O Macaco Elétrico

@PauloSilvestre

Jornalista (preferencialmente digital), educador (preferencialmente digital), trabalhando para tornar o mundo um lugar melhor

  1. Quando a IA melhora e piora a educação

    HÁ 6 DIAS

    Quando a IA melhora e piora a educação

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 A inteligência artificial pode e deve ser usada nas salas de aula, mas se não for do jeito certo, pode piorar muito a educação. Nos últimos dias, a proposta de uma escola americana que trocou professores por plataformas de IA ganhou destaque no noticiário. Mas apesar de seduzir famílias interessadas em inovação e dispostas a pagar uma mensalidade equivalente a R$ 18 mil, a ideia promove um profundo desserviço para a educação. Criada pela influenciadora MacKenzie Price em Austin e já presente em outras dez cidades no país, a Alpha School dedica apenas duas horas diárias a disciplinas tradicionais, como linguagem e matemática. Para ela, “as salas de aula são o novo campo de batalha global”. Todo o processo de aprendizagem é conduzido por sistemas de IA, que prometem ajustar o progresso ao desempenho individual dos estudantes, que não são divididos em séries. O restante do tempo na escola serve para socialização, oficinas e projetos em temas como empreendedorismo, oratória, liderança e educação financeira, baseados em metas e recompensas. Para essas atividades, os alunos são auxiliados por “guias” (que não são professores), também orientados por IA. Esse verniz de modernidade parece uma ótima ideia. Mas quem propôs isso não sabe o que é a inteligência artificial e muito menos o que é educação. O tema foi debatido no painel de IA na educação no AI Summit Brasil, que aconteceu na semana passada em São Paulo, do qual participei. A conclusão foi que a IA pode e deve ser usada na escola, mas só trará resultados positivos se for implantada sob orientação de educadores, fugindo de modismos e de propostas espalhafatosas. Mas, então, qual o caminho da IA na educação? É sobre isso que falo nesse episódio. E você, o que acha de propostas como a da Alpha School?

    9min
  2. Mortes entre quem faz “terapia por IA”

    31 DE AGO.

    Mortes entre quem faz “terapia por IA”

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Não se pode ignorar os casos de pessoas que faziam “terapia por inteligência artificial” e se suicidaram. Desde que o ChatGPT foi lançado, há dois anos e meio, ele vem sendo usado como “psicólogo” por uma quantidade grande (e crescente) de pessoas. A princípio, parece uma boa ideia: ele é uma “voz amiga” sempre disponível para ouvir lamúrias e dar “bons conselhos”, sem julgamentos e ainda de graça. Mas, como já expliquei nesse espaço em mais de uma ocasião, esse é um dos piores usos que alguém pode fazer da inteligência artificial generativa. Em primeiro lugar, do ponto de vista do processo terapêutico, é ineficiente. Justamente pela sua falta de humanidade, essas plataformas não só podem não ajudar os pacientes a encontrar soluções para seus problemas, como ainda podem agravá-los. Mas um caso recente me fez pensar em um novo aspecto grave das “terapias por IA”. A história com final trágico de uma jovem americana expôs uma seríssima limitação dos terapeutas-robôs: eles não conseguem romper os limites daquelas conversas para avisar familiares e autoridades se algo terrível estiver prestes a acontecer. Isso não é um detalhe. Para profissionais de saúde mental, essa ação é uma obrigação legal que ajuda a salvar vidas. Há crises que a terapia não consegue resolver e, por isso, precisam ser encaminhadas para outras instâncias. Entretanto, a IA generativa não é um psicólogo, e, por isso, não segue o código de ética ou outras regras da profissão. E mesmo que quisesse seguir, não conseguiria. É aí que um uso ruim se torna perigoso demais. Mas, afinal, que o problema de se usar a IA como “psicólogo”? É sobre isso que falo nesse episódio. E você, o que acha de usar essa tecnologia com essa finalidade?

