Pergunta Simples

Jorge Correia
Pergunta Simples

Vivam! O Pergunta Simples é um podcast sobre comunicação. Sobre os dilemas da comunicação. Subscreva gratuitamente e ouça no seu telemóvel de forma automática: https://perguntasimples.com/subscrever/ Para todos os que querem aprender a comunicar melhor. Para si que quer aprender algo mais sobre quem pratica bem a arte de comunicar. Ouço pessoas falar do nosso mundo. De sociedade, política, economia, saúde e educação.

  1. -6 DIAS

    A inteligência artificial sabe responder a crises sanitárias? Miguel Ribeiro

    Quando há uma crise de saúde, terramoto, fogo ou inundação de escala cataclismica todos os países de mobilizam para responder. Seja uma pandemia de gripe, um sismo na Turquia ou uma guerra no centro de África. Ou em plena Europa. As primeiras equipas de socorro precisam de chegar e instalar.-se depressa. E esse movimento é um desafio gigantesco em contra relógio. Um desafio de logística e de comunicação. Qual é o melhor sítio para aterrar? Onde se colocam os hospitais de campanha? Como se distribuem as equipas de ajuda? É para resolver rapidamente estes problemas que uma equipa de portugueses criou uma ferramenta com o curioso nome de TERRATACTIX. Mas o que é, afinal, o Terratactix? Imagine um sistema que combina imagens de satélite em 3D, realidade aumentada e inteligência artificial para ajudar equipas médicas de emergência a planear operações em qualquer canto do mundo. É como se juntássemos tecnologia espacial, algoritmos avançados e um guia prático de organização — tudo ao serviço de salvar vidas. O Terratactix permite que estas equipas definam previamente onde colocar tendas de campanha, incineradores, veículos ou outros recursos, tudo com base em dados precisos. Mais do que isso, ele ajuda a prever situações críticas, como cheias, incêndios ou mesmo os efeitos de desastres naturais, permitindo que as decisões sejam tomadas com segurança e eficiência antes mesmo de se chegar ao terreno. Este é apenas um exemplo prático de como a inteligência artificial está a mudar a forma como enfrentamos problemas globais. Afinal, a inteligência artificial já não é apenas um conceito futurista ou algo que vemos nos filmes. Ela é usada para gerir crises de saúde, prever desastres naturais, otimizar a logística de operações em tempo real e até para simular o comportamento humano em situações críticas, como a evacuação de um estádio. Nos próximos minutos, vamos explorar este universo de possibilidades e desafios. Vamos falar sobre como a inteligência artificial funciona, o que está por trás de expressões como “algoritmos” e “nuvem”, e, porque é que estamos tão fascinados — e, ao mesmo tempo, um pouco assustados — com esta tecnologia. Vamos desmistificar o que parece complicado e mergulhar nas questões mais profundas: •Será que estamos no caminho para uma inteligência artificial verdadeiramente independente? •O que ainda falta para a Europa alcançar outros países no desenvolvimento destas tecnologias? •E mais importante: onde é que entra o papel do ser humano neste processo? Se é verdade que a inteligência artificial pode substituir tarefas repetitivas e resolver problemas complexos, também é verdade que nunca deixará de depender da criatividade humana, da visão do “sonhador”. Afinal, máquinas podem processar dados em velocidades impressionantes, mas são os humanos que conseguem imaginar o que não existe e transformar ideias em realidade. Falaremos ainda sobre como esta tecnologia pode ser democratizada. Hoje, com ferramentas como o ChatGPT e outros modelos de linguagem natural, qualquer pessoa consegue interagir com sistemas avançados de IA sem precisar de ser programador. Isso significa que a IA não é apenas para especialistas — ela está acessível a todos, desde que saibamos como usá-la conscientemente. E, claro, não podíamos deixar de discutir a questão da privacidade.

