavras de um xamã yanomami”, de David Kopenawa e Bruce Albert, nos deparamos com a necessidade de revermos urgentemente nossos rumos enquanto civilização, antes que o presságio se confirme e a morte nos consuma a todos, seja os povos da floresta, seja os povos da cidade.

Precisamos ter o compromisso de, a partir de agora, não voltarmos a ser como antes jamais.

-

> Texto sobre a relação do agronegócio com a degradação ambiental na Amazônia - “Por que o boi muge quando a Amazônia queima?” - https://bit.ly/2RmpusK ou www.rennancantuaria.com.br

> Matéria sobre a pesquisa do especialista em ciência e natureza David Quamme - “Coronavírus: como a pandemia nasceu de uma zoonose” - https://saude.a

No papo de hoje, falo sobre a estreita relação entre a degradação ambiental, o consumo de carne e as pandemias que têm constantemente ameaçado a saúde e a vida humana na contemporaneidade.

As hipóteses mais documentadas sobre o novo coronavírus – o Sars-Cov-2, também conhecido como COVID-19 – indicam o morcego como principal origem. Também se suspeita que o vírus possa ter pulado para outro mamífero – possivelmente um pangolim – antes de passar para os seres humanos. Independente destas circunstâncias, a causa está na intervenção humana sobre o habitat destes animais silvestres.

Tal realidade não se restringe ao novo coronavírus. De acordo com o especialista em ciência e natureza David Quamme, em seu livro "Spillover – Animal Infections and the Next Human Pandemic", são casos conhecidos de doenças provenientes deste contato: o hantavírus (roedores); as gripes / influenzas (suínos e aves); o HIV-1 (chimpanzés); o sarampo (ovelhas e cabras); a varíola e a tuberculose (gado); a raiva, o ebola e as SARS (morcegos); dentre muitos outros males.

Assim, combinado à ação predatória contra os biomas, o consumo de carne se estabelece como principal meio de contato com estes animais. No caso do novo coronavírus, a Universidade Agrícola do Sul da China suspeita que o consumo de carne de pangolim, um mamífero ameaçado de extinção, teria servido de ponte entre os morcegos e os seres humanos. Em regiões da Ásia, a carne do pangolim é uma valiosa iguaria e suas escamas são utilizadas na medicina tradicional local.

Enquanto isso, no Brasil, em agosto de 2019, um temporal de traços apocalípticos enoiteceu o céu paulista e tombou sob um atípico odor de fuligem. Era o resultado das queimadas que consumiam as florestas ao norte de Brasil, na Bolívia e no Paraguai. No período, o presidente Jair Bolsonaro culpabilizou as ONGs – e até mesmo o ator Leonardo DiCaprio – pelos incêndios. Em verdade, através de uma prática agropecuária extensiva, o agronegócio brasileiro devasta grandes territórios de floresta para o estabelecimento de pastagem e a criação de gado; além do plantio de soja, em grandes latifúndios, destinada à produção de ração para a pecuária estrangeira. No mundo, cerca de 75% das terras aráveis são utilizadas direta ou indiretamente para a pecuária.

Sim, a globalização nos integrou cultural e economicamente. Entretanto, além de toda a desigualdade e o caos social promovido pela mesma, também compartilhamos os impactos ambientais locais com todo o planeta. Se hoje sugerimos uma perspectiva sanitária em escala global para lidar com as pandemias, é porque já se estabeleceu uma globalização da degradação, do adoecimento e da morte.

Sendo assim, muito antes de questionarmos as possíveis mudanças climáticas aceleradas pela intervenção humana sobre os biomas, antes mesmo de sentirmos os duros impactos anunciados pelo aquecimento global, as vidas humanas já estão continuamente ameaçadas pelas doenças decorrentes da degradação ambiental, dos nossos inconsequentes hábitos de consumo e de uma devastadora prática de produção industrial.

Em conformidade com a profecia yanomami apresentada no livro “A Queda do Céu – Palavras de um xamã yanomami”, de David Kopenawa e Bruce Albert, nos deparamos com a necessidade de revermos urgentemente nossos rumos enquanto civilização, antes que o presságio se confirme e a morte nos consuma a todos, seja os povos da floresta, seja os povos da cidade.

Precisamos ter o compromisso de, a partir de agora, não voltarmos a ser como antes jamais.

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> Texto sobre a relação do agronegócio com a degradação ambiental na Amazônia - “Por que o boi muge quando a Amazônia queima?” - https://bit.ly/2RmpusK ou www.rennancantuaria.com.br

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