Pergunta Simples

Jorge Correia
Pergunta Simples

Vivam! O Pergunta Simples é um podcast sobre comunicação. Sobre os dilemas da comunicação. Subscreva gratuitamente e ouça no seu telemóvel de forma automática: https://perguntasimples.com/subscrever/ Para todos os que querem aprender a comunicar melhor. Para si que quer aprender algo mais sobre quem pratica bem a arte de comunicar. Ouço pessoas falar do nosso mundo. De sociedade, política, economia, saúde e educação.

  1. 4 DAYS AGO

    Como reconstruir vidas de crianças marcadas por histórias difíceis? Rui Godinho

    Hoje, falamos de um tema urgente: a infância e como as experiências vividas nesta fase moldam o futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e proteção. O que acontece quando a proteção falha? Como podemos ajudar crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente, crianças maltratadas. Por vezes acordamos, chocados, com as consequências diretas de uma infância infeliz. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal, disse: “Estar na cadeia é melhor do que estar em casa.” Este caso, que começou com maus-tratos familiares e culminou numa tragédia, expõe um padrão: a comunidade, muitas vezes, não vê os sinais ou não age a tempo. “Este não foi um crime isolado”, ouvi eu explicar Rui Godinho. “Ele é o resultado de anos de negligência e violência.” Professores relataram que a jovem era agredida pelo pai à porta da escola, e ainda assim, ninguém interveio. Este caso levanta questões difíceis: por que motivo instituições como escolas ou centros de saúde não identificaram o problema antes? Provavelmente os sistemas de proteção estão desatualizados e focados apenas nos sinais mais óbvios, como pobreza extrema ou agressões físicas visíveis, enquanto maus-tratos psicológicos, mais subtis, continuam a ser ignorados. Quando a negligência ou maltrato é detetada, estas crianças são retiradas do seu ambiente familiar. Idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas para adoção. Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem mais do que boa vontade. “Estas crianças vêm de histórias difíceis”, ouvi eu “Muitas vezes, testam os limites dos novos cuidadores porque nunca tiveram estabilidade.” Rui Godinho dá um exemplo simples: quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adotivos como forma a verificar se os laços são reais. Esse comportamento não é de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança. De validar. Uma espécie de “vamos lá ver se gostas mesmo de mim a sério” O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que, em Portugal, ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que mais crianças pudessem ser acolhidas em famílias. A lei tem hoje várias possibilidades: da clássica adopção, às famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil. E o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes. E ao extremo oposto: os pais demasiado protectores. Fixem o conceito “hiperparentalidade negligente”. Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos, que impede as crianças de aprenderem a lidar com desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem, de forma segura. É nesse equilíbrio entre proteção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na Primeira Infância é crítica. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança.

