Allison Fernandes Allison Fernandes
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- Muziek
Meu podcast vai girar em torno de assuntos que eu gosto de discutir, tais como: cinema, música e história.
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Quanto tempo o tempo tem?
A triste e grande verdade é que nem todos conseguem realizar um grande feito, algo que realmente mude o curso da história, que redesenhe a forma de se pensar, que altere as rotas já existentes, não. Alguns de nós encontram sentido nos pequenos momento que compõe a vida, e isso já é o bastante pra vencer o tempo.
Veja, a vida é por vezes engraçada, e por vezes tem seus traços de ironia trágica, para a criança, o tempo não passa, e de repente temos 50 anos. E o que sobra da infância cabe numa caixa pequena enferrujada. Memória, aquilo que vem do recordar, que do latim, significa passar pelo coração outra vez.
E por vezes, tudo que eu sinto é que, de repente, não mais que de repente eu estou lutando por uma vida que não terei tempo de viver. Por isso, gosto de pensar como o Christopher Robin em um reencontro inesquecível, quando o urso lhe pergunta: - Que dia é hoje? E ele responde: É hoje, o meu dia preferido. -
A compreensão é desnecessária quando o sentimento basta
A representação de tempo pra mim sempre foi curiosa, sempre me despertou espanto, ele corre na mesma medida que é lento. É, eu sei, o tempo é relativo. Mas talvez, como Gabriel Garcia Márquez escreveu, pra mim bastaria estar certo de que você e eu existimos neste momento.
Porque no fundo, a vida é isso, uma frase sem retórica, sem ser contestada em toda sua plenitude, uma peça sem ensaio, feito de improviso, cada passo, cada fala feita será sempre a primeira. A vida é rara porque não podemos voltar e assistir de novo, cada pequeno momento é exatamente único, você pode tentar repeti-lo, mas nunca será como a primeira vez, não existe essa possibilidade. -
FRÁGIL E ETÉREO FINITUDE
Somos instantes, e acho que isso todos nós sabemos ou vamos descobrir algum dia sozinho. E eu, eu demorei a entender isso. Chegou um tempo que eu queria reviver um mesmo momento incontáveis vezes, até entender que não é possível, o tempo é o que é pela sua singularidade, pelo mesmo motivo que um furação ou um terremoto ambos com o poder de destruição sejam gigantes e não importa seu grau em sua respectiva escala, ambos sempre ganham nomes singulares, independente se fazem a mesma rota dos passados.
Acho que esse início ficou um tanto confuso e tudo bem também, o que tô querendo te dizer é que agora, enquanto tu escuta esse episódio, você é singular na medida que você é você por inteiro, respeitando seu espaço e seu limite, vencendo a cada dia a entropia do universo, toda a dicotomia que é viver e existir. E se eu tivesse uma pergunta pra você hoje, seria quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez, que assustou e deu frio na barriga? -
Fui aparelhado para gostar de passarinhos
Nada é fixo, nem tudo está predestinado a ser, as coisas só estão, nesse constante movimento, como quem dança sem saber que final terá a música ou se virá uma música depois, porque, na verdade, pouco importa o depois. Afinal, o que é o depois? O que há por trás da última porta que se abre quando tuas janelas se fecham?
O que eu aprendi nesses últimos dias é que no fim, o tempo nunca passa, somos nós que passamos. Somos o criador e criatura, escolhendo caminhos que vamos tomar, os trens que pegaremos e os que iremos perder, nós e tão somente nós pulsando vida num universo que se expande de maneira constante e rápida. -
Arrependimento: pra onde vai tudo aquilo que não fomos?
Nos dias mais caóticos ouço Los hermanos e me ponho a pensar o que teria sido, se eu tivesse tomado rumos diferentes.
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Domingo: entre o eco e o oco dos dias cinzentos
Eu odeio os domingos, acho que sinto isso desde pequeno, honestamente, não me pergunte o porquê, porque provavelmente eu direi que é um dia oco, vazio, amplo demais, e cinza. Mas não é bem isso, a verdade é que não sei ao certo, nunca soube, mas sempre pesou demais pra mim.
Mas há uma verdade irremediável, há um eco etéreo e gigante dentro dos domingos. A vida talvez isso mesmo, esse eco constante. Por vezes me sinto como a Clarice: “Fiquei sozinha um domingo inteiro. Não telefonei pra ninguém e ninguém me telefonou. Estava totalmente só. Fiquei sentada num sofá com o pensamento livre. Mas no decorrer desse dia até a hora de dormir tive umas três vezes um súbito reconhecimento de mim mesma e do mundo que me assombrou e me fez mergulhar em profundezas obscuras de onde saí para uma luz de ouro. Era o encontro do eu com o eu. A solidão é um luxo.”