    9min
  3. A interface universal de computadores e celulares

    25 DE AGO.

    A interface universal de computadores e celulares

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 A maneira como usamos diferentes programas e aplicativos de produtividade em nossos computadores e celulares pode estar com os dias contados! Com o avanço da inteligência artificial, navegar por muitas telas de sistemas distintos para coletar informações tende a ser substituído por simples conversas com um robô. Mas como tudo que se refere a essa tecnologia, precisamos compreender bem a proposta para que um benefício não se transforme em uma armadilha. Especialmente no mundo dos negócios, mesmo com a ampla digitalização de processos, obter informações para uma tomada de decisão pode ser uma tarefa morosa e sujeita a falhas. Uma nova geração de assistentes de IA promete resolver isso, entendendo o que o usuário deseja e acessando todos os sistemas necessários para coletar os dados e organizá-los em uma resposta pronta. Mais do que uma evolução técnica, esse movimento nascente traz uma mudança de paradigma na experiência do usuário e na governança de dados. Essa camada transforma sistemas complexos em “motores de dados” para respostas contextuais. Os benefícios são evidentes, com ganhos em eficiência e produtividade. Mas alguns riscos não podem ser ignorados, como o aumento da dependência tecnológica e uma potencial exclusão digital entre aqueles que não souberem usar a IA. Para muita gente, pode parecer um contrassenso alguém não conseguir usar uma tecnologia criada para facilitar processos. Mas precisamos entender que isso depende de habilidades que nem todos têm. Nesse caso, a sociedade precisa se organizar para capacitar essas pessoas, evitando ampliar o abismo digital já existente no país, e as empresas têm um papel fundamental nesse processo. Você sabe como usar a IA dessa maneira?

    9min
  4. Os outros culpados das denúncias do Felca

    18 DE AGO.

    Os outros culpados das denúncias do Felca

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 O que sobrou para dizer sobre a rede de pedofilia online denunciada por Felca? Por exemplo, mostrar os responsáveis indiretos por essa tragédia social. O Brasil está em polvorosa desde que ele denunciou a pedofilia nas redes sociais em seu vídeo “Adultização”. Mais do que bem-vindo, o movimento é essencial para resgatarmos uma sociedade civilizada, que proteja crianças e adolescentes. Mas corremos o risco de que o problema seja tratado de maneira superficial e –pior ainda– que acabe em uma escandalosa pizza. O influenciador apontou os responsáveis mais evidentes, como personalidades digitais que exploram a erotização de crianças, os pedófilos que inundam as redes sociais e até pais e mães que, por ação, omissão ou ignorância, colocam os próprios filhos em risco. Mas essa situação também resulta de uma sociedade que, nos últimos 15 anos, se acostumou com todo tipo de barbaridade e até se beneficia delas. O maior exemplo é a classe política. Apesar desses abusos contra os mais jovens serem conhecidos e debatidos há anos, bastou a comoção criada por Felca para o surgimento de dezenas de projetos de lei para combater esse delito. Porém mais grave ainda são os parlamentares que querem impedir que uma solução avance. É o caso também das plataformas digitais, que apresentam um discurso de proteção a crianças e adolescentes, mas que se beneficiam largamente dessas práticas criminosas, que acontecem de maneira explícita em suas páginas, em perfis com milhões de seguidores. Em vez de combaterem a prática, elas desmantelaram suas próprias estruturas de moderação de conteúdo e de proteção. Em seu lugar, montaram poderosos esforços de lobby para convencer políticos a defenderem seus interesses. Não satisfeitas, associaram-se ao presidente americano, Donald Trump, para usar o poder dos EUA para achacar países que buscam soluções. Além de combater os criminosos óbvios, a sociedade precisa, portanto, enquadrar aqueles que sustentam a estrutura para essas atrocidades. Que sugestões você propõe? Nesse episódio, indico alguns caminhos.

