Como reconstruir vidas de crianças marcadas por histórias difíceis? Rui Godinho

Pergunta Simples

Hoje, falamos de um tema urgente: a infância e como as experiências vividas nesta fase moldam o futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e proteção.

O que acontece quando a proteção falha?

Como podemos ajudar crianças em risco?

E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente, crianças maltratadas.

Por vezes acordamos, chocados, com as consequências diretas de uma infância infeliz.

Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal, disse: “Estar na cadeia é melhor do que estar em casa.” Este caso, que começou com maus-tratos familiares e culminou numa tragédia, expõe um padrão: a comunidade, muitas vezes, não vê os sinais ou não age a tempo.

Este não foi um crime isolado”, ouvi eu explicar Rui Godinho. “Ele é o resultado de anos de negligência e violência.” Professores relataram que a jovem era agredida pelo pai à porta da escola, e ainda assim, ninguém interveio.

Este caso levanta questões difíceis: por que motivo instituições como escolas ou centros de saúde não identificaram o problema antes? Provavelmente os sistemas de proteção estão desatualizados e focados apenas nos sinais mais óbvios, como pobreza extrema ou agressões físicas visíveis, enquanto maus-tratos psicológicos, mais subtis, continuam a ser ignorados.

Quando a negligência ou maltrato é detetada, estas crianças são retiradas do seu ambiente familiar. Idealmente para encontrar uma vida melhor.

Muitas crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas para adoção. Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem mais do que boa vontade. “Estas crianças vêm de histórias difíceis”, ouvi eu “Muitas vezes, testam os limites dos novos cuidadores porque nunca tiveram estabilidade.”

Rui Godinho dá um exemplo simples: quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adotivos como forma a verificar se os laços são reais. Esse comportamento não é de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança. De validar. Uma espécie de “vamos lá ver se gostas mesmo de mim a sério

O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que, em Portugal, ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que mais crianças pudessem ser acolhidas em famílias.

A lei tem hoje várias possibilidades: da clássica adopção, às famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil. E o número de crianças em instituições tem vindo a descer.

Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes.

E ao extremo oposto: os pais demasiado protectores.

Fixem o conceito “hiperparentalidade negligente”.

Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos, que impede as crianças de aprenderem a lidar com desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem, de forma segura. É nesse equilíbrio entre proteção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta.

A educação na Primeira Infância é crítica.

As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos 3 anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer 400 palavras, enquanto outra, de um contexto mais favorecido, pode chegar às 1200. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica: é uma barreira que define o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego.

A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré-escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, pensar e interagir com o mundo.

Afinal comunicar. Saber ler e falar para o mundo.

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Ora, viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Nesta edição retornamos à infância, aos tempos da meninice que sequer feliz, mimada e cheia de boas memórias. Mas nem sempre assim acontece. Hoje falamos de um tema urgente a infância. Como as experiências vividas nesta fase da nossa vida moldam o nosso futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e protecção.

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E o que acontece quando essa protecção falha? Como podemos ajudar as crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor de Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente crianças que foram maltratadas pelo mundo.

00:01:18:02 – 00:01:45:18
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De vez em quando acordamos chocados com as consequências directas de uma infância infeliz. Dou um exemplo. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal assumiu que estar na cadeia era melhor do que estar em casa. Neste caso, tudo começou com maus tratos familiares e culminou numa tragédia, expondo um padrão da comunidade. Muitas vezes não vê os sinais e não age a tempo e horas.

00:01:45:20 – 00:02:08:22
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Este não foi um crime isolado. Ouvia o explicar Rui Godinho. Ele é o resultado de anos de negligência e de violência. Professores relataram que esta jovem era agredida pelo pai à porta da escola e ainda assim, ninguém interveio. Esse caso levanta questões difíceis Por que motivo instituições como as escolas ou centros de saúde não identificaram o problema a tempo?

00:02:09:01 – 00:02:35:15
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Provavelmente os sistemas de protecção estão desatualizados e mais focados nos sinais mais óbvios, como a pobreza extrema ou as agressões físicas, enquanto que os maus tratos psicológicos mais subtis continuam a ser ignorados quando a negligência, o maltrato e até destas crianças são retiradas do seu ambiente familiar, idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas das crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas no sistema para a adopção.

00:02:35:17 – 00:03:04:20
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Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo Estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem muito mais do que boa vontade. Estas crianças têm histórias difíceis, ouvi eu muitas vezes. Testam os limites dos novos cuidadores, porque nunca tiveram estabilidade. Rui Godinho dá um exemplo simples quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adoptivos como forma de verificar se os laços são reais.

00:03:04:20 – 00:03:33:15
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Se é mesmo a sério esse comportamento não é um comportamento de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança, de validar numa espécie de vamos lá ver se gostas mesmo de mim. A sério. O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que em Portugal ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que as crianças pudessem ser acolhidas em famílias.

00:03:33:17 – 00:04:03:23
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A lei tem hoje várias possibilidades da clássica adopção as famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil e o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes, claro, e até ao extremo oposto os pais que cuidam demais, que são demasiado protetores, que sem o conceito hiper parentalidade negligente. Parece um contrassenso, mas importa perceber de que é que estamos a falar.

00:04:03:24 – 00:04:27:15
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Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos que impede as crianças de aprenderem a lidar com os desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem de forma segura, claro. É neste equilíbrio entre protecção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na primeira infância é crítica.

00:04:27:15 – 00:04:57:03
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Já sabemos. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos três anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer cerca de 400 palavras, enquanto que outra, num contexto mais favorecido, pode chegar às 1200 e o triplo. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica. É uma barreira que pode definir o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego.

00:04:57:05 – 00:05:21:02
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A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, a pensar e interagir com o mundo. Afinal, comunicar, saber ler e saber falar para o mundo.

00:05:21:04 – 00:05:47:04
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Play Godinho licenciado em Psicologia desde 2016, que é diretor de Infância e Juventude e Família da Santa Casa da Misericórdia. Mas posso apresentá lo como um expert nestas coisas da infância e da juventude. Pode ser. Obrigado por ter aceitado o convite. Muito obrigado e esperto, eu diria, Mas diria um entusiasta e relativista também. E

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