Histórias para ouvir lavando louça

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Histórias para ouvir lavando louça

Histórias reais, de gente como a gente, para você ouvir e se inspirar enquanto da uma geral na sua cozinha. Um podcast do ter.a.pia!

  1. Dona Jacira: Me livrei de um casamento ruim para reconstruir minha vida

    14 HR. AGO

    Dona Jacira: Me livrei de um casamento ruim para reconstruir minha vida

    Jacira cresceu acreditando que a vida podia ser diferente, mas encontrou barreiras que pareciam impossíveis de passar. O primeiro namoro veio cedo e com ele a violência. O cara passou a persegui-la, a ameaçá-la depois que ela negou se relacionar sexualmente com ele. Foi nessa época que Miguel apareceu em sua vida. Ele era amigo dos irmãos dela e um dia defendeu Jacira do namorado. Naquele momento, Miguel se tornou um príncipe. Com apenas 13 anos, ela decidiu se casar com ele, que tinha 17. Imaginava que o casamento traria liberdade, mas a realidade foi outra. Ele foi se tornando mais um peso, alguém que dependia dela para tudo. As mulheres ao seu redor tinham marcas no corpo, seus maridos tinham outras mulheres e Jacira passou a considerar isso normal. Seus sonhos não tinham espaço naquela realidade. Com 14 anos, Jacira já tinha 2 filhas. O pouco que ganhava mal cobria as necessidades básicas. Foi nessa época que encontrou alívio na música. Rita Lee, Bethânia... Elas cantavam, e Jacira pensava: se alguém canta, é porque existe. Ela queria existir também. Sem perceber, ela passou 8 anos naquela vida. Quando se deu conta, não tinha uma mesa inteira, nem fogão, nem cama. Só o essencial para sobreviver, seus 4 filhos e um casamento falido. Até que um dia ela disse: basta. Seguir sozinha não era algo fácil, mas não era impossível. Sua mãe também foi mãe solo. Outras tantas também eram. E ainda assim, o mundo seguia em frente. Algumas pessoas lhe diziam que precisava estudar, e foi o que ela fez. Terminou o ensino fundamental, correu para fazer enfermagem, se formou aos 30 anos. Foi assim que Jacira entendeu que o crescimento vem quando se deixa certas coisas para trás. Amigos que não agregam, relações que só sugam, casamentos ruins. Ela refletia todos os dias sobre o que fazia sentido. Sua vida nunca foi sobre sorte, mas sobre persistência. Sabia que não poderia pagar uma faculdade para os filhos, mas garantiria que eles nunca passassem fome. Com o tempo, sua casa foi tomando forma, se tornando o lar que ela merecia. Hoje, Jacira não pode ser rotulada apenas como a mãe de um cantor famoso. É mulher, escritora, alguém que construiu sua própria existência, apesar de todas as dificuldades. Sua vida não foi sobre esperar um príncipe, mas sobre aprender que ela mesma sempre foi a sua melhor salvação.

    8 min
  2. A primeira vez que beijei minha esposa foi no velório dela

    JAN 23

    A primeira vez que beijei minha esposa foi no velório dela

    Por medo do preconceito, o primeiro beijo em público que Dora deu em sua esposa, Silvia, foi no velório dela.  Dora sempre viveu uma vida moldada pelas expectativas dos outros. Casou-se jovem, aos 19 anos, com um homem, e dessa união teve uma filha.  Certo dia, uma mulher deu em cima dela. Foi nesse momento que Dora percebeu algo novo, uma sensação diferente. Antes mesmo de se separar do marido, Dora cedeu à curiosidade e ao desejo, vivendo sua primeira experiência com outra mulher. Foi libertador. Depois disso ela se separou. Algum tempo depois, em uma sala de bate-papo da UOL destinada a mulheres lésbicas, Dora conheceu Silvia, que usava o apelido Raio de Sol.  Elas conversaram durante horas na madrugada, até trocarem telefones. Quando finalmente se encontraram pessoalmente, Dora sentiu seu coração disparar ao vê-la pela primeira vez. Desde aquele dia, nunca mais se separaram. Mas o medo do preconceito estava sempre presente. As duas andavam pelas ruas sem poder segurar as mãos, se diziam amigas. Dora sentia o peso de viver escondida. Apesar do medo, construíram uma história de amor que durou 13 anos. Silvia era o centro do mundo de Dora, mas o destino tinha outros planos. Certo dia, Dora recebeu a notícia que ninguém quer receber: Silvia havia desmaiado na escola onde trabalhava e não resistiu. O mundo desabou. O amor da sua vida havia partido sem aviso. No velório, cercada por amigos, colegas e familiares, Dora sentiu uma coragem que nunca tivera antes. Aproximou-se do caixão, olhou para Silvia e, pela primeira vez, beijou sua esposa em público. Naquele instante, não importava mais o que os outros pensassem. Era apenas ela e Silvia. Um beijo de despedida, mas também de libertação. A partida de Silvia trouxe reflexões profundas para Dora. Ela percebeu o quanto o medo havia limitado sua felicidade, o quanto deixara de viver plenamente por receio do julgamento alheio. Foi nesse momento que decidiu mudar.  Aos 72 anos, Dora não esconde mais quem é. Diz com orgulho que é uma mulher lésbica e idosa. Hoje, ela vive livre e sem medo, inspirando todos ao seu redor com sua história.