    38 min
  2. 22/01

    Como se escreve um bom livro? Patrícia Reis

    O meu fascínio pelas boas histórias é lendário,E a minha curiosa de sobre a maneira como os escritores trabalham é sempre grande.Por isso vamos lá mergulhar de cabeça na arte de criar estórias, escritas no papel.Nessa fabulosa invenção chamada livro. Sempre quis saber como escrevem os autores os seus livros.De onde nascem as ideias, como se criam personagens e se escorem as histórias.Por isso convidei Patrícia Reis, jornalista e escritora, para nos levar numa viagem ao coração do seu universo criativo.Ela partilha como constrói as suas histórias, como lê os livros que a inspiram e aborda temas que vão além da literatura, tocando questões sociais e culturais atuais. Para Patrícia Reis, a escrita começa sempre com as personagens. Elas não surgem apenas como ideias abstratas, mas como figuras completas — com histórias, personalidades e uma necessidade urgente de serem contadas. É a partir delas que os seus livros ganham forma. Num processo quase intuitivo, ela rejeita esquemas rígidos de narrativa, preferindo deixar as histórias fluírem naturalmente, numa descoberta constante. Por vezes, as personagens assumem tal autonomia que alteram completamente o rumo que ela inicialmente imaginava. A leitura, por outro lado, é descrita como um refúgio, uma fonte de inspiração e, acima de tudo, uma experiência transformadora. Patrícia acredita que cada livro tem um momento certo na vida do leitor que a sua interpretação muda com a idade e a experiência. Alguns livros resgatam-nos em tempos difíceis, outros desafiam-nos a ver o mundo de uma nova perspetiva. E há ainda os que nos deixam órfãos ao terminarem, tamanha é a sua profundidade e impacto. Para além da escrita e da leitura, falámos de temas sociais e culturais que atravessam os dias de hoje.Patrícia Reis é uma voz ativa na defesa do papel da mulher no mundo.O feminismo, por exemplo, surge como uma luta por igualdade e justiça, longe de qualquer polarização. Ela reflete sobre como as mulheres em posições de poder enfrentam ataques específicos, como as críticas diretas e maldosas ao corpo das mulheres na espera pública, e sobre a persistência de desigualdades salariais e sociais. As redes sociais também entram na conversa como um espelho das dinâmicas sociais atuais. Patrícia questiona o impacto que a polarização e o discurso de ódio têm sobre o diálogo e a construção de pontes entre pessoas com opiniões diferentes. Para ela, a falta de espaço para conversas abertas e para a troca de ideias é um dos maiores desafios da era digital. Claro que falamos também de jornalismo,Sobre a importância do jornalismo. Patrícia Reis defende que uma democracia saudável depende de um jornalismo que aprofunde contextos, promova pensamento crítico e mantenha a sociedade informada. Aponta, no entanto, os desafios do setor, como a precariedade das redações e a superficialidade de muitos conteúdos na atualidade. Este episódio é uma oportunidade para explorar o poder transformador das palavras — escritas e lidas. A biografia dos escritores está sempre expressa nos livros que escrevem. Ao escolher os temas, ao imaginar uma história os autores escolhem as armas com que nos vão ora encantar, ora desassossegar. Na página do Pergunta Simples está lá a informação dos livros que Patrícia Reis escreveu até agora. Vale sempre a pena ler. Livros de Patrícia Reis * A Desobediente (2024) * Da Meia Noite às Seis (2021) * As Crianças Invisíveis (2019) * A Construção do Vazio (2017) * Contracorpo (2013)

