Goethe

Estado da Arte

Ouça o podcast: Spotify | Deezer | Apple Podcasts

Você já imaginou como seria viver a vida de um grande artista? E de um grande estadista ou um grande pensador? E que tal tudo isso numa única vida? O ideal do “homem universal” foi consagrado no Renascimento, mas é plausivelmente tão antigo quanto a humanidade. É curioso, contudo, que dentre todos os bilhões e bilhões de seres humanos que já existiram haja tão raros candidatos a este título. Platão foi o patriarca dos filósofos e um escritor de talento, mas um político frustrado que expulsou os poetas de sua República ideal. Pascal, um grande cientista, filósofo e teólogo, mas demasiado atormentado e recluso. Mesmo o ícone Leonardo da Vinci foi um pintor extraordinário, mas produziu pouco nas outras artes. Suas invenções são sonhos irrealizáveis e não deixou nada digno de nota na filosofia. 

Johann Wolfgang von Goethe também tinha suas limitações. Ele desconfiava das abstrações da filosofia. Foi administrador público – mas de um ducado menor. Um cientista dedicado – mas mais inspiracional que efetivo. Um pintor amador, um historiador diletante, um diplomata de ocasião. Mas de todos os “homens universais” foi o maior dos poetas. Primeiro escritor alemão de estatura inquestionável e o mais celebrado desde então, talvez nenhum outro em todos os tempos e lugares tenha o seu alcance e variedade. Ele produziu obras primas em praticamente todos os gêneros: poesia lírica, épica, dramática, erótica, romances, autobiografia, aforismos, ensaios, crônica, crítica literária e artística. Ele é para o Iluminismo o que Shakespeare foi para o Renascimento e Dante para a Idade Média. Seu Fausto, foi o maior poema longo desde a Divina Comédia e o Paraíso Perdido de Milton, e o drama mais emblemático da era moderna.

Sua vida coincidiu com o período mais excitante e criativo desde o Renascimento. Ele atravessou da Revolução Francesa às guerras napoleônicas até a eclosão da burguesia industrial e das democracias liberais. Usando sua experiência e criatividade, radiografou estas metamorfoses e fascinou os maiores artistas, estadistas e filósofos. “Eis um homem!” exclamou Napoleão aos seus oficiais. Para Marcel Proust, é “a maior inteligência que já existiu”. Para Stefan Zweig, “o mais sábio dos sábios”. “Minha ambição, meu tormento e minha alegria”, disse Nietzsche, era “viajar por toda a circunferência da alma moderna e ter sentado em todos os cantos … Verdadeiramente superar o pessimismo, e, como resultado, adquirir os olhos de Goethe – cheios de amor e boa vontade”. Em Goethe, o ideal do homem universal atingiu seu auge e seu fim. Mas ele deixa a cada um de nós uma provocação que reverberará pelos séculos: você pode viver a vida como uma obra de arte?   

Convidados

Daniel Martineschen: professor de língua e literatura alemã da Universidade Federal de Santa Catarina e tradutor do Divã ocidento-oriental de Goethe.

Marcus Mazzari: professor de literatura comparada da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Goethe do Brasil.

Sylk Schneider: curador, tradutor, intérprete e autor de Viagem de Goethe ao Brasil.

Referências

  • A dupla noite das tílias: história e natureza no Fausto de Goethe, de Marcus Mazzari.  
  • Viagem de Goethe ao Brasil, de Sylk Schneider. 
  • Divã Ocidento-Oriental (West–östlicher Divan), introdução, tradução e notas por Daniel Martineschen.
  • Ensaios Reunidos: Escritos sobre Goethe, de Walter Benