Há poucos dias, o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, dava conta dos eventuais problemas logísticos com que muitas escolas do país se podiam confrontar para avançar com as provas de Monitorização da Aprendizagem (as agora famosas ModA) do 4º e 6º ano, e os exames do 9º ano. Nas TV ou nos jornais, a discussão faz-se, portanto, mais sobre a forma do que o conteúdo. Parece mais importante saber se as provas devem ser digitais, ou em papel, se as escolas têm computadores em condições e redes de wi-fi com boa velocidade do que perguntar para o que servem. Nota de agenda: as provas que estão a decorrer nestas escolas são testes de preparação para os testes reais mais lá para a frente. Há neste pano de fundo uma discussão inacabada que, essa sim, é decisiva para a educação. A de saber que tipo de exames e de provas se fazem e para quê. Em 2012, o Governo de Passos Coelho introduziu na agenda escolar avaliações nos 4, 6 e 9º ano que contavam para as notas finais dos alunos. Em 2016, o governo de António Costa acabou com essa avaliação e introduziu provas de aferição, sem consequências nas notas dos alunos, no 2, 5 e 8ª ano. Com o tempo, foram sendo feitos ajustes e, agora, o ministério de Fernando Alexandre decidiu que as provas de aferição vão acontecer no quatro e sexto ano e no nono haverá um exame que conta para 30% da nota do aluno. Se as escolas quiserem, as notas das provas do 4º e 6º ano também contam, mas não é obrigatório. Muitos professores farão questão que isto aconteça. Porque sentem que, se não contarem para nada, as provas não servem para nada. O debate sobre os exames e para que servem é importante. Sobre esses conceitos podem determinar-se não apenas o que se espera do sistema educativo, mas também o que deve motivar o trabalho dos alunos, dos professores e das famílias. Queremos que as provas sejam um indicador estatístico ou um instrumento para escrutinar a qualidade do ensino? Uma prova rotineira e inconsequente, ou um exercício que obriga alunos e professores a focar-se nos resultados? Importa mais uma escola que desenvolve competências, ou a que se empenha nos conhecimentos dos mais jovens provados em exames nacionais? O debate dura há anos e determina as apostas das políticas educativas mais à esquerda ou mais à direita, ou as opiniões que privilegiam mais os resultados ou o que se designa por vezes por desenvolvimento integral dos alunos. Nessa discussão, Nuno Crato, o nosso convidado deste episódio, não tem dúvidas. É, desde há anos, um combatente empenhado na escola de exigências, que avalia com exames para melhorar. Nuno Crato é professor há mais de 40 anos, foi ministro da Educação e Ciência entre 2011 e 2015 e publicou há semanas o livro Aprender, uma edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos. See omnystudio.com/listener for privacy information.