    8 min
  3. Demorei 14 anos para lidar com o trauma de um grave acidente de ônibus

    JAN 16

    Demorei 14 anos para lidar com o trauma de um grave acidente de ônibus

    A Ana precisou de 14 anos para entender o trauma que passou após um grave acidente de ônibus. Ana nunca teve medo de andar de ônibus, mas naquela noite, a caminho da Festa Literária de Paraty acompanhada de uma amiga, ela não estava se sentindo bem. O pai da amiga, ao se despedir na rodoviária, pediu ao motorista para dirigir com cuidado, porque dentro daquele ônibus havia um "tesouro". Essa frase ecoaria na mente de Ana por anos. As duas tentaram sentar juntas, mas não conseguiram. Ana acabou ficando nos bancos do fundo. Na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro, o ônibus estava rápido demais. Quando chegou a uma curva, Ana sentiu o peso do veículo, as rodas saindo do chão e, antes que pudesse reagir, ouviu uma voz dentro de si: "Vai ficar tudo bem." O ônibus capotou. Tudo aconteceu em segundos e sua primeira reação foi procurar pela amiga, mas ninguém respondia. Um silêncio pesado tomou conta do ambiente. Ela conseguiu sair antes de todos e quando chegou lá fora, viu que o ônibus estava de cabeça para baixo, preso por uma estrutura de pedras que evitou que caísse ainda mais no barranco. 4 pessoas haviam morrido, incluindo uma criança de 7 anos. Sua amiga, Paula, estava viva. O corpo de Ana só começou a sentir dor na tarde do dia seguinte, no hospital, quando ela encontrou a mãe. Até então, sua energia foi dedicada a ajudar os outros, a entender o caos. Depois disso, o trauma foi engavetado, mas continuava lá. Durante uma sessão de terapia, 14 anos depois, Ana percebeu que nunca havia dado a si mesma o direito de sentir medo ou dor. Ana ainda carrega perguntas para as quais nunca terá respostas: "Por que eu sobrevivi e uma criança de sete anos não?" Mas, em vez de se perder nelas, escolheu encontrar propósito na dor e na memória. E talvez seja isso: a vida continua, mesmo quando parece impossível. Ana sobreviveu ao acidente, mas levou 14 anos para sobreviver ao trauma. E só agora, com coragem e compaixão, ela está construindo um caminho onde a dor não é apagada, mas transformada.

    9 min
  4. Eu precisei fugir porque não tinha acesso à saúde na Venezuela

    JAN 9

    Eu precisei fugir porque não tinha acesso à saúde na Venezuela

    Nascida na Venezuela, Dennys foi diagnosticada com câncer de colo de útero aos 26 anos. A doença trouxe não apenas o desafio de lutar pela própria vida, mas também expôs as enormes falhas do sistema de saúde em meio à crise que a Venezuela passa. Sem acesso a medicamentos e itens de higiene como sabão, Dennys enfrentava muitas dificuldades. Com uma bolsa de colostomia como resultado de uma cirurgia de emergência, ela dependia da solidariedade dos vizinhos para conseguir se manter limpa. Foi nesse contexto desesperador que sua mãe sugeriu algo impensável: vir para o Brasil. Com apenas as roupas do corpo e os papéis que comprovavam sua condição de saúde, Dennys partiu com a esperança de encontrar ajuda por aqui. Ao chegar na fronteira de Roraima com a Venezula, ela foi acolhida pela ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, e pela primeira vez em muito tempo, Dennys se sentiu protegida. Ela e sua família foram encaminhadas para um abrigo onde permaneceram por quase dois anos. A adaptação não foi fácil. Após anos sem trabalhar e com sua saúde ainda debilitada, Dennys não acreditava que seria capaz de recomeçar. Foi então que ela conheceu o programa Empoderando Refugiadas, voltado para a capacitação profissional e a integração no mercado de trabalho, e conseguiu uma vaga em São Paulo. Dennys começou a trabalhar em um shopping, que proporcionou a estabilidade que ela tanto buscava. “O que eu não recebi no meu país, recebi aqui: oportunidades, dignidade e respeito”. Suas filhas, agora com 19 anos, também participam do programa, criando um futuro melhor para a família. Hoje, Dennys vive com mais estabilidade, carregando consigo não apenas as cicatrizes do que enfrentou, mas também a certeza de que sua determinação e a solidariedade que encontrou pelo caminho transformaram sua história. Essa história foi contada em parceria com a Acnur. A Acnur junto a seus parceiros oferece ajuda financeira, proteção, abrigo e itens de emergência para pessoas em busca de proteção internacional. Compre o livro do ter.a.pia "A história do outro muda a gente" e se emocione com as histórias : https://amzn.to/3CGZkc5 Tenha acesso a histórias e conteúdos exclusivos do canal, seja um apoiador http://apoia.se/historiasdeterapia

