48 min

Episode 243: Mobility and Challenges of Moving Around Intermediate Portuguese With Portuguese With Eli

    • Aprendizaje de idiomas

E para fazer parte do programa de educação continuada e ter acesso a todas as transcrições, visite o site: https://portuguesewitheli.com 

Não faz muito tempo, aconteceram várias coisas que me fizeram pensar na facilidade que eu tenho (ou tinha, e você já vai entender o porquê) para transitar aqui, enquanto para outras pessoas se locomover é uma verdadeira proeza.

Estava eu a pé e parei para atravessar a rua, na faixa de pedestres. Enquanto esperava o sinal fechar para os carros, avistei na outra margem uma garota, também aguardando para atravessar. Notei que ela levava uma bengala, e também usava óculos escuros. O sinal abriu para nós que esperávamos, e iniciei a travessia. A moça ficou parada no mesmo lugar. Quando já estava bem perto, constatei que ela era cega, não enxergava. Ao me aproximar, perguntei se ela queria cruzar a rua.

Ela aceitou a ajuda, e agradeceu imensamente. Enquanto eu a guiava, ela comentou que faltam por aqui aqueles avisos sonoros nos semáforos, indicando que o caminho está livre. Com esse sinal, a pessoa que tem a visão comprometida consegue uma maior autonomia, sem depender da boa vontade de outros para ajudar na simples tarefa de atravessar a rua (simples para quem vê, não é mesmo?).

Mais à frente no percurso que eu fazia até o supermercado, presenciei uma triste cena: uma família com uma criança sendo obrigada a entrar pela porta dos fundos em um museu. A mãe bradava aos quatro ventos que nunca viu aquele tipo de humilhação. O caso era que seu filho tinha uma doença e usava uma cadeira de rodas para se locomover. A recepcionista tentou pôr panos quentes, explicando que a arquitetura era reaproveitada e, para preservar a fachada daquele prédio colonial, a forma que encontraram de instalar o elevador tinha sido aquela, pelos fundos. Era pegar ou largar.

Eu fiquei pensando nas palavras daquela mãe, do estigma que já carrega, e ainda não poder entrar pela porta da frente na maior parte dos lugares.

Distraída com meus botões, acabei tropeçando num ressalto da calçada malconservada, e acabei quebrando o pé. Agora estou eu aqui vivendo na pele a dificuldade que eu nunca tinha imaginado. Hoje vejo que é uma proeza andar por aí quando se tem uma condição minimamente diferente da “normalidade” (e olha que estou só com um gesso provisório no pé e com um par de muletas). Viver com alguma dificuldade de locomoção nessa cidade é como participar de uma corrida de obstáculos.


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Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/message

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Estava eu a pé e parei para atravessar a rua, na faixa de pedestres. Enquanto esperava o sinal fechar para os carros, avistei na outra margem uma garota, também aguardando para atravessar. Notei que ela levava uma bengala, e também usava óculos escuros. O sinal abriu para nós que esperávamos, e iniciei a travessia. A moça ficou parada no mesmo lugar. Quando já estava bem perto, constatei que ela era cega, não enxergava. Ao me aproximar, perguntei se ela queria cruzar a rua.

Ela aceitou a ajuda, e agradeceu imensamente. Enquanto eu a guiava, ela comentou que faltam por aqui aqueles avisos sonoros nos semáforos, indicando que o caminho está livre. Com esse sinal, a pessoa que tem a visão comprometida consegue uma maior autonomia, sem depender da boa vontade de outros para ajudar na simples tarefa de atravessar a rua (simples para quem vê, não é mesmo?).

Mais à frente no percurso que eu fazia até o supermercado, presenciei uma triste cena: uma família com uma criança sendo obrigada a entrar pela porta dos fundos em um museu. A mãe bradava aos quatro ventos que nunca viu aquele tipo de humilhação. O caso era que seu filho tinha uma doença e usava uma cadeira de rodas para se locomover. A recepcionista tentou pôr panos quentes, explicando que a arquitetura era reaproveitada e, para preservar a fachada daquele prédio colonial, a forma que encontraram de instalar o elevador tinha sido aquela, pelos fundos. Era pegar ou largar.

Eu fiquei pensando nas palavras daquela mãe, do estigma que já carrega, e ainda não poder entrar pela porta da frente na maior parte dos lugares.

Distraída com meus botões, acabei tropeçando num ressalto da calçada malconservada, e acabei quebrando o pé. Agora estou eu aqui vivendo na pele a dificuldade que eu nunca tinha imaginado. Hoje vejo que é uma proeza andar por aí quando se tem uma condição minimamente diferente da “normalidade” (e olha que estou só com um gesso provisório no pé e com um par de muletas). Viver com alguma dificuldade de locomoção nessa cidade é como participar de uma corrida de obstáculos.


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