Perdeu o pai aos 12 anos, e, com 13, já estava a viver fora de casa, na cidade do Lubango. A emancipação precoce sugere um qualquer corte familiar, mas, na história de Don Kikas, essa leitura não poderia estar mais equivocada. Ancorado na família, o músico aponta como a mesma tem sido um apoio fundamental na sua trajetória. A ligação é de tal forma especial, que numa viagem de trabalho ao Brasil, o artista recuperou – como que por milagre – “peças” paternas perdidas na infância.A experiência, digna de encontros e reencontros de novela, é relatada pelo cantor com memórias de choro, que lhe recordam a sua dificuldade de se emocionar até às lágrimas. Tudo isso e muito mais deverá sobressair na sua autobiografia, projeto que, segundo conta, o obrigou a embarcar numa pesquisa dentro de si próprio. Hoje com 50 anos, o angolano é bastante elogiado pela jovialidade, que, diz, é conservada a partir da consciência de que o envelhecimento apanha quem já não se encanta como nada, e está sempre a desvalorizar as coisas. Longe disso, Kikas vive com a curiosidade de quem abre um coco pela primeira vez. Literalmente. -- Com 30 anos de carreira em cinquenta de vida, Emílio Costa, mais conhecido por Don Kikas, encontrou na música caminho e, ao mesmo tempo, destino. Nascido em 1974 na cidade do Sumbe, em Angola, cedo revelou veia artística, especialmente estimulada no Brasil, onde passou parte da infância. A sua história foi musicalmente impulsionada a partir do álbum “Pura Sedução”, de 1997, conforme Kikas assinala numa mensagem de divulgação do concerto que, a 25 de outubro vai celebrar, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, as suas primeiras três décadas de espetáculos.“A música ‘Pura sedução [inserida no disco homónimo] tornou-se imediatamente um hit absoluto em todos os países dos PALOP, e suas diásporas espalhadas pelo mundo”, publicou o cantor no Facebook, lembrando que em Portugal o trabalho foi “disco de prata”. Já em Angola, Kikas nota que o tema “Esperança Moribunda” converteu-se num “hino na boca do povo”, tendo sido eleito “Música do Ano” pela Rádio Nacional de Angola. De sucesso em sucesso, as portas de vários mercados abriram-se – nomeadamente de Cabo Verde, Moçambique, EUA, Holanda, França, Macau, Luxemburgo e Suíça –, e, com elas, Don Kikas ganhou mundo.