    8 min
  5. Minha filha nasceu sem vida

    JAN 2

    Minha filha nasceu sem vida

    Lígia estava prestes a realizar o sonho de ser mãe quando sua vida mudou de forma inesperada. Quando ela entrou em trabalho de parto da sua primeira filha, a Laura, descobriu no ultrassom que o coraçãozinho da bebê não estava mais batendo. Quando a Lígia soube que estava grávida da Laura, seu mundo se encheu de expectativas. Sua gravidez foi tranquila. Cada ultrassom, cada mexida na barriga, trazia a alegria de imaginar o futuro. Já planejavam a escolinha, os passeios, os detalhes da nova vida a três. Com suas expectativas estilhaçadas, o choque foi tão grande que Lígia sequer compreendeu de imediato. Ela foi levada à sala de parto e, ao invés de dar à luz uma nova vida, viveu um dos momentos mais dolorosos de sua existência. Sem acolhimento, sem explicações, e com o coração despedaçado, Lígia ficou com Laura nos braços por um breve período. Não há fotos, apenas memórias que insistem em desaparecer com o tempo. O hospital não parecia preparado para lidar com o luto. Enquanto processava a morte da filha, era colocada em um corredor repleto de mães que ouviam o choro de seus bebês recém-nascidos. E, como se não bastasse, profissionais de saúde entravam no quarto com perguntas desconectadas da realidade: “Como está indo a amamentação?” Lígia foi submetida a uma cesariana e, por isso, não pôde ir ao velório da filha, e a partir daí o vazio tomou conta. Amigos e familiares evitavam falar de Laura, como se o silêncio pudesse apagar o que aconteceu. Para Lígia, era como se a vida de sua filha não tivesse existido. Essa ausência de espaço para falar sobre Laura só intensificava a dor. A depressão veio com força. Lígia se sentia presa entre o mundo que esperava que ela "superasse" a perda e a realidade de sua dor irreparável. Em um retiro de silêncio, percebeu que precisava de um espaço para falar sobre sua filha, para lembrar, para honrar sua existência. Foi dessa necessidade que nasceu a ideia do @institutolutoparental, um lugar onde mães e pais poderiam falar de seus filhos, independentemente das circunstâncias de suas partidas. O projeto começou pequeno, mas cresceu, acolhendo não apenas famílias, mas também profissionais de saúde, que muitas vezes não sabem como lidar com essas situações. A chegada de Gael, seu segundo filho, trouxe um novo medo, mas também renovou sua força. Quando ele nasceu, saudável, ela sentiu um alívio, mas nunca deixou de lembrar da filha. O instituto tornou-se um espaço onde ela podia ouvir o nome de Laura, compartilhar suas histórias e ajudar outras famílias a viverem seu luto de maneira plena e acolhida. Hoje, Lígia luta para que histórias como a de Laura sejam lembradas. Porque uma vida, mesmo que breve, merece ser honrada, e o luto de uma mãe ou pai deve ser respeitado. Compre o livro do ter.a.pia "A história do outro muda a gente" e se emocione com as histórias : https://amzn.to/3CGZkc5 Tenha acesso a histórias e conteúdos exclusivos do canal, seja um apoiador http://apoia.se/historiasdeterapia

