Fui o único sobrevivente de um acidente de avião
Ricardo foi o único sobrevivente de um acidente de avião ocorrido há 50 anos, o famoso Voo Varig 820. Depois de muito tempo esperando realizar o sonho de viajar a Londres para assistir o show de sua banda preferida, ele finalmente conseguiu sua passagem, com escala em Paris. Quando foi escolher seu assento, ele pediu para ficar na última fileira do avião, acreditando que era a parte mais segura em caso de acidentes. Ele se acomodou na janela da fileira 27, pronto para realizar seu sonho. Mal sabia ele que esse voo mudaria sua vida para sempre. 5 minutos antes do pouso em Paris, uma fumaça começou a aparecer na parte traseira da aeronave. No início, ninguém deu muita atenção. Mesmo assim, por um instinto inexplicável, Ricardo decidiu se levantar e caminhar em direção à frente do avião. Ele passou por um comissário que o repreendeu, mas seguiu em frente, ignorando o aviso. Em poucos minutos, a fumaça tóxica tomou conta de toda a aeronave. As pessoas foram sufocadas em seus assentos, sem chance de reagir. Quando o avião fez uma aterrissagem de emergência numa plantação de cebola, a fuselagem se desprendeu e caiu sobre os passageiros. Uma placa enorme atingiu suas costas, queimando-o gravemente, mas, milagrosamente, ele sobreviveu. Resgatado pelos bombeiros, Ricardo foi levado ao hospital em estado crítico. As queimaduras profundas de terceiro grau o deixaram irreconhecível. Ele passou por um período de coma e, quando acordou, descobriu que havia sido confundido com um comissário falecido, Sérgio Balbino. Durante os dias em que esteve inconsciente, sua família chegou a preparar seu funeral. Mas sua mãe nunca desistiu. Ela acreditava que seu filho estava vivo. A recuperação foi longa e dolorosa. Ele ficou três meses internado, dois deles no CTI, com dificuldades respiratórias e queimaduras que marcaram seu corpo para sempre. Mas, aos poucos, foi reconstruindo sua vida. Sua mãe, sempre ao seu lado, até preparava suas refeições no hospital. A fé dela em sua sobrevivência inspirava a equipe médica. Ricardo começou a receber cartas de apoio de pessoas que ele nunca conheceu, de todas as partes do mundo. Essas mensagens o fizeram refletir sobre a bondade das pessoas e sobre como, mesmo em meio ao caos, a humanidade ainda tinha esperanças. Ele percebeu que havia algo mais naquela tragédia, algo que o mantinha vivo. Um ano depois do acidente, ao conversar com um amigo, ele ouviu algo que mudou sua perspectiva: "Ricardo, não era a morte te abraçando, era a vida te protegendo." Ainda assim, algo o incomodava. Ele sentia que a viagem para Londres, interrompida tão bruscamente, precisava ser concluída. Então, um ano após o acidente, ele voltou à mesma agência da Varig e pediu uma passagem para Londres, com escala em Paris. O atendente ficou chocado quando descobriu quem era o cliente, mas atendeu seu pedido. E, assim, Ricardo retomou o destino que acreditava ter sido interrompido. Passados quase 50 anos do acidente, Ricardo recebe uma ligação de um homem também chamado Ricardo, que lhe contou uma história intrigante. Duas pessoas que estavam prestes a embarcar no mesmo voo que Trajano, há 50 anos, acabaram não viajando. Essas pessoas eram a mãe e a tia do homem, e a mãe estava grávida dele na época. As duas poltronas vazias ao lado de Ricardo eram delas. Ele se deu conta de que, se essas mulheres estivessem ao seu lado, ele provavelmente não teria se levantado por medo de incomodá-las. Se tivesse ficado na poltrona por mais alguns segundos, talvez ele não estivesse vivo para contar sua história. E nem o Ricardo que lhe fez a ligação. Essa sequência de eventos levou Ricardo a questionar se tudo o que aconteceu foi uma coincidência, um acaso ou algo maior. Ele deixou essa pergunta aberta, sem resposta definitiva, mas com uma certeza: sua vida foi marcada para sempre por aquele dia, e ele continua refletindo sobre o significado de estar vivo.