    56 min
  2. 11 DEC

    Cancro: Quão importante é a palavra esperança? Susana Almeida

    Oficialmente é médica psiquiatra. Na prática, é uma ouvidora profissional ajudando pessoas a quem foi diagnosticado cancro. Ouve doentes, famílias e profissionais que tratam esta doença no IPO do Porto. Susana Almeida dirige o serviço de psiquiatria deste hospital. Mas de facto é uma especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento. No seu dia-a-dia aprendeu que a “A nossa cara diz muito sobre nós”, explicando que o trabalho de um psiquiatra começa antes mesmo de o doente nem sequer abrir a boca. É no detalhe que Susana encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, a hesitação ao caminhar, a escolha das palavras — tudo é revelador. Voltamos à observação da linguagem não verbal. Onde o gesto fala. E diz coisas que aa pessoas não conseguem colocar em palavras. É como se a palavra angústia estivesse em cada trejeito, tremura ou olhar vago. Claro, há o gesto e a palavra. Mas comunicar é também não comunicar. Explico-me: o não dito é uma forma de dizer. O desafio de Susana Almeida não é apenas escutar o que é dito, mas decifrar o que fica por dizer. A sua experiência diz-lhe que o confronto com uma doença grave é, muitas vezes, um momento de balanço. O momento da nostalgia do que poderíamos ter sido. O confronto com as escolhas da vida. Porque escolhi ser isto e não aquilo. Porque decidi estar com esta pessoa e não outra. Ou nenhuma. Perguntas sem resposta apaziguadora. E sem tempo para reviver. Depois há o confronto com o corpo. Com a possível ou real mutilação. Com o impacto no lar. Ouvi a história de uma mulher que recusava a ideia de ter de tirar uma mama porque os seios eram parte fundamental e inegociável da sua identidade pessoal. Mas este episódio não é só dor. É uma conversa carregada de energia e esperança. De pacificação, crescimento e possibilidade. Bem-vindos à discussão milenar da condição humana. Vale ouvir. Vale partilhar. A luta contra as grandes adversidades recolhe forças nos dias bons. Nos dias que passaram, nos dias que hão de vir. A alegria de um momento robusto de afetos funciona sempre como uma bateria. E as esperança do melhor como dínamo de energia. Vale sempre ouvir. Vale falar. Vale ser humano. Na mais universal das definições. RESUMO No Instituto Português Oncologia do Porto, num gabinete repleto de histórias não contadas, a psiquiatra Susana Almeida enfrenta diariamente as fragilidades da condição humana. Diretora do serviço de Psiquiatria, Susana Almeida é especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento. “A nossa cara diz muito sobre nós”, começa por explicar, sublinhando que o trabalho de um psiquiatra começa antes mesmo de o doente abrir a boca. É no detalhe que Susana encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, a hesitação ao caminhar, a escolha das palavras — tudo é revelador. “A observação do não verbal é essencial. Como alguém chega à consulta pode dizer mais do que qualquer exame.” No IPO, onde os doentes frequentemente enfrentam diagnósticos de cancro, estes sinais tornam-se ainda mais importantes. “Muitas vezes, as pessoas não conseguem verbalizar a angústia,

    54 min
  3. 4 DEC

    Quem conta as histórias do bairro? António Brito Guterres

    A maneira como narramos as histórias conta. Como contamos o que vemos. Como ignoramos o que não queremos ver. Neste episódio vamos ao bairro. Ao bairro que insistimos em não ver. O bairro são muitos bairros. Mas todos, sem exceção, são chamados periféricos ou de intervenção social. Um lugar onde tudo é difícil. Da vida até às histórias que se contam dele. O bairro veio ao Pergunta Simples. E simples é tudo o que o bairro não é. António Brito Guterres é um alquimista dos estudos urbanos. Da formação em assistência social ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver. Ele assume-se como um narrador das vidas que por lá se vivem. Ou sobrevivem. No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, mediante narrativas genuínas, auxilia-as a ressignificar as suas realidades. É alguém que acredita que toda a história merece ser contada — principalmente aquelas que ainda não saltaram os “muros” das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade. Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como as cidades são desenhadas, quem nelas vive e como podemos construir espaços mais justos e inclusivos. Ele trabalha nos “pontos de dor”, como ele próprio descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas: bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio. Durante a conversa, exploramos como as desigualdades estruturais perpetuadas pelo urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação. Falámos muito sobre Importância das Narrativas: Como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos ‘media’ tradicionais, ou nas redes sociais. As mesmas redes socais que abrem caminhos para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem desses bairros, desafiando preconceitos e estigmas. Músicos que nem sabíamos existirem até terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem as letras para a cantiga de protesto, artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional do que aparecem na televisão portuguesa. Quão surdos estamos para não querer ouvir estas vozes? Quão alto é o muro criado pelo urbanismo do betão feio? Do Urbanismo como ferramenta de exclusão ou emancipação: Falámos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar “gaiolas” em vez de trampolins sociais. Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da Pobreza: Mas não desistimos por aqui. Porque navegamos na cultura como Forma de resistência: A ascensão de artistas periféricos, como rappers e criadores culturais, que usam a arte para reescrever as narrativas dos seus territórios. Proponho que viajemos aos bairros. Ouvir. Simplesmente, ouvir. Há uma história que precisa de ser recontada. LER A TRANSCRIÇÃO DO EP...

