6 episodes

Com Bruno Peixe Dias (Bruxelas) e Soraia Simões de Andrade (Lisboa)

Conversas anartísticas sem guião pontuadas por história das ideias e músicas entre dois autores melómanos (um tradutor, uma escritora e investigadora); às quais se juntam, algumas vezes, outros autores melómanos indiferentemente da disciplina artística em que laboram.

POPOL BUG

Não existe diferença sem mimese, nem nada que não o seja: diferente.
É de letras e poemas musicados, de músicas sem os vocábulos do léxico, de sonidos ou vocalizações, das mais veladas às mais guturais, de editoras e de streaming, de canções, em locais emparedados e sem paredes, dialogistas em experiências distintas, ora como participantes delas ora como ouvintes remotos de matrizes sonoras maternais, e, por isso, não menos indisputáveis nos nossos percursos, que falamos; tentaremos pouco que estamos cansados de nos ouvir. A premissa é voltar a escutar esses fonogramas, recuperar histórias tentando reproduzir o entusiasmo daquela primeira vez que fomos tocados pelos primeiros acordes de um disco ou os que não nos entraram nos tímpanos nem à lei da bala apesar de anos mais tarde não os conseguirmos largar.
Nenhuma banda nasceu de geração espontânea, nenhuma filosofia, sequer deidade simbólica, é indestrutível.
Todas as alturas em que matamos os tempos rebeldes aos discos e aos livros; para neles enrijecer e reconstruir a memória, pessoal ou colectiva, e os muitos chãos pisados entre concertos, danças, projectos edificados, aqui convergem. Alturas, em que podemos mudar as lentes, renovar a graduação, reajustar as agulhas do prato e as tonalidades discursivas, juntando as votadas ao desprezo e deixando umas tantas naquele outro lugar da estante improvisada num barracão granítico ao qual não desejamos regressar.
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2024 AH!, associação Mural Sonoro
montagem sonora: Paulo Lourenço
pequenos textos, sinopses, dos episódios: Soraia Simões de Andrade

Popol Bug Soraia Simões de Andrade e Bruno Peixe Dias

    • Arts

Com Bruno Peixe Dias (Bruxelas) e Soraia Simões de Andrade (Lisboa)

Conversas anartísticas sem guião pontuadas por história das ideias e músicas entre dois autores melómanos (um tradutor, uma escritora e investigadora); às quais se juntam, algumas vezes, outros autores melómanos indiferentemente da disciplina artística em que laboram.

POPOL BUG

Não existe diferença sem mimese, nem nada que não o seja: diferente.
É de letras e poemas musicados, de músicas sem os vocábulos do léxico, de sonidos ou vocalizações, das mais veladas às mais guturais, de editoras e de streaming, de canções, em locais emparedados e sem paredes, dialogistas em experiências distintas, ora como participantes delas ora como ouvintes remotos de matrizes sonoras maternais, e, por isso, não menos indisputáveis nos nossos percursos, que falamos; tentaremos pouco que estamos cansados de nos ouvir. A premissa é voltar a escutar esses fonogramas, recuperar histórias tentando reproduzir o entusiasmo daquela primeira vez que fomos tocados pelos primeiros acordes de um disco ou os que não nos entraram nos tímpanos nem à lei da bala apesar de anos mais tarde não os conseguirmos largar.
Nenhuma banda nasceu de geração espontânea, nenhuma filosofia, sequer deidade simbólica, é indestrutível.
Todas as alturas em que matamos os tempos rebeldes aos discos e aos livros; para neles enrijecer e reconstruir a memória, pessoal ou colectiva, e os muitos chãos pisados entre concertos, danças, projectos edificados, aqui convergem. Alturas, em que podemos mudar as lentes, renovar a graduação, reajustar as agulhas do prato e as tonalidades discursivas, juntando as votadas ao desprezo e deixando umas tantas naquele outro lugar da estante improvisada num barracão granítico ao qual não desejamos regressar.
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2024 AH!, associação Mural Sonoro
montagem sonora: Paulo Lourenço
pequenos textos, sinopses, dos episódios: Soraia Simões de Andrade

    Episódio 6

    Episódio 6

    Como reanimado no episódio anterior pela moça escrevente deste podcast, escorrendo diante de quem nos ouve tautologias nietzschianas que há muito a acompanham; se há, porventura, uma verdade mais líquida que as outras, a de que a vontade sustém uma orientação para o poder, parece ainda evidente.
    Prefigura-se na imagem ora eidética do universo artístico ora como uma captura momentânea de um pequeno lago transparente à procura de não se afundar nas massas pouco líquidas que cercam o fundo dos mares mais poluídos.
    O paroquialismo da televisão nos anos do fascismo, uma certa vertente pedagógico-propagandística da caixinha qualificada de 'mágica', fabricante das ilusões e soluções para quem a assistiu desde o primeiro momento e acompanhou a sua transição: dos jogos espelhados de uma cultura a preto-branco para o exercício pós-cultural e a cores, com todos os sentidos que não só a visão, num mundo que se vaticinava global e sem anzóis ou iscos homogéneos, foi transladada para as redacções dos jornais, e das redacções para as redes sociais.
    A uma escassez dos tempos lentos e ao culto das leituras superficiais contrapõem-se retratos adornados com livros e discos. Mas a escassez de tempo subtraiu os mergulhos fora do ecossistema televisivo-cibernauta. Porventura teremos nos perdido em algum momento numa atmosfera de aterradora cacofonia. O extenuante scroll down confunde-se com a audição de um álbum completo ou a leitura em papel de um livro, e estes com os códigos mais íntimos do instinto de sobrevivência dos artistas.

    A arte e o jornalismo desmaiam à vez na torrente de estímulos e notificações. Há excepções. Mas poucos são os que conseguem destrinçar as algas menos comestíveis das nutritivas quando já se alimentam em monodietas de fast-food..
    Esmorecemos num mar indistinguível centrado na auto-promoção dos peixes que embora se mostrem como as sereias mais vistosas, dando a aparência de um intelecto, nunca alcançam o intelecto em si, nem por si.

    A paulatina falência dos órgãos humanos vitais imiscui-se nas necessidades económicas que outrora alimentavam bem aquele que já designámos de quarto poder.

    O jornalismo cultural não escapou ao desânimo crescente dos artistas nem às imposições das instituições culturais; ainda que, aparentemente, tenha trazido leitores e escreventes para as redes sociais.
    Há uma baleia a navegar no mar morto. Creio que não houve ainda um corte radical com as aspirações trazidas pelo modelo televisivo e a sua lógica de audiências nos anos oitenta e noventa do século passado, mas antes uma transferência das vontades do modelo televisivo para as redacções dos jornais e destas para as redes sociais, sendo, ao contrário do que se previa inicialmente, as lógicas comuns e subsistem em realimentação. A polémica e o voyeurismo transformou-nos em guionistas da nossa 'verdade'.
    O que o jornalismo diz ser e aquilo que já não pode ser não se condoem com aquilo que poderiam ser. Nomear a sua necessidade mais urgente, a de assunção da vulnerabilidade como nos diz Vítor Belanciano, autor e antropólogo-ensaísta, jornalista de cultura há trinta anos, com uma presença duradoura e conhecida enquanto crítico musical, acusado de plágio por uma leitora-investigadora em jornalismo (Joana Fillol) há dois anos, talvez fosse o primeiro acorde a alinhar para uma progressão sonora contrapontística e renovadora do estado da arte.
    Face à crise de confiança generalizada, à precarização dos meios, ao patamar de credibilidade e de legitimação que outrora lhe dera a aura de poder agora perdida, ao desfasamento entre velhos preceitos sob o qual se rege ainda a prática jornalística tendo em consideração os desafios contemporâneos, o que pode, afinal, o jornalismo?
    A dias do cinquentenário do 25 de Abril, foi esta a nossa conversa em língua franca, e iniciada há mais tempo que o do episódio que agora disponibiliz

    • 3 hr 8 min
    Episódio 5

    Episódio 5

    As contradições da criação, nós e os outros, nós nos outros

    Não para assinalar a efeméride e o seu quinquagésimo aniversário, já que procuramos cumpri-la, apesar de todas as dificuldades sociais e culturais, ao longo dos anos, temos dois debates no Popol Bug.

    No primeiro voltamos a ter connosco o anarquista coroado, Elagabal Aurelius Keiser, daqui a umas semanas o jornalista-crítico Vítor Belanciano.

    A partir de um trecho fílmico do documentário Around the World With Orson Welles, do lettrisme e da poesia sonora, escolha da mulher escrevente deste podcast, lançamo-nos a um conjunto de assuntos que tem aumentado o volume e a tensão de nossas sensibilidades estéticas e pensantes.

    O movimento preconizado pelo romeno Isidore Isou, ajuda-nos a traçar e estraçoar avenidas de compreensão marcadas pela criação de intervalos rítmicos e sónicos, por rimas, aliterações e paralelismos, por assincronias e anfibologias nas relações das imagens e dos sons. Mas não só.

    Por via dos desvios de vanguardas que nos precederam, voltamos ao debate das ideias, como o da suposta morte da arte, enunciado de alguns autores, a vontade de poder, os direitos de autor, as estruturas culturais e o que é isso de ser uma entidade independente sendo estruturalmente semelhante a estruturas dominantes na sua exploração. Se o autor está ao serviço da estrutura, no sentido em que não aufere nenhuma recompensa pelo seu trabalho se não tiver como mediador esses papões (um contrato editorial, uma mediação da SPA com mapas de vendas que permitem aferir quanto cabe ao autor e assim recompensá-lo ao longo da vida) trata-se de abuso e de mais um braço do capitalismo, por mais pequeno que seja. Neste episódio há quem desenhe, com gozo perverso, a cultura kinky e BDSM, e talvez isso fosse suficiente para entender que há várias maneiras de contradizer as contradições discursivas dos que gozam de visibilização mediática, no fundo no livro de desenhos Mistérios da Castração de Urano houve quem quisesse mandar para o c*r*lh* as estruturas e as mega-estruturas, as suas promiscuidades e o seu ego-trip, que é como dizer escrevendo: todos aqueles que alimentam estas trapaças, onde pretensos artistas se tornam coleccionadores das suas obras para assim terem valor no Imenso Comércio do Nada, título do ensaio em andamento da moça: as press releases, as galerias, as técnicas publicitárias que querem persuadir permanentemente como se as nossas caixas de e-mail fossem receptáculos da REMAX pós-cultural mesmo que à entrada tenhamos ‘esta caixa não aceita publicidade’, ainda menos quando vier embrulhada como se de uma recensão empenhada em mudar o estado de sítio se trate. A caminho da meia-idade a força da dita juventude não esmoreceu, apenas se tornou mais selectiva e impaciente.

    Diálogo a três, ou mais, por estarem à mesa os nossos fantasmas predilectos. Ora em consonância ora em dissonância, ressuscitamos o Gil Wolman, o Maurice Lemaitre, o Gabriel Pomerand, o Guy Debord que enveredaram pelos recitais letristas e pela publicação de revistas como a Dictature Letriste e a Ur; o Nietzsche e o Hegel, o Antonin Artaud, o dadaísmo e a anarte, as causas e os propósitos daquilo que andamos por aqui a fazer pejados de contradições que urge enfrentarmos todos os dias e cada vez mais.

    Terminamos com sexo e soul-music, dizem que é assim que muitas discussões acabam bem, na cama, se for consistente e não do IKEA, de outra maneira podemos acabar, impotentes e no chão.

    • 2 hr 28 min
    Episódio 4

    Episódio 4

    Salvar as Estruturas Humanas

    Numa altura em que o humano se vai perdendo vagarosamente, ‘mas não é a cor que desmaia’ como escreveu Osvaldo Alcântara, pseudónimo poético de Baltazar Lopes da Silva; as cicatrizes da vida, o deboche e as religiosidades, as histórias do esclavagismo, da febre amarela, e das doenças venéreas estão neste episódio lado-a-lado com um corpo musical de raízes densas em crioulo, tão fortes que se afirma hoje parecendo ter um futuro auspicioso tendo em consideração o número de ouvintes; daí passamos para a Grande Depressão económica norte-americana e a prodigiosa Memphis Minnie que emerge como se de uma ‘pandemia ianque’, o rock’n’roll, se tratasse na União Soviética; ainda visitamos um planeta bastante colorido, satírico, e electrónico com nome de mulher que temos pena de não ‘ouver’ num filme do Almodóvar, pelo kitsch, pelas fantasias, por livros que lemos ou andamos a ler e pela grande música do improviso, becos com e sem saída.
    Não por força desta realidade, mas também não necessariamente pela abstração dela, a interlocutora adverte que chamou ao Francis Black: Black Francis, mas isso é porque ainda não se compôs, estes anos todos, por ele não ter valorizado a grande Kim Deal em Pixies. Para sermos honestos, estava dopada por causa da gripe e o companheiro de faladura, qual quadrilheira de companhia, também estava dopado e não fez o favor de a corrigir.
    Para saber mais sobre o que se fala e escuta é picar para ouvir.

    Nota: a gravação, com pequenas falhas de internet, deixa por vezes o raciocínio suspenso, contamos com um melhor router de segunda geração nas próximas conversas e mais debate de ideias.
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    Recolha com Bilan sugerida na conversa: https://www.muralsonoro.com/mural-sonoro-pt/2015/9/17/bilan-intrprete-compositor-cabo-verdiano

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    2024 AH!, associação Mural Sonoro
    montagem sonora: Paulo Lourenço
    micro textos/sinopses dos episódios: Soraia Simões de Andrade

    • 2 hr 18 min
    Episódio 3

    Episódio 3

    Outro Estado da Consciência

    Desta vez o nosso micro plenário sonoro foi gravado no dia de eleições em Portugal a partir de três cidades: Bruxelas-Lisboa-Berlim, e contou com uma terceira voz, a de Elagabal Aurelius Keiser, nome de guerra. Alguns reconhecê-lo-ão pelos desenhos para capas de livros e cadernos (ou entre páginas), como os de António Barahona, de Sandra Andrade, de Soraia Simões de Andrade. Mas, isso é uma ínfima parte daquilo em que se tem envolvido; Keiser é também autor de um livro de desenhos, Mistérios da Castração de Urano, publicado pela Douda Correria há sete anos.
    No prelo está um segundo livro de desenhos do autor na colecção ثريا dos Cadernos AH! em papel; será, coincidentemente, o segundo desta compilação de sete. Na colecção digital de Cadernos AH! publicada no website Mural Sonoro trimestralmente poderão lê-lo (Caderno AH! nº1 intitulado A Prova do Vácuo II).

    Fez um mestrado em escultura, um doutoramento em Estética; esfalfado na cátedra das Belas Artes decidiu prosseguir a sua investigação de modo independente: tem explorado, entre outros assuntos, a relação da performance com a especulação da 'Morte da Arte'. Co-criou com os performers e coreógrafos Mariana Tengner Barros, António Mv e Rogério Nuno Costa, o projecto Bela TV, retirado escandalosamente da internet devido a conteúdos 'de coisinhas menores' explícitas, ou por aquelas manias da propriedade privada com que pincelaram o décor, vá-se lá saber... Desenvolveu várias performances como anartista e exposições em Berlim, onde reside desde a Troika, integrando o colectivo de artistas do Bestarium e da associação Mural Sonoro.

    Se quiserem saber por que razão a arte a que chamamos contemporânea é capaz de ser uma continuação do romantismo, e como é que os historiadores da arte, da cultura, da música, em menos de um século irão agregar tudo o que fizermos a esta nominata (r o m a n t i s m o), terão de ouvir este episódio profético.
    Pensando melhor, se o romantismo, ao ser teorizado, fez uma ruptura com o mundo clássico mais dura que movimentos anteriores, talvez vos consigamos converter a esta tese.

    Deslindamos a irracionalidade do sublime ao som da ‘Moss Garden’ de Bowie; descemos ao inferno, tudo ao contrário da beleza apolínea e racionalizável. Votamos na substituição do prazer pelo gozo perverso, no sentido freudiano, enquanto pomos os ouvidos pela enésima vez no moog synthesizer de Fricke, e nos voltamos a inclinar para o yoga, para o marxismo, para amanhãs que sussurram ilhas de utopia e satori, para a tão industrializada Düsseldorf e as capitosas Berlim e Munique. De uma certa maneira, para as manias da arte de que já os gregos falavam.

    AH! Popol significa povo, Bug não carece de tradução.
    Terminamos o encontro a três agitando o UK com um álbum de 2011, de uma mulher, e que mulher: um fonograma que tece a teia harmónica motivada pelo mal-estar da guerra, da memória, do abrigo desabrigado das raízes quando exploradas tardiamente. Não esquecemos deslocações, fraseados musicais, sequer os intentos discursivos das músicas feitas de detritos, de ruídos e silêncios, de sons da natureza e de melodias arremessadas onde o canto é fantasmagoria ancestral… Procurando, sempre, ajustar e contrapor as experiências aos mesmos gravadores ainda que em velocidades díspares, pelo meio voltamos a sugerir livros como becos onde umas brechas ainda possibilitam fugas.

    • 2 hr 24 min
    Episódio 2

    Episódio 2

    Perverter tradições: Masculino- Feminino, Erotismo-Poder, Máquinas-Humano

    Voltámos a perambular pelas  estantes de discos e livros, harmonizando — entre intervalos, mistérios, realidade, biografias pessoais e fantasia —, a mesma perversão de códigos do primeiro programa, quer no que diz respeito à notação musical como a elementos linguísticos e sonoros. Os corpos trazidos à luz neste segundo episódio são de mulheres: autoras, compositoras e performers que desafiaram tradições penosas e lampejos de uma língua presa às bíblias e demais determinismos de fonte comum.

    Autoras que subverteram ou subvertem a tradição, o masculino, o feminino, as máquinas, até teomitias religiosas. Intérpretes que talharam raízes e lapidaram com fino  esmero dispositivos tecnológicos, procurando ressignificar noções de presencialidade, erotismo, poder e identidades.

    Na orquestra polifónica de hoje convivem arranjos e disposições lexicais incomuns, sinfonias, improvisações e tumultos, títulos de livros e editoras. Um mundo de oficinas poéticas, baixos, baterias e mbiras. 

    Dilaceramos os fantasmas presos à memória mais selectiva e percutimos detalhes mais e menos impressivos destas vidas que, graças (e glória) às artes musicais, reluzem e se refugiam nas claves omissas dos sentidos.

    Além dos discos, há livros e textos mais e menos ensaísticos sugeridos nesta conversa ao correr das músicas (terão de escutar o episódio).

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    2024 AH!, associação Mural Sonoro
    montagem sonora: Paulo Lourenço
    micro textos/sinopses dos episódios: Soraia Simões de Andrade

    • 2 hr 52 min
    Episódio 1

    Episódio 1

    Conversas anartísticas sem guião entre dois melómanos (um tradutor, uma escritora e investigadora) às quais se juntam, algumas vezes, outros autores melómanos indiferentemente da disciplina artística em que laboram.


    Não existe diferença sem mimese, nem nada que não o seja: diferente.
    É de letras e poemas musicados, de músicas sem os vocábulos do léxico, de sonidos ou vocalizações, das mais veladas às mais guturais, de editoras e de streaming, de canções — em locais emparedados e sem paredes — dialogistas em experiências distintas, ora como participantes delas ora como ouvintes remotos de matrizes sonoras maternais, e, por isso, não menos indisputáveis nos nossos percursos, que falamos — tentaremos pouco, que estamos cansados de nos ouvir – a premissa é voltar a escutar esses fonogramas, recuperar histórias tentando reproduzir o entusiasmo daquela primeira vez que fomos tocados pelos primeiros acordes de um disco ou os que não nos entraram nos tímpanos nem à lei da bala apesar de anos mais tarde não os conseguirmos largar.
    Nenhuma banda nasceu de geração espontânea, nenhuma filosofia, sequer deidade simbólica, é indestrutível.
    Todas as alturas em que matamos os tempos rebeldes aos discos e aos livros; para neles enrijecer e reconstruir a memória, pessoal ou colectiva, e os muitos chãos pisados entre concertos, danças, projectos edificados, aqui convergem. Alturas, em que podemos mudar as lentes, renovar a graduação, reajustar as agulhas do prato e as tonalidades discursivas, juntando as votadas ao desprezo e deixando umas tantas naquele outro lugar da estante improvisada num barracão granítico ao qual não desejamos regressar.

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    2024 AH!, associação Mural Sonoro
    montagem sonora: Paulo Lourenço
    textos/sinopses dos episódios: Soraia Simões de Andrade
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    pedaços do argumento e da pesquisa para o documentário de Alexandre Nobre citado: https://www.muralsonoro.com/mural-sonoro-pt/2015/12/31/angola-o-itinerrio-da-palavra-na-cano-e-a-emancipao-da-cultura-popular-face-ao-imperialismo-portugus-1961-1975-por-soraia-simes
    considerações sobre a braguesa, título de disco citado e sobre a guitarra:
    https://www.muralsonoro.com/mural-sonoro-pt/2014/3/5/viola-braguesa;
    https://media.rtp.pt/extra/eventos/guitarra-coimbra-soraia-simoes-conta-historia-deste-patrimonio-imaterial/
    breves sobre a quimera punk em Portugal:
    https://www.ruadebaixo.com/do-novo-rock-a-quimera-punk-em-portugal.html

    • 1 hr 32 min

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