    9min
  5. Euforia pela IA e cibersegurança no seu cotidiano

    11 DE AGO.

    Euforia pela IA e cibersegurança no seu cotidiano

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Se você acha que a influência da inteligência artificial na cibersegurança não afeta você pessoalmente, pense de novo! Claro que as manchetes de invasões a grandes empresas são mais vistosas. Por exemplo, no dia 2 de julho, o Brasil acordou com a notícia do maior crime digital da sua história: o ataque à C&M Software, que desviou pelo menos R$ 800 milhões de instituições financeiras conectadas ao Pix. Não houve violação ao sistema, pois os criminosos fizeram as transferências usando credenciais legítimas de um prestador de serviços. Isso demonstra que a cibersegurança não pode mais se limitar à proteção da estrutura de TI, precisando envolver pessoas, dados e processos. A IA destaca ainda mais o tema, que deve ser visto como um pilar dos negócios. Essas foram algumas das principais conclusões da Conferência Gartner de Segurança e Gestão de Risco, que aconteceu na semana em São Paulo. A mensagem central do evento foi que gestores não podem ignorar ou combater a euforia em torno da IA, e sim usá-la como motor de mudanças planejadas. Tanto que, segundo a consultoria, até 2026, metade dos executivos de alto escalão deverá ter indicadores de performance em cibersegurança atrelados aos seus contratos de remuneração, e isso não se restringe aos líderes de tecnologia. Não dá para ser diferente. Os bandidos já usam a IA para sofisticar seus ataques, como na adoção de agentes de IA que imitam o comportamento humano para burlar proteções de segurança. Assim, a IA automatiza ameaças em grande escala. Agora, preste atenção: com a “Internet dos humanos” evoluindo para dispositivos ligados às pessoas (e eventualmente controlando funções vitais, como um marcapasso conectado), hackers poderão ameaçar vidas remotamente. Nesse cenário, a preocupação não deve ser se estamos seguros, e sim se estamos tomando medidas adequadas para mitigar ameaças dentro do nosso apetite de risco. Mas você sabe fazer o que precisa?

    10min
  6. IA ameaça a sua própria existência

    4 DE AGO.

    IA ameaça a sua própria existência

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Como a inteligência artificial ameaça a sua própria existência? As primeiras plataformas de IA generativa, como o ChatGPT, se aproximam de seu terceiro aniversário. Em tão pouco tempo, conseguiram a proeza de mudar a maneira como buscamos informação. Mas apesar de suas vantagens inegáveis, elas ameaçam seriamente a maneira como a Internet se organizou e ironicamente a própria sobrevivência desses sistemas. Nos últimos 30 anos, redes sociais e buscadores construíram seus impérios de mídia com conteúdo alheio. Apesar de alguns produtores desse material, especialmente veículos de comunicação, contestarem o modelo, essa usurpação sempre foi justificada com essas plataformas encaminhando seus usuários aos sites dos autores, que faturam com publicidade. Como a IA entrega respostas completas, as pessoas não precisam mais clicar nos links para se aprofundar. Isso está achatando a audiência e as receitas dos criadores de conteúdo, que tentam fazer com que as big techs paguem pelas informações. As empresas de mídia são as vítimas mais visíveis, mas o problema afeta todo mundo. Os caminhos abertos pela inteligência artificial não têm volta. Mas a ganância sem limites e o desrespeito aos direitos autorais das gigantes de tecnologia podem, em médio prazo, matar sua “galinha dos ovos de ouro”, pois a IA precisa continuamente de novas informações confiáveis para continuar funcionando bem. Se os atuais produtores de conteúdo quebrarem e novos não surgirem pelo risco de terem seu trabalho roubado por essas empresas, não haverá mais nada para alimentar a besta digital. E então o modelo pode entrar em colapso. Obviamente isso não interessa a ninguém! Nesse episódio, eu analiso causas e sugiro saídas para esse problema. E você, acha que as big techs deveriam pagar pelo conteúdo que usam para treinar suas plataformas de IA?

