Memória Futura Laura Falésia
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- Gesellschaft und Kultur
Entrevisto mulheres com mais de 80 anos sobre transformações sociais, liberdade e futuro.
Ideia, guião, narrativa e edição de som por Laura Falésia.
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Ep 3 [FINAL] · Gracinda de Jesus, 94 anos: "Tenho uma vida mais feliz depois de que estou viúva"
A Gracinda, que queria ser Graciete, engravidou e gestou três vezes, educou duas filhas, não namorou enquanto não se pagava o terreno que o pai tinha comprado para poder plantar árvores e terem sombra e fruto.
A Gracinda que se apaixonou pelo carpinteiro da aldeia porque não vinha sujo para casa, que era vista como a culpada das bebedeiras dele, a quem lhe gastaram o dinheiro na taberna.
Que começou a trabalhar aos 11 anos.
Que nunca foi à escola porque não havia ali ao pé. Que fez quase 100 quilómetros a pé para ir vindimar por um caminho perigoso. E depois voltou para casa pelo mesmo caminho, mas com dinheiro.
Que não foi ouvida pela Jacinta nem pelo Francisco, porque os pastorinhos não lhe salvaram a bebé, que foi a enterrar numa caixa de sapatos.
Que não nomeou as filhas nem Jacinta, nem Francisco, nem Graciete nem qualquer nome que gostasse.
Que ultrapassou a idade da mãe em três anos.
Que em dezembro de 2023 me deu esta entrevista deitada na sua cama, à hora de almoço, num quarto a cheirar a chá de cidreira, com sol de inverno e um frio de rachar na rua e um aquecedor aos pés da cama.
Que, quando eu me despedi, disse “até à próxima”, sabendo que não haveria próxima, e ela disse "até à próxima filha, muita sorte, espero ter dito qualquer coisa que ajude".
MÚSICA
Todo Este Céu, Fausto Bordalo Dias [música]
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Ep 2 · Gracinda de Jesus, 94 anos: "Votar? Era num qualquer, à sorte”
Neste episódio falamos de ab*rtar, Deus acudir a umas e não a outras e votar pela primeira vez sem saber ler.
FONTES
Malala e educação infantil, 2013 [vídeo]
Travessia do Deserto, José Mário Branco [música]
Discurso de Sá Carneiro PPD-PSD [vídeo]
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Ep 1 · Gracinda de Jesus, 94 anos: "Os rapazinhos de 13 anos ganhavam como uma mulher"
Neste episódio falo com a Gracinda de Jesus, de 94 anos, sobre fazer muitos quilómetros a pé para ir vindimar, bailaricos e os pequenos almoços da infância em 1935.
FONTES
Severa [filme completo]
Fole [documentário]
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Gracinda de Jesus, 93 anos [apresentação da temporada 7]
Na temporada 7 de MEMÓRIA FUTURA entrevisto a Gracinda, de 93 anos.O pequeno quarto onde conversei com a Gracinda era um rodopio silencioso de mulheres. A Raquel ia rindo das piadas da avó. A tia da Raquel, lá ao longe, cozinhava - no áudio há loiça a lavar e grelhados ao lume. E a mãe da Raquel aguardava que a conversa terminasse.Éramos 4: quatro mulheres juntas num quarto. Um quarto só para nós.A Gracinda deixou-nos em Janeiro. É uma grande honra ter recolhido o seu testemunho em vida.A voz das mulheres, a nossa voz, ficará para memória futura.
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Ep 3 [FINAL] · Amélia Espiridião Oliveira, 86 anos: "As pessoas têm que acordar!"
No último episódio da temporada - o mais longo! - falamos sobre castigos corporais, ser g.ay no Estado Novo e assédio. E acordar!
CONTACTO
@falesia_ [instagram]
laurafalesia@gmail.com
FONTES
O que ficou na memória: os castigos corporais na escola primária 1900-1960 [tese]
A resistência quotidiana dos homossexuais no Estado Novo [artigo]
Decreto-Lei n.º 27.279 de 24 de novembro de 1936
Protesto na Universidade de Lisboa: “O assédio nas faculdades existe e tem de ser tratado” [reportagem]
Acordai!, de Fernando Lopes Graça [música]
Liberdade, de Sérgio Godinho [música]
Nem mais uma palmada [site]
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Ep 2 · Amélia Espiridião Oliveira, 86 anos: "Nunca fui assim muito cuidadosa com a caligrafia"
Neste episódio falamos de Audre Lorde, aprender a escrever aos 4 anos e comunismo.
Ainda estou no rescaldo das legislativas de março de 2024. É inadmissível que num país tão pequeno como Portugal, mais de 1 milhão de pessoas tenha votado num partido de extrema-direita, racista, xenófobo e homo, bi, lés, transfóbico.
A memória é curta. E é por isso que têm que existir gravações de pessoas que viveram vidas longas.
FONTES
Educação Feminina no Estado Novo
(1938-1948): impacto na imprensa periódica [tese]
Quanto mais urgente é a escrita
Mais humilde o suporte.
Tudo o que realmente importa
foi escrito
em bilhetes de autocarro,
guardanapos quase translúcidos,
versos de sobrescritos,
pacotes de pastilha elástica.
E ninguém o compreende
porque quanto mais urgente
a escrita
mais ilegível a letra.
André Tecedeiro
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