Seja por aí Bruna Tozzi
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- 健康/フィットネス
O seu momento do dia para ser por aí- dentro de uma poesia.
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Eu só sei que é você
Eu não sei o endereço de onde você mora
Não sei qual sua cor favorita - que está estampada em metade de suas camisetas
Nem ao menos a música que você escolhe quando busca aconchego
Não sei o sonho que preenche seus dias iguais
Nem o medo que te arranca o juízo
Não conheço as pintas que trilham o seu corpo
Não estou familiarizada com sua gargalhada indiscreta
Com seu falar sozinho pela casa
Nem com suas declarações nos bilhetes
Não conheço o tom da sua voz me dizendo “surpresa”
Nem me pedindo para ficar
Não sei como meus cabelos sentem seu cafuné
Como seu abraço encaixa no meu
E nem como seus dedos cabem no meio dos meus dedos
Não conheço as histórias que você conta repetidas vezes
Não conheço os pesadelos que te acordam assustado
Não sei de qual mania você não abre mão
E de qual momento mais se arrepende
Não sei seu livro preferido
Seu filme preferido
Seu nome preferido
Não sei qual a última vez que chorou
Nem o porquê
E o que mais te marcou nos seus aniversários
Não conheço seu prato preferido
E o que te dá alergia
E o que te dá alegria
Não sei qual perfume você continua comprando quando acaba
Nem o cheiro que fica grudado no seu pijama
Não tenho nada além dessas ideias
E disso tudo guardado no peito
Eu só sei que é você
Eu só sei que quando você chegar, essas palavras serão do seu tamanho
E servirão em você
Como pele
Pele que afaga
E me tranquiliza
Pele que encontra
E me deseja
Pele que aquece
E me abraça
Eu só sei que meus sonhos servirão como uma luva no seu mundo
Eu só sei que será você
Seja lá como for. -
Você me tem
Lembre-se que você me tem.
Uma
única
e inteira
pra te seguir nessas curvas.
Dona de um par de ouvidos
que te acolhem,
pronta e imediatamente.
“Você me tem”.
Vem
e pode se derramar.
Guardei no casaco os achismos
e hoje,
te vejo.
Você me tem,
me preenche.
Não porque não sou completa
mas porque,
em três minutos,
eu já sabia.
Sabia que as quatro fases da lua passariam,
mas você, não.
Não esse sentimento.
Não essas marcas.
Entre confissões,
eu me refiz. E me doei.
Você se doeu. E me teve.
Pelos cinco sentidos, nadamos.
Tão ao lado.
Tão sincronizados.
Entre sonhos e suspiros,
nos moldamos e nos aceitamos.
No sexto mês,
descobri suas arestas
e você me cobriu com suas particularidades.
você me tem. -
Teu valor vai muito além
Se alguma vez você se olhou com algo menos do que amor
E se julgou como algo menos do que digno
Se acolha:
Esse tal amor de que se fala é compreender que você
mergulhou por profundezas que mais ninguém viu
E ganhou desenhos que fazem do teu corpo uma edição única.
Você já chorou por pessoas que ninguém mais teve
Já entendeu coisas que quem te cerca ainda nem pensou
Já aprendeu línguas, atalhos, truques...
Já se livrou, com destreza, de amarras que te machucaram.
E como ousa comparar tudo isso
à alguém que não tem o mesmo brilho no olhar que você?
Tuas pintas são o céu estrelado que você admira.
Teus números são o mapa para aquele lugar que é teu refúgio.
Tuas marcas são histórias contadas em braile.
E você ousa proferir palavras ruins ao que te carrega para todos os lados,
ao que te põe a dançar quando a alegria toma conta,
ao que te permite trabalhar.
Ao que te permite amar.
Tem algo mais forte
Do que as batidas do teu coração
Que não erram uma única vez
Sem que você peça?
Tem algo mais lindo
Do que tuas palavras
Que antecipam o sorriso alheio sem jeito?
