FILOSOFIA CLÍNICA - Diálogos Transversais Podcast

"Aproximamo-nos do tema considerando os eixos do autoconhecimento e da alteridade, dimensão do outro que habita dentro e fora de mim. Assim, o calçar máscaras nos remete a níveis distintos de absorção da realidade, onde a ação se molda a partir da leitura que faço do interno e do externo, mapeando territórios, aferindo temperaturas e buscando a têmpera: consistência / equilíbrio que possibilite o movimento, o livre circular. 

Conscientes ou não, mascaramentos nos conduzem ao longo da vida; mais do que máscaras e/ou escudos, são ferramentas que expressam faces e fases de nós mesmos.

A vida nos impele a constantemente rever leituras, colhendo respostas e aprofundando perguntas em pleno viver. Uma leitura rasa tende a desinformação e a hipocrisia, além de ser presa fácil para manipulações de toda ordem.  Na medida em que navegamos pela existência, melhor observamos tempos e modos próprios, de circunstâncias e de relações. Questão de equacionarmos liberdade e compaixão na expressão de quem somos, para não violentarmos nem a nós nem aos outros. 

"Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém" - noção de liberdade, expressa por São Paulo, o apóstolo. "Nada do que é humano me é estranho" - noção de compaixão, de Terêncio, dramaturgo romano. Para isso assimilar há que termos bagagem não só teórica, também prática! A diferença se assemelha ao embaraçoso contraste entre quem perambula com uma pesada mala sem alça e outro com uma mala de rodinhas ergonômica.

Há que mapearmos os buracos ao longo do caminho para, se não pudermos pavimentá-los (e nem todos os consertos são de nossa responsabilidade), buscarmos rotas de fuga, evitando desgastes desnecessários e, o que é ainda pior, que essa máquina maravilhosa que momentaneamente nos pertence (nosso corpo) sucumba antes de concluirmos o que aqui viemos realizar.

Máximas como "não há vento bom pra barco sem rumo" e "porto é um lugar seguro, mas navio foi feito para navegar" estimulam processos de autodescobertas.

Nesse contexto o mascaramento passa a ter um papel pedagógico, como uma espécie de filtro que nos aproxima de nós mesmos e dos demais na proporção exata da nossa capacidade de sustentação (nos sustentarmos em ação) e necessidade de nutrição. Ocasião em que enxergamos, refletimos e atuamos sobre o que já estamos preparados para perceber. Que essa ação, dirigida a gente e aos que nos cercam seja capaz de apresentar liberdade e compaixão, justo por trazer registrada a nossa história sem apequenar ou apagar a história do meio onde ela se insere. "

Ana Rita de Calazans Perine

orior.com.br/ana-rita

To listen to explicit episodes, sign in.

Stay up to date with this show

Sign in or sign up to follow shows, save episodes and get the latest updates.

Select a country or region

Africa, Middle East, and India

Asia Pacific

Europe

Latin America and the Caribbean

The United States and Canada