    9 min
  6. Fui adotada aos 6 anos e minha família me devolveu aos 13

    12/26/2024

    Fui adotada aos 6 anos e minha família me devolveu aos 13

    Jaqueline foi adotada aos seis anos e a família que a adotou resolveu devolvê-la aos 13. Isso só aconteceu porque nos anos 1980 eram comuns as “adoções à brasileira”. Não havia juízes, papéis ou burocracias: apenas a decisão de sua avó biológica, que não tinha mais condições de cuidar dela. A avó perguntou na igreja se alguém estaria disposto a adotar uma menina, e uma família se prontificou. A partir daquele momento, Jaqueline tinha um novo lar. Mas o que parecia ser um recomeço, logo revelou outra face. Ao invés de orientação, Jaqueline encontrou violência. Quando Jaqueline tinha dez anos ela foi levada para casa da sua irmã adotiva, que casou e engravidou, para ajudar com as tarefas domésticas. Depois de passar por uma experiência traumática na casa da irmã, Jaqueline foi culpabilizada e sua mãe decidiu devolvê-la, ao invés de protegê-la. Ela pegou Jaqueline e passou o dia procurando alguém que pudesse "ficar com ela". Assim começou uma dolorosa saga: meses em uma casa, depois em outra, sempre sentindo que era um peso. As dificuldades continuaram quando Jaqueline foi mandada ao Rio de Janeiro para "ajudar" em casas de outras pessoas. Sem salário, cuidando de crianças e sobrevivendo apenas com comida e abrigo, ela se sentia descartável. Os anos passaram e ela começou a pensar que a rua talvez fosse um lugar melhor: pelo menos ali, ninguém poderia abandoná-la novamente. Foi aos 20 anos que Jaqueline conheceu Jo, a conselheira da juventude da igreja. Ao ouvir sua história, Jo chorou, mas rapidamente tomou uma decisão: ofereceu-lhe um lar. Pela primeira vez, Jaqueline sentiu-se verdadeiramente acolhida. Jo colocou Jaqueline de volta nos trilhos: incentivou-a a estudar, ofereceu apoio emocional e a ajudou a encontrar seu primeiro emprego. 30 anos depois, Jaqueline ainda mora com Jo. Hoje, Jaqueline se dedica a uma causa muito especial: lutar pelos direitos das crianças e adolescentes. Sua história foi ressignificada, mas ela sabe que muitas outras continuam em curso. Ela escreveu um livro para espalhar sua mensagem e tem orgulho de quem se tornou. E é com essa força que Jaqueline segue em frente, determinada a fazer a diferença. Compre o livro do ter.a.pia "A história do outro muda a gente" e se emocione com as histórias : https://amzn.to/3CGZkc5 Tenha acesso a histórias e conteúdos exclusivos do canal, seja um apoiador http://apoia.se/historiasdeterapia