Por isso, se alguma vez você se olhou com algo menos do que amor
Se abrace:
Teu valor vai muito além do que aquilo que se vê. -
Eu chamo de saudade
Eu chamo de saudade
o rosto que ilustra feito filme em minha memória
e me carrega
até o berço dos sorrisos tímidos.
Eu chamo de medo
a mão que me impede de segurar a tua
e desenhar na pele os arrepios do desejo.
Eu chamo de nostalgia
o afago das palavras
do ontem
sobre o que espero do amanhã.
E talvez, somente talvez,
esse breve suspirar
tenha me ensinado que é preciso falar
que é preciso organizar,
contar,
desenhar.
Só assim os pontos se religam.
Você acha que entende
a bagunça que causa aqui
mas eu perco as palavras
no meio do olhar que me dirige.
Que bom foi te contar
sobre o abraço tímido do bem-querer,
já que nesses acasos da história
os minutos nos apertam.
E na mesma maré
vieram esperança e questionamentos.
E na mesma brisa,
você e seus versos.
Uma bagunça que segue tirando do lugar
a ínfima tranquilidade
que aqui reside.
O que comumente se esquece
é que isso não nos tira do lugar:
a linha do tempo desliza,
o sentimento se torna decisão,
porque quando não se bate o martelo
alguém o arranca de nossas mãos.
No risco do certo
a vida é uma aposta,
mas eu sigo sem me importar
com as consequências:
eu quero o ensaio
eu quero as histórias
eu quero o penhasco.
A gente espera demais o sinal
mas
o que você teme?
Você sabe que mora em cada uma dessas palavras
então me abra
e arranca de mim essa transparência da qual me cobra,
me deixa ser eu
e fazer morada no acalento da tua rotina.
Me promete tirar das entrelinhas
a promessa de não me prometer.
Porque eu
te prometo
respeitar o silêncio,
aceitar os trejeitos,
cuidar da singularidade,
expor as controvérsias,
acrescentar no enredo,
sustentar o toque,
falar do que me dói.
Como você chama isso? -
Uma coragem tão bonita
Acho uma coragem tão bonita
Isso de falar o que ta dentro
Dentro do peito
Da cabeça
Da vida
Falar o que ninguém te ensinou a sentir
Mas que você sente
E pulsa
E acalenta
Não é tarefa fácil traduzir isso tudo
Isso tudo que ta em outro idioma
Em outro plano
Em outro lugar
Um dialeto tão rico em sinceridade
Num lugar morno e tão pronto
Pronto pra acolher
Pronto pra guiar
Pronto pra clarear o que já foi dúvida
E o que já foi escuridão
Porque, é uma coragem tão bonita
Isso de abrir o peito e presentear o outro com palavras que acariciam
Isso de olhar dentro da alma e ser casa
Isso de- com três palavras- fazer com que o outro respire tranquilo
Isso de emprestar um pedaço de si para a vida
De doar uma porção de tempo para o tempo do outro
Isso de abraçar o futuro porque o hoje não poderia ser melhor
Acho uma coragem tão bonita
Isso de o coração bater fora do próprio peito. -
Dançar com o silêncio
Hoje o silêncio daqui me tirou para dançar
Chamou para rodopiar no meio da sala
Bem no meio da vida
Com a taça de vinho nas mãos
E toda a bagagem nas costas
Como quem brinca de achar o culpado
Com um esboço de sorriso no rosto
E muito a compartilhar
Agora vejo
Sem a música que ocuparia de propósito esses espaços
Meus pensamentos
Tão meus
Mas forço a continuar
Porque hoje o silêncio quis participar aqui do meu lado
Sussurando
Com o olhar de quem sabe o que quer
Na hora que quer
Mas com a calma de quem perturba até as certezas mais sólidas
E ao invés de me afastar
Hesitando tropeçar entre tanto barulho e orgulho
Me lembrei que no silêncio é que vivem as coisas boas:
Os segredos acompanhados
Os estalos tão claros
E o pontinho de sonho que embebe os dias
Porque os desfechos barulhentos não encaram a solitude
De quem aceita dançar
Com o silêncio.