    1 hr
  4. 27 NOV

    O que nos ensina o futebol sobre comunicação? Helena Costa

    Dizem que há três linguagens universais: a música, a matemática e o desporto. No desporto, o futebol destaca-se como a língua franca mais consensual. É um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia. São 11 jogadores contra outros 11. Um campo, uma bola, e tudo o que fazem parece ser compreendido por todas as pessoas. De José Mourinho ao adepto mais comum na bancada ou em casa. Todos sabemos quando era penálti. Todos vemos a genialidade de um passe ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso, mesmo que só joguemos no sofá. Mas o futebol é um paradoxo de comunicação: da simplicidade absoluta de “marcar um golo” à complexidade tática de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia. O futebol também é emoção. Hoje, o treinador é o melhor do mundo. Amanhã, devia ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar. Mas será que o futebol é só isso? Emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas de futebol: Helena Costa. Atualmente, Helena aparece nos grandes estádios da Europa, explicando-nos os jogos como poucos conseguem — de forma simples, acessível e direta, que até eu consigo entender. Helena Costa tem no currículo momentos extraordinários. Participou na formação de talentos de elite, como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou o desafio de ir ao Qatar para criar, do zero, uma seleção nacional feminina. E foi até ao Irão, um país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar. Esta conversa é sobre a comunicação no desporto de alta competição. Mas também é sobre talento, liderança e a melhoria constante do desempenho. A nossa convidada não é apenas treinadora e comentadora desportiva. Ela é também scout, ou seja, 'olheira' de talentos. Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que, um dia, vestirá a camisola da seleção nacional. E spoiler: não é só a técnica que conta. É também a rapidez de pensamento, a leitura tática e a capacidade de ver o jogo como um todo — a sua equipa, o adversário e o momento certo para agir. No entanto, mesmo os craques, ou talvez especialmente eles, nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores. Porque, no futebol, o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e a vontade de melhorar. E é aqui que entra a comunicação. É através dela que treinadores e jogadores se afinam, que talentos se desenvolvem e que equipas se tornam campeãs. Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que isso. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e, acima de tudo, sobre a condição humana. TEMPOS E TEMAS [00:00] Introdução ao PodcastTítulo: Boas-vindas e Introdução ao TemaResumo: O apresentador dá as boas-vindas aos ouvintes e introduz o tema do episódio, que explora a comunicação no futebol, destacando a universalidade do desporto e a complexidade da comunicação envolvida. [00:35] Apresentação da ConvidadaTítulo: Apresentação de Helena Costa Resumo: O apresentador apresenta Helena Costa, uma treinadora e comentadora desportiva de renome, mencionando a sua experiência em treinar jovens talentos e a sua atuação em diferentes países, incluindo Qatar e Irão. [01:35] Comunicação e Emoções no FutebolTítulo: A Complexidade da Comunicação no FutebolResumo: Discussão sobre como o futebol é um paradoxo de emoções e comunicação, onde a simplicidade de marcar um golo contrasta co...

    56 min
  5. 20 NOV

    Como usar a comunicação para influenciar? Pedro Coelho dos Santos

    Como é que a comunicação estratégica pode moldar perceções, inspirar ações e influenciar decisões? Descubra técnicas práticas, histórias reais e lições que transformam líderes em comunicadores eficazes.. Uma conversa sobre liderança e técnicas de comunicação usadas por todos os melhores e mais visionários líderes do mundo. Assim como por cá. Vamos falar de liderança? Todos temos uma ideia, um protótipo de líder ideal. Para mim um líder é aquele que me inspira, dá-me confiança e atraia-me para seguir uma visão do mundo, um sonho, um caminho. E para isso acontecer a liderança é, para mim, um puro ato de comunicação humana. Sim, eu sei que os líderes têm de tomar decisões. Mas tem, principalmente, de conseguir explicar porque escolherem aquele caminho e não o outro. É sobre isto o programa. Sobre pessoas que tem vontade de nos liderarem. E por isso falam-nos. Ao ouvido e ao coração. Que nós os humanos adoramos ser seduzidos e convencidos. Da mesma maneira que detestamos ser enganados, manipulados ou tratados como massas, ou, pior ainda, como irrelevante. Tem a palavras Pedro Coelho dos Santos. Um guru da comunicação. Ah, como sei que ele vai detestar este rótulo. O que ainda me diverte mais. O Pedro ajuda pessoas importantes a comunicar. E aceitou partilhar um par de segredos connosco. Lembro-me sempre dos 4 pilares fundamentais que usamos para avaliar os outros: São 4, para simplificar. Quatro prismas. O que conta é o que fazemos, como fazemos, como explicamos os que fazemos e como nos percecionam no que fazemos. Não fui eu quem inventou este conceito, foi um senhor de seu nome Dale Carnegie, um norte-americano nascido em 1888. Ele escreveu um célebre livro cujo titulo em português é “Como fazer amigos e influenciar pessoas”. Portanto, ser líder, ser um bom líder, implica comunicar bem. E comunicar bem é o cabo dos trabalhos. Acreditem em mim. Implica vontade, honestidade, preparação e ser genuíno. Uma receita de alta cozinha em forma de frases que nos ressoam no ouvido e na alma. É sobre tudo isto a conversa que gravei com Pedro Coelho dos Santos, comunicador com larga experiência no treino de líderes de empresas, organizações, políticos e todos os que dizem querer influenciar o mundo. No fundo, a arte da liderança cruza-se com a arte da fala em público através daquilo a que podemos chamar comunicação estratégica. Em português corrente: pensa antes de falar, treina muito e sê tu mesmo. Para que todo isto funcione há uma cola ou teste do algodão para testar se a coisas funciona. É a empatia. Não conheço nenhum bom líder moderno que não seja empático. E aceito ser contrariado nesta minha visão. É que é muito difícil comunicar sem gerar um sentimento de empatia. Ainda por cima é uma estrada de dois sentidos: boa comunicação pressupõe que o emissor tenha bons sentimentos pela audiência e vice-versa- Lembrem-se: comunicação é uma relação, não um tubo a despejar palavras, ideias ou ordens. Além de empatia, há que simplificar. Mais uma tensão para gerir: como ser simples sem perder a relevância da mensagem. Para se conseguir isso é preciso uma preparação extrema. Treinar, treinar, treinar.

    55 min
  6. 13 NOV

    A MÁQUINA DAS PERCEPÇÕES: QUER SABER A MAGIA? SUSANA SALGADO

    Hoje falamos da mais profissional, eficaz e eficiente máquina de criação e gestão das expectativas: a política. Usando as ferramentas da comunicação, os políticos de todo o mundo criam percepções favoráveis às suas causas. São essas percepções que permitem um suporte da opinião pública para as posições e decisões que os políticos tomam no nosso nome. E essa máquina das percepções obedece a regras e estratégias muito bem definidas. Pelo menos assim era no tempo dos ‘media’ tradicionais. Agora há um novo mapa a ser desenhado: o mundo alimentado pelas redes sociais. Trocaram-se os editores e jornalistas por robôs e algoritmos. E a comunicação política repensou a sua forma de fazer o que sempre fez: influenciar o pensamento da opinião pública. Com um refrescado conceito chamado polarização. Não é novo. Mas está na moda. Do telejornal às manchetes dos jornais. Da voz na manhã da telefonia até aos programas de debate. Do contacto direto com os cidadãos até à transmissão em direto de eventos criados precisamente para serem transmitidos. E agora as redes sociais: o velhinho Facebook onde todos continuamos a estar. O Twitter agora batizado de X, por onde correm as mais disputadas e virulentas discussões políticas e sociais. Ou mesmo o Instagram e o TikTok, lançados para criar atenção pela beleza da foto-autorretrato ou da dança da moda, entretanto transformadas em máquinas de ‘marketing’ directo. Estes dois mundos são o palco do mundo moderno. E quem deseja mandar no mundo, no planeta, do país, município, aldeia ou grupo sabe que tem de usar estes canais e criar receitas que nos agradem. Este programa é sobre o cruzamento da arte da comunicação com o da política. Numa frase: a comunicação política e a política na comunicação. A convidada é Susana Salgado, investigadora deste campo do saber no Instituto das Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Exploramos como os media e as redes sociais desempenham um papel crucial na maneira como as pessoas entendem a política e tomam decisões. A conversa aborda temas como a polarização, o efeito dos algoritmos das redes sociais e o impacto dos preconceitos cognitivos, que criam uma espécie de “bolha” em que cada um de nós vive, condicionando como recebemos e interpretamos as mensagens políticas. Um dos principais pontos de reflexão neste episódio é o impacto da comunicação polarizadora. Segundo ela, a política contemporânea tende a afastar os cidadãos do debate e a empurrá-los para os extremos, limitando a capacidade de entendimento e troca de ideias. Ela explora como, muitas vezes, os temas mais sensíveis ou “incómodos” são excluídos da discussão pública, não por falta de relevância, mas por uma espécie de censura social. Isso faz com que pessoas que partilham de opiniões não convencionais sejam empurradas para a margem, onde encontram espaço em movimentos ou partidos mais radicais. Esse fenómeno é reforçado pelas redes sociais, onde o anonimato e a liberdade de expressão permitem que as pessoas exponham visões mais extremas do que fariam em interações presenciais. Nesta conversa aprendi muito sobre o conceito de criação de agendas públicas. Em particular, como criar estratégias para colocar o nosso tema na agenda e criar percepções favoráveis ao nosso ponto de vista. Criar agenda,