    8 min
  7. Pai solo com filhos adotados: o verdadeiro significado de família

    12/19/2024

    Pai solo com filhos adotados: o verdadeiro significado de família

    Desde criança, Erasmo tinha o sonho que parecia ousado para os padrões da sociedade: ser pai por adoção. Enquanto as pessoas imaginavam famílias convencionais, ele dizia com firmeza que não queria se casar, mas sabia que poderia ser pai sozinho. Essa convicção o acompanhou pela vida e se fortaleceu na vida adulta, com sua participação em grupos de apoio à adoção. O momento que deu início a sua jornada começou de forma inesperada. Ele estava distraído, debruçado sobre a bancada, quando uma mensagem chegou em seu celular. Era a foto de Gustavo. "Esse é Gustavo. Sonha muito em ter uma família", dizia a mensagem. Naquele instante, algo dentro de Erasmo mudou. Seu processo de habilitação para adoção estava pausado, pois ele e sua família enfrentavam um momento difícil com o diagnóstico de câncer de seu pai. Mas, ao ver Gustavo, ele não teve dúvidas: pediu à sua comissária de justiça que reativasse o processo. O ano era 2020, em meio a pandemia, e as primeiras conversas com Gustavo foram por vídeo. Ele fazia questão de ser honesto, explicando que não era casado e que essa era uma escolha pessoal. Gustavo, por sua vez, aceitou isso de coração aberto. Quando finalmente se encontraram, Erasmo viu o menino descer a rampa com uma mochilinha nas costas, e ele não conteve as lágrimas. A vida ao lado de Gustavo trouxe novas experiências, mas também revelou um desejo que o garoto carregava: ter um irmão. Ele dizia que amava estar com o pai, mas se sentia sozinho. Certo dia, Erasmo viu, por acaso, um vídeo no Instagram do projeto Seja Pernambuco. Nele, um menino chamado Daniel, de 14 anos, dizia com serenidade: "Eu gostaria muito de uma família para me amar e para eu dar amor." As palavras tocaram Erasmo profundamente. Sem falar nada a Gustavo, ele entrou em contato com a assistente social responsável. Ao conhecer Daniel, a conexão foi imediata. Para sua surpresa, ao vê-lo pela primeira vez, Daniel o chamou de "pai" sem hesitar. "Pai, eu não vejo a hora de estar com vocês", dizia o menino durante as chamadas. Erasmo também aguardava ansiosamente o momento em que buscaria o filho caçula. A recepção foi calorosa, com a avó preparando comida e uma pequena celebração em família. Hoje, Gustavo e Daniel compartilham uma cumplicidade que comove quem os conhece. Nos sete meses desde que se tornaram irmãos ficaram muito conectados. Antes de sair de casa, fazem questão de se abraçar e dizer "eu te amo". Para Erasmo, isso é o reflexo do ambiente que sempre quis criar: cheio de afeto, carinho e presença. A decisão de adotar crianças mais velhas trouxe desafios. A sociedade muitas vezes insiste na ideia de que é melhor adotar crianças pequenas para "moldá-las". Mas Erasmo sabia que adaptação não é uma via de mão única. Ele se adaptou a Gustavo e Daniel tanto quanto eles se adaptaram a ele. Juntos, criaram uma família que valoriza cada "primeiro momento" — a primeira ida à praia, a primeira consulta no dentista. Ele acredita que esses momentos têm a mesma importância, independente da idade dos filhos. Erasmo também enfrentou preconceitos. Muitos questionaram sua capacidade de criar filhos sozinho, e até insinuaram maldades sobre sua relação com Gustavo. “A maldade está na cabeça de quem a diz, não na minha", ele rebate. Sempre ensinou aos filhos que amor e afeto não diminuem a masculinidade de ninguém. "Ser homem significa demonstrar amor, cuidado e respeito", ele afirma. Emocionado, Erasmo reflete sobre o impacto que Gustavo e Daniel tiveram em sua vida. "Eles fizeram muito mais por mim do que eu por eles. A sociedade pensa que adotar é caridade, mas a verdade é que eles me tornaram um homem melhor." E assim, com coragem e amor, Erasmo construiu uma família que desafia padrões, preconceitos e expectativas, mostrando que o que define um pai não é o sangue, mas o coração. Tenha acesso a histórias e conteúdos exclusivos do canal, seja um apoiador http://apoia.se/historiasdeterapia

    8 min
  8. Ser gago nunca me impediu de falar. Quem deveria me escutar, sim

    12/12/2024

    Ser gago nunca me impediu de falar. Quem deveria me escutar, sim

    Gabriel sempre soube que era gago. Desde criança, ele enfrentou o julgamento silencioso e impaciente de quem ouve, mas não tem paciência para escutar. Na escola, ler em voz alta nas aulas era um pesadelo. Gabriel sofria por antecipação, esperando ansioso e tenso até chegar a sua vez, como se a cada segundo aumentasse a expectativa e o medo de “falhar” por conta da gagueira. A gagueira sempre o colocou numa posição delicada, especialmente quando ele descobriu que queria seguir na área de comunicação. Ele sentia que era constantemente empurrado a um papel de silêncio, de timidez, como se o mundo ao redor insistisse que pessoas como ele não deveriam falar, não deveriam se impor. Por sorte, Gabriel percebeu que sua gagueira era um desafio, mas não uma fraqueza. Ele faz questão de deixar claro que não precisa ser completado ou interrompido, porque sabe o que quer dizer e sabe como quer dizer. Ele sabe que muitos preferem ver vídeos prontos, onde não precisam lidar com a ansiedade de sua fala pausada. Até sua mãe, depois de assistir seus vídeos, admitiu que entendeu algo que antes não enxergava: a boa intenção dela, por vezes, se confundia com uma tentativa de “corrigi-lo”. No caminho de aceitação, Gabriel precisou superar não só os preconceitos externos, mas também o peso dos mitos que cercam a gagueira. A gagueira é, geralmente, genética e, em alguns casos, resultado de traumas, e cada pessoa que gagueja precisa encontrar seu próprio caminho de aceitação. Hoje, Gabriel está no auge de sua autocompreensão. Ele não busca mais uma “cura” para sua fala. Ele sabe que, na sociedade, o que foge da norma gera incômodo, mas, ao contrário do que muitos esperam, ele não quer se enquadrar. Ele entende que sua gagueira não o torna menos capaz. Na verdade, ela o torna uma voz importante para todos que compartilham dessa experiência. Afinal, todo mundo tem direito de falar e fazer sua voz ser respeitada. Compre o livro do ter.a.pia "A história do outro muda a gente" e se emocione com as histórias : https://amzn.to/3CGZkc5 Tenha acesso a histórias e conteúdos exclusivos do canal, seja um apoiador http://apoia.se/historiasdeterapia

    9 min

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