    9min
  7. EUA afrouxam ética da IA para vencer a China

    28 DE JUL.

    EUA afrouxam ética da IA para vencer a China

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Por que os EUA afrouxaram a ética da inteligência artificial para vencer a China? O plano de IA americano, divulgado na quarta passada, merece atenção. Apesar dos grandes avanços da China, os EUA ainda lideram nessa tecnologia. Assim, suas ações influenciam a IA no mundo. Além disso, mecanismos da proposta podem impedir o Brasil de acessar tecnologias de ponta. Mas o que mais preocupa é a escolha de uma política de desenvolvimento irresponsável e perigosa. A nova Guerra Fria acontece em torno da inteligência artificial. No anúncio do “Plano de Ação de IA dos EUA: Vencendo a Corrida”, Donald Trump não economizou palavras para deixar isso claro. O documento se concentra em três pilares: acelerar a inovação em IA, construir infraestrutura americana, e liderar a diplomacia e segurança internacionais no setor. Eles atendem diretamente a demandas das big techs, que combatem ferozmente qualquer restrição a seus produtos, nos EUA e principalmente no exterior. Essas regras vêm principalmente da Europa, mas também estão sendo criadas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Por aqui, o Marco da IA, aprovado pelo Senado Federal e francamente inspirado na Lei da IA europeia, está sendo discutido na Câmara. Por lá, Trump revogou a ordem executiva do governo anterior, que previa uma avaliação de risco no desenvolvimento de IA, e ameaça retirar recursos de Estados com leis mais restritivas. A nova diretriz manda às favas a prudência recomendada pelos maiores especialistas em IA do mundo. É um documento mais político que técnico, acenando aos eleitores radicais de Trump e às gigantes de tecnologia, essenciais para seus planos. A IA não pode ser vista como apenas “mais uma tecnologia”. Sua evolução desafia os próprios desenvolvedores e pode facilmente ser usada para criar severos danos à humanidade. Ao tratá-la de forma política, esses riscos crescem exponencialmente. Para entender melhor os impactos dessas medidas, convido você a ouvir esse episódio. E depois diga: elas são mesmo necessárias?

    9min
  8. O que ainda une os brasileiros

    20 DE JUL.

    O que ainda une os brasileiros

    Pílula de cultura digital para começarmos bem a semana 😊 Por que os ataques ao Pix reacenderam um sentimento de união nacional? A sociedade brasileira hoje difere muito do que era há 20 anos. Sempre tivemos divisões enraizadas em nossa cultura, algumas profundamente nocivas para determinados grupos sociais e prejudiciais ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Mas em tempos sem smartphones e principalmente sem redes sociais, aparentávamos viver em harmonia, ainda que mais frágil do que acreditávamos. A completa disseminação desses produtos digitais criou, nos anos seguintes, uma profunda rachadura na sociedade que inviabiliza o debate entre aqueles que se posicionam nos extremos opostos. Caiu por terra o mito do brasileiro cordial e colaborativo, dando lugar à intensa polarização. As causas disso sempre estiveram entre nós, nutridas no íntimo de extremistas antes contidos pelas regras da civilidade. Os algoritmos das redes sociais destravaram essas forças ao juntar quem tem os mesmos valores, e os smartphones passaram a reforçar essas ideias o tempo todo. Não demorou para que políticos de várias ideologias se apropriassem dessa polarização, criando uma espiral destrutiva da qual não saímos. Resta algo que ainda une os brasileiros? Nem a seleção de futebol, antes uma unanimidade, consegue fazer isso hoje. Nesse cenário, as absurdas exigências do presidente americano ao Brasil, feitas na semana passada, merecem atenção. Apesar de ter provocado forte indignação na maioria dos brasileiros, nem Donald Trump conseguiu unir a todos nós. Ainda assim, vale analisar aquelas que defendem os interesses das big techs e atacam conquistas tecnológicas e de proteção aos cidadãos do Brasil. Afinal, o Pix, criticado por Trump, é uma unanimidade nacional. Mas nada disso veio ao acaso. O ataque ao Pix esconde o apoio do atual governo americano ao projeto dessas empresas para se tornarem como Estados tecnológicos com poder geopolítico decisivo. Para entender os motivos por trás de tudo isso, convido você a ouvir esse episódio. E depois deixe nos comentários suas percepções sobre esses ataques ao Pix e a outros marcos civilizatórios brasileiros.

    9min

Sobre

Jornalista (preferencialmente digital), educador (preferencialmente digital), trabalhando para tornar o mundo um lugar melhor