    37 min
  7. 6 NOV

    COMO SUPERAR O MEDO DE DANÇAR? BRUNO RODRIGUES 

    Hoje vamos dançar. A forma mais natural em que acertamos o nosso movimento ao ritmo dos sons ou até dos pensamentos. Sim, hoje acertamos os passo na arte humana da dança. Dos mais talentosos dos bailarinos ao mais descoordenado dos seres. Eu pecador de confesso. E por isso convidei o actor, coreógrafo e bailarino Bruno Rodrigues para me ensinar sobre o movimento do corpo. Sou o mais descoordenado dos seres a habitar sobre a terra. Poderia dizer que tenho dois pés esquerdos, o que até poderia ser elogioso porque até se dá o caso de eu ser canhoto. Por isso simplifico: não tenho jeitinho nenhum para dançar. O que me angustia porque o meu sentido de ritmo é bom. Acho eu. Sinto que sim. Ritmo dentro da minha cabeça. Depois os braços e as pernas é que não acompanham. Parecem ter vida própria, lançando no espaço pernas e braços num louco, levemente assustador e definitivamente esquisito movimento. E um dia conheci o Bruno. Num evento experimental sobre o movimento. E aprendi que todos temos uma espécie de biblioteca de movimentos. E nessa biblioteca estão os livros de instruções para nos mexermos. É só ler esses livros. Embora muitos de nós nem sequer nos atrevemos a pegar neles. Nos livros. Nas ancas, rótulas, ombros ou pescoço. Volto ao movimento. Basta respirar, diz ele, o Bruno, e o movimento aparece naturalmente. Esta conversa é sobre isso. Sobre o movimento. Sobre a maneira como dançamos. Na conversa saberemos como alguém descobre que a sua vocação, como experimenta e aprende sobre a arte da dança. Hoje é coreógrafo, actor e formador na área do movimento. Naturalmente falámos da maneira como o nosso corpo fala, como comunica. E de como a dança pode ser uma ferramenta social de inclusão e partilha. Aprendi que todos podemos dançar. E sabemos dançar. À nossa maneira, mas é uma maneira tão certa como qualquer outra. Saia lá daí, da frente do espelho. E liberte-se. Claro que depois há o bailado, como expressão plástica maior. A expressão do belo e do sublime. Afinal o uso do corpo para nos fazer sentir as emoções. O corpo como espelho da alma. O movimento e a dança como uma forma universal de nos entontarmos mutuamente. De olhos nos olhos. De mão na mão. Num compasso certo dos pés que seguem num movimento síncrono. Isto nas danças a dois. Mas também valem os grupos que dançam num concerto. Ou até aquele que dança sozinho na praia, sem música, apenas ao ritmo dos pensamentos. E tudo se move. E tudo dança. Até os planetas à volta do sol. Ou o sentir. Ao ritmo dos batimentos do coração. O ritmo primordial da dança da vida. Da Química à Dança: O Início da Jornada Inicialmente estudante de Engenharia Química, Bruno descobriu a dança por acaso, quando uma colega o convidou a experimentar uma aula. Essa experiência revelou-lhe um novo caminho, onde se sentiu verdadeiramente “em casa”. O que começou como uma simples curiosidade tornou-se rapidamente a sua paixão e carreira. No episódio, ele descreve o momento inicial, numa sexta-feira de outubro, que marcou o encontro com a dança.

