Maestro João Carlos Martins: "Fiz Éder Jofre Bi mundial. Don King não me deixou trazer Muhammad Ali ao Maracanã"

Cosme Rímoli

João Carlos Martins, 84 anos, é o brasileiro que mais luta pela cultura do país. Melhor intérprete de Bach da história, admirado e premiado no mundo todo, fez concertos inesquecíveis. Mas como um brasileiro se tornou o principal intérprete do mestre alemão? A resposta estava nas oito horas diárias de treino e na memorização das partituras, somadas à sua genialidade.

Porém, o piano cobrou caro. João Carlos passou por 29 cirurgias, nos braços e no cérebro. Aos 14 anos, já considerado um fenômeno, enfrentou a distonia focal, que provoca movimentos involuntários nos dedos. Mais tarde, sofreu um acidente no Central Park, em Nova York. Ao tentar amortecer uma queda, uma pedra pontiaguda perfurou seu cotovelo, afetando o nervo ulnar, responsável pela coordenação dos dedos. Acreditou que nunca mais tocaria com o mesmo talento.

Chegou a pensar em tirar a própria vida, mas encontrou forças para continuar. Com o auxílio de dedeiras de aço, voltou aos palcos. O esforço era tão grande que manchava o piano de sangue. O desgaste foi extremo: sofreu uma embolia pulmonar e chegou a sair de um concerto em uma ambulância.

Decidiu então mudar de rumo e entrou para o mundo do boxe. Empresariou Éder Jofre, ajudando-o a conquistar um segundo título mundial. Tentou trazer a luta entre Muhammad Ali e Joe Frazier para o Brasil, mas esbarrou em Don King. Desiludido com o meio, abandonou o boxe.

Seu retorno à música foi interrompido novamente em um assalto na Bulgária, onde um golpe de barra de ferro comprometeu os movimentos do braço direito. Passou a tocar apenas com a mão esquerda, mas a distonia focal atingiu ambas as mãos. Parecia o fim.

Até que, em 2003, sonhou com o maestro Eleazar de Carvalho, que o aconselhou a reger. João Carlos seguiu a sugestão e formou a Orquestra Bachiana Filarmônica, com apoio do Sesi-SP. Mais de 20 milhões de brasileiros já assistiram a seus concertos. Sem conseguir segurar a batuta ou virar partituras, ele rege com o olhar e os dedos recolhidos pela doença.

“Vou às favelas, presídios e pequenas cidades levar a música erudita. É cultura, e o Brasil precisa disso.”

Seu amor pelo futebol começou ainda criança, quando levou uma bolada no rosto durante um treino da Portuguesa. A paixão pelo clube permaneceu inabalável, mesmo após sua decadência. “Sei que houve dinheiro envolvido no rebaixamento, mas não tenho provas. A Portuguesa, assim como eu, vai se reerguer.”

Hoje, João Carlos Martins também se dedica à Bachiana Jovem, ensinando música para crianças. Com luvas biônicas que esticam suas falanges, ainda toca piano. Seu 30º concerto no Carnegie Hall, em Nova York, será sua despedida dos grandes palcos internacionais. Mas ele seguirá regendo, popularizando a música clássica ao lado de artistas brasileiros.

“É minha missão. Não vou parar nunca.”

O Brasil tem o privilégio de contar com João Carlos Martins.

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