    52 min
  3. 15/01

    Como é ser o fotógrafo oficial do Primeiro-Ministro? Gonçalo Borges Dias

    Ser o fotógrafo oficial do Primeiro-Ministro é uma missão que mistura dedicação, intensidade e um profundo sentido de responsabilidade. Documentar o dia a dia de uma figura política tão relevante exige muito mais do que técnica; é necessário capturar a essência dos acontecimentos e transmitir, através das imagens, uma narrativa que comunique tanto com a população quanto com os públicos institucionais. O trabalho de Gonçalo Borges Dias envolve acompanhar viagens, eventos diplomáticos e toda a agenda oficial, sempre para criar registos que reflitam a energia, o carisma e a seriedade da função do chefe do governo. Cada fotografia precisa de contar uma história, respeitando as dinâmicas protocolares e, ao mesmo tempo, mantendo a espontaneidade. Só isso pode representar uma tensão no momento de fazer “aquela” fotografia que todos vemos nos canais de comunicação do governo. Tudo é importante. O gesto, o enquadramento, o ângulo, a luz. Tudo vale para contar a história. A experiência acumulada no fotojornalismo mostrou-se crucial para lidar com a pressão e a velocidade do trabalho. Ele traz para o seu dia a dia a capacidade de captar momentos que misturam a beleza da composição com o significado noticioso. No entanto, o ritmo intenso é comparado ao de uma equipa de alta competição, onde cada segundo é precioso. Uma parte essencial deste trabalho é a comunicação com o fotografado. Hoje Luís Montenegro. Como antes com mil pessoas noticiáveis. Ou de fazer retratos mais cuidados e sem a pressão diária da agenda mediática- A necessidade de criar um ambiente de conforto e confiança é constante, especialmente com uma figura que está sempre sob os holofotes. O objetivo é capturar o melhor lado da pessoa, não apenas em termos estéticos, mas também emocionais e humanos. Aprendi que a luz desempenha um papel central na fotografia. Cada tipo de iluminação é pensado para criar imagens que sejam coerentes com o momento e causadoras de impacto para quem as observa. Seja usando luz pontual para destacar o protagonista ou matricial para capturar o todo, a atenção aos detalhes é uma constante. Outro aspeto interessante do trabalho é a narrativa visual. A intenção é construir um registo documental que tenha princípio, meio e fim. Mesmo com as limitações impostas pelos protocolos, há uma busca por retratar não apenas o lado político, mas também o humano. As imagens visam mostrar o Primeiro-Ministro não apenas como uma figura de estado, mas também como pessoa. Este tipo de fotografia tem os seus desafios únicos, principalmente quando comparada ao fotojornalismo tradicional. O trabalho requer um olhar crítico constante para criar imagens que sirvam tanto ao registo histórico quanto à comunicação política. Há uma preocupação em equilibrar o lado estético com o significado político e institucional de cada imagem. Não é jornalismo, é comunicação institucional. O papel do fotógrafo oficial é também um trabalho de equipa. A sintonia com os assessores de comunicação, protocolo e outros profissionais é fundamental para garantir que cada momento seja capturado com qualidade e alinhado à narrativa pretendida. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Transcrição automatica 00:00:00:00 - 00:00:44:20 Ora, vivam. Bem vindos ao Pergunta simples o vosso caso sobre comuni...

    47 min
  4. 8/01

    Para onde está a ir o meu dinheiro? Pedro Brinca

    Nunca tiveram a sensação de que o dinheiro se está a esvaziar na nossa carteira? É a economia, estúpido, dizem-me vocês, cheios de razão. Se há realidade que se altera por decisão das pessoas, essa realidade é a economia.  Talvez isso explique porque é tão difícil fazer previsões económicas ou comunicar estas coisas do dinheiro.  Se anunciamos a crise, as pessoas acautelam-se e compram menos. Em princípio é inteligente. Cautelas e caldos de galinha não fazem mal a ninguém. O será que fazem? Se todos ficarmos com medo, gastamos menos, compramos menos, logo vende-se menos e com isso produz-se menos. Daí à queda dos impostos cobrados e ao desemprego é um saltinho. E basta um susto. E lá se vai a expectativa por aí abaixo. Ou então o contrário: uma súbita euforia, um par de informações que nem conhecemos bem, e desata tudo a comprar este mundo e o outro como se o planeta tivesse acelerado.  E o ciclo torna-se magicamente otimista. No fundo, isto da economia é uma espécie de montanha-russa: se acreditares vai, se não, agarra-te. Esta primeira edição de ano novo é sobre o dinheiro. O que temos, o que desapareceu, o que devemos e o que esperamos ter. Para onde está a ir o meu dinheiro? O custo de vida, a inflação, os salários e as escolhas económicas que definem o nosso futuro.  Decidi meter-me num molho de binóculos e tentar descomplicar assuntos que, à primeira vista, parecem técnicos, mas que estão presentes no nosso dia a dia. Mas não venho sozinho. Convidei Pedro Brinca, professor na Nova SBE e especialista em macroeconomia. A economia dos grandes. A que acaba por mandar nos nossos tostões. Por que razão os preços dispararam?  Pense no supermercado: o tomate que costumava custar um euro agora está o dobro, e a conta final já não parece a mesma.  Durante a pandemia, muitas cadeias de produção pararam, e isso gerou um efeito dominó. Produtos essenciais começaram a escassear, e mesmo após o regresso à normalidade, a energia mais cara e os custos de transporte mantiveram os preços altos. Essa realidade chegou também à produção agrícola: os fertilizantes, dependentes de energia, tornaram-se mais caros, e isso reflete-se em alimentos básicos que consumimos diariamente. Mas será que é só isso? Ou aproveitando a maré, alguém fez subir a conta mais do que o aumento do custo das coisas? Outro exemplo prático vem do crédito à habitação.  Se tem um empréstimo, já sentiu o peso das prestações a subir. Agora parece finalmente aliviar um bocadinho. Mas subiu muito nos últimos anos. Para muitas famílias, isso significa apertar o cinto, cortar viagens, refeições fora ou outras despesas que antes eram possíveis. É carestia da vida em todo o seu fulgor. Este fenómeno não é apenas uma coincidência. As taxas de juro são ajustadas pelos bancos centrais para reduzir a inflação, retirando dinheiro do consumo.  Mas será justo que tantas famílias suportem esse fardo? Há também uma reflexão sobre as características da economia portuguesa. Pense nos pequenos negócios, como salões de cabeleireiro ou cafés. Apesar de serem fundamentais para a comunidade, a dependência excessiva deste tipo de empresas dificulta o crescimento do país. Negócios pequenos têm menos capacidade de gerar empregos com bons salários ou de competir no mercado global.

    55 min
  5. 25/12/2024

    Para que serve o Natal? Miguel Vasconcelos

    Há 2024 anos nasceu Jesus. Assim reza a história e tradição cristã. E hoje ainda vale celebrar o natal? Hoje, temos uma conversa que promete iluminar muitos aspetos da nossa existência e nos levar a refletir sobre questões essenciais da vida, da fé e do mundo em que vivemos. Da fé, mas não só. O convidado é o Padre Miguel Vasconcelos, capelão da Universidade Católica de Lisboa, Alguém que se sonhou engenheiro e acabou a ser ordenado sacerdote, O Padre Miguel consegue explicar coisas tão complexas e misteriosas como a fé em três frases. Nesta conversa, exploramos o significado do Natal, mas também muito mais do que isso. Falamos de como, em tempos de escuridão – sejam eles conflitos no mundo, crises pessoais ou simples dúvidas existenciais —, o Natal pode ser uma luz. Não uma solução mágica para os problemas, mas um convite a acreditar na possibilidade de recomeçar. Discutimos o simbolismo do presépio como uma mensagem de vulnerabilidade e esperança, que nos desafia a sermos mais humildes e disponíveis para o outro. Mas não paramos por aí. Entramos também numa questão central: Deus. A ideia de Deus. Deus existe? Quem é Deus? E como lidamos com a dúvida, o silêncio ou até mesmo a sensação de abandono em momentos difíceis? Miguel Vasconcelos reflete sobre a complexidade desta relação, reconhecendo que a experiência de Deus é tanto transcendente quanto profundamente íntima. É um diálogo constante entre o que é infinitamente grande e aquilo que é infinitamente pequeno em nós. Há também espaço para uma reflexão sobre o papel da religião no mundo contemporâneo. Falamos de como, muitas vezes, a fé é vista como algo distante ou solene, quando na realidade está profundamente ligada à celebração da vida e até ao riso e à festa. Questionamos se a religião é um caminho de respostas, ou antes, um espaço para levantar as grandes perguntas da existência. Para o Padre Miguel, a fé não elimina a dúvida; pelo contrário, vive ao lado dela como um motor de busca e de encontro com o eterno. E claro, sendo o Padre Miguel um orador experiente, quis ouvi-lo sobre a arte de comunicar em público. O que significa falar de Deus para uma audiência, ou mesmo escutar as dores e os dilemas de alguém no confessionário? Para ele, a chave está na honestidade – seja na palavra ou na escuta – e em nunca transformar a mensagem num espetáculo, mas antes num ato genuíno de serviço. Este é um episódio sobre humanidade, espiritualidade e a busca por sentido, que promete trazer não só respostas, mas também muitas perguntas para refletirmos juntos. Feliz natal para todos.Até para a semana. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:00:11 - 00:00:30:24 . Viva Miguel Vasconcelos, padre de vocação, capelão da Universidade Católica de Lisboa. Estamos em tempos de Natal. Como é que ainda faz sentido celebrar o Natal? Como nós celebramos? Então, antes de mais, olá! Vão estar aqui sim, e acho que faz sentido. Será o Natal. E acho que nos tempos em que passamos, nos tempos que atravessamos, estava ainda seja mais evidente por que é importante celebrar agora o Natal. 00:00:31:01 - 00:00:58:16 .

    57 min
  6. 18/12/2024

    Como reconstruir vidas de crianças marcadas por histórias difíceis? Rui Godinho

    Hoje, falamos de um tema urgente: a infância e como as experiências vividas nesta fase moldam o futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e proteção. O que acontece quando a proteção falha? Como podemos ajudar crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente, crianças maltratadas. Por vezes acordamos, chocados, com as consequências diretas de uma infância infeliz. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal, disse: “Estar na cadeia é melhor do que estar em casa.” Este caso, que começou com maus-tratos familiares e culminou numa tragédia, expõe um padrão: a comunidade, muitas vezes, não vê os sinais ou não age a tempo. “Este não foi um crime isolado”, ouvi eu explicar Rui Godinho. “Ele é o resultado de anos de negligência e violência.” Professores relataram que a jovem era agredida pelo pai à porta da escola, e ainda assim, ninguém interveio. Este caso levanta questões difíceis: por que motivo instituições como escolas ou centros de saúde não identificaram o problema antes? Provavelmente os sistemas de proteção estão desatualizados e focados apenas nos sinais mais óbvios, como pobreza extrema ou agressões físicas visíveis, enquanto maus-tratos psicológicos, mais subtis, continuam a ser ignorados. Quando a negligência ou maltrato é detetada, estas crianças são retiradas do seu ambiente familiar. Idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas para adoção. Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem mais do que boa vontade. “Estas crianças vêm de histórias difíceis”, ouvi eu “Muitas vezes, testam os limites dos novos cuidadores porque nunca tiveram estabilidade.” Rui Godinho dá um exemplo simples: quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adotivos como forma a verificar se os laços são reais. Esse comportamento não é de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança. De validar. Uma espécie de “vamos lá ver se gostas mesmo de mim a sério” O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que, em Portugal, ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que mais crianças pudessem ser acolhidas em famílias. A lei tem hoje várias possibilidades: da clássica adopção, às famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil. E o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes. E ao extremo oposto: os pais demasiado protectores. Fixem o conceito “hiperparentalidade negligente”. Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos, que impede as crianças de aprenderem a lidar com desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem, de forma segura. É nesse equilíbrio entre proteção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na Primeira Infância é crítica. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança.

    56 min
  7. 11/12/2024

    Cancro: Quão importante é a palavra esperança? Susana Almeida

    Oficialmente é médica psiquiatra. Na prática, é uma ouvidora profissional ajudando pessoas a quem foi diagnosticado cancro. Ouve doentes, famílias e profissionais que tratam esta doença no IPO do Porto. Susana Almeida dirige o serviço de psiquiatria deste hospital. Mas de facto é uma especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento. No seu dia-a-dia aprendeu que a “A nossa cara diz muito sobre nós”, explicando que o trabalho de um psiquiatra começa antes mesmo de o doente nem sequer abrir a boca. É no detalhe que Susana encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, a hesitação ao caminhar, a escolha das palavras — tudo é revelador. Voltamos à observação da linguagem não verbal. Onde o gesto fala. E diz coisas que aa pessoas não conseguem colocar em palavras. É como se a palavra angústia estivesse em cada trejeito, tremura ou olhar vago. Claro, há o gesto e a palavra. Mas comunicar é também não comunicar. Explico-me: o não dito é uma forma de dizer. O desafio de Susana Almeida não é apenas escutar o que é dito, mas decifrar o que fica por dizer. A sua experiência diz-lhe que o confronto com uma doença grave é, muitas vezes, um momento de balanço. O momento da nostalgia do que poderíamos ter sido. O confronto com as escolhas da vida. Porque escolhi ser isto e não aquilo. Porque decidi estar com esta pessoa e não outra. Ou nenhuma. Perguntas sem resposta apaziguadora. E sem tempo para reviver. Depois há o confronto com o corpo. Com a possível ou real mutilação. Com o impacto no lar. Ouvi a história de uma mulher que recusava a ideia de ter de tirar uma mama porque os seios eram parte fundamental e inegociável da sua identidade pessoal. Mas este episódio não é só dor. É uma conversa carregada de energia e esperança. De pacificação, crescimento e possibilidade. Bem-vindos à discussão milenar da condição humana. Vale ouvir. Vale partilhar. A luta contra as grandes adversidades recolhe forças nos dias bons. Nos dias que passaram, nos dias que hão de vir. A alegria de um momento robusto de afetos funciona sempre como uma bateria. E as esperança do melhor como dínamo de energia. Vale sempre ouvir. Vale falar. Vale ser humano. Na mais universal das definições. RESUMO No Instituto Português Oncologia do Porto, num gabinete repleto de histórias não contadas, a psiquiatra Susana Almeida enfrenta diariamente as fragilidades da condição humana. Diretora do serviço de Psiquiatria, Susana Almeida é especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento. “A nossa cara diz muito sobre nós”, começa por explicar, sublinhando que o trabalho de um psiquiatra começa antes mesmo de o doente abrir a boca. É no detalhe que Susana encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, a hesitação ao caminhar, a escolha das palavras — tudo é revelador. “A observação do não verbal é essencial. Como alguém chega à consulta pode dizer mais do que qualquer exame.” No IPO, onde os doentes frequentemente enfrentam diagnósticos de cancro, estes sinais tornam-se ainda mais importantes. “Muitas vezes, as pessoas não conseguem verbalizar a angústia,

    54 min
  8. 04/12/2024

    Quem conta as histórias do bairro? António Brito Guterres

    A maneira como narramos as histórias conta. Como contamos o que vemos. Como ignoramos o que não queremos ver. Neste episódio vamos ao bairro. Ao bairro que insistimos em não ver. O bairro são muitos bairros. Mas todos, sem exceção, são chamados periféricos ou de intervenção social. Um lugar onde tudo é difícil. Da vida até às histórias que se contam dele. O bairro veio ao Pergunta Simples. E simples é tudo o que o bairro não é. António Brito Guterres é um alquimista dos estudos urbanos. Da formação em assistência social ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver. Ele assume-se como um narrador das vidas que por lá se vivem. Ou sobrevivem. No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, mediante narrativas genuínas, auxilia-as a ressignificar as suas realidades. É alguém que acredita que toda a história merece ser contada — principalmente aquelas que ainda não saltaram os “muros” das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade. Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como as cidades são desenhadas, quem nelas vive e como podemos construir espaços mais justos e inclusivos. Ele trabalha nos “pontos de dor”, como ele próprio descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas: bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio. Durante a conversa, exploramos como as desigualdades estruturais perpetuadas pelo urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação. Falámos muito sobre Importância das Narrativas: Como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos ‘media’ tradicionais, ou nas redes sociais. As mesmas redes socais que abrem caminhos para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem desses bairros, desafiando preconceitos e estigmas. Músicos que nem sabíamos existirem até terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem as letras para a cantiga de protesto, artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional do que aparecem na televisão portuguesa. Quão surdos estamos para não querer ouvir estas vozes? Quão alto é o muro criado pelo urbanismo do betão feio? Do Urbanismo como ferramenta de exclusão ou emancipação: Falámos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar “gaiolas” em vez de trampolins sociais. Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da Pobreza: Mas não desistimos por aqui. Porque navegamos na cultura como Forma de resistência: A ascensão de artistas periféricos, como rappers e criadores culturais, que usam a arte para reescrever as narrativas dos seus territórios. Proponho que viajemos aos bairros. Ouvir. Simplesmente, ouvir. Há uma história que precisa de ser recontada. LER A TRANSCRIÇÃO DO ...

    1 h
4,9
de 5
31 classificações

Sobre

Vivam! O Pergunta Simples é um podcast sobre comunicação. Sobre os dilemas da comunicação. Subscreva gratuitamente e ouça no seu telemóvel de forma automática: https://perguntasimples.com/subscrever/ Para todos os que querem aprender a comunicar melhor. Para si que quer aprender algo mais sobre quem pratica bem a arte de comunicar. Ouço pessoas falar do nosso mundo. De sociedade, política, economia, saúde e educação.

Talvez também goste

Para ouvir os episódios explícitos, inicie sessão.

Mantenha-se atualizado sobre este programa

Inicie sessão ou efetue o registo para seguir programas, guardar episódios e obter as atualizações mais recentes.

Selecione um país ou uma região

África, Médio Oriente e Índia

Ásia‑Pacífico

Europa

América Latina e Caraíbas

Estados Unidos e Canadá