    53 min
  8. 30 OCT

    O GESTO CONTA? SOFIA FERNANDES

    O gesto é tudo. Ou quase tudo. No mundo onde o silêncio quase absoluto reina é o gesto que nos liga. Nesta edição falamos, ouvimos e gesticulamos. Um mergulho no mundo na língua que as pessoas surdas usam para ouvir e falar. A língua gestual portuguesa. Em cima de um palco, no cantinho da nossa televisão, numa aula na escola, numa consulta médica ou a responder num tribunal. A vida dos intérpretes de língua gestual portuguesa é uma correria entre todos os lugares do país onde alguém que não ouve, não aprendeu falar ou até a ler e escrever, precisa de entender o mundo. Conheci a Sofia Fernandes em cima do palco no auditório do IPO do Porto. Ela traduzia o que os vários participantes do evento diziam. A rapidez do gesto é fascinante. Não só das mãos. Todo o corpo participa. Gestos nos dedos, braços, ombros e a cara. Sim, as expressões faciais estão sempre a dizer qualquer coisa. A dizer o espanto, a dizer a alegria, a sofrer a tristeza. Naquele palco ouvi-a depois falar de viva voz. Da maneira como ajuda a comunidade das pessoas surdas a comunicar. A ouvir, se é que posso usar esta palavra, e a dizer o que quer. E o que ouvi não podia ficar só ali. Tinha de o partilhar convosco. Esta conversa é sobre comunicação. Todas as conversas do Pergunta Simples são sobre comunicação. Mas esta tem um nível de complexidade difícil de entender para quem ouve. Para os ouvintes regulares do ‘podcast’. Mas neste caso o programa não tem só áudio, ou vídeo, com legendas. Neste caso este episódio está também traduzido em lingua gestual graças à generosidade da Sofia. Pode ser visto em www.perguntasimples.com e nos YouTube desta vida. Portanto, não só veio contar tudo o que sabe, como, no fim ainda teve de trabalhar. Eu disse generosidade? Acrescento uma palavra: torrencial. E eu aprendi como se diz com um só gesto a mais bela palavra do mundo O QUE APRENDI NESTE EPISÓDIO A interpretação é muito mais do que traduzir palavras. Entendi que a língua gestual portuguesa não pode ser feita palavra por palavra porque é uma língua com gramática própria e ‘nuances’ específicas. O trabalho do intérprete é captar o sentido e adaptar o que está a ser dito, principalmente em temas complexos ou pouco familiares. Adaptar-se ao momento é essencial. Percebi que, em interpretações ao vivo, como num telejornal, o intérprete precisa de uma grande agilidade para adaptar o contexto e corrigir interpretações, quando necessário. Sofia explicou que, ao não perceber uma palavra ou perder uma parte da conversa, procura “proteger-se” e transmitir algo literal até conseguir encaixar o contexto completo. A carga emocional nas interpretações delicadas. Nas consultas médicas ou em audiências judiciais, o intérprete é obrigado a usar a primeira pessoa, dizendo “eu”. Esta proximidade com a situação pode ser emocionalmente exigente, especialmente ao lidar com histórias de dor ou sofrimento. A acessibilidade continua a ser uma grande barreira. A falta de intérpretes e de recursos acessíveis é evidente, e Sofia sublinhou a dependência que muitas pessoas surdas têm de amigos e conhecidos para fazer coisas simples, como ir ao médico ou tratar de assuntos burocráticos. Conhecer o contexto é chave. Quanto mais o intérprete entende o contexto, melhor consegue interpretar com fidelidade. Por exemplo,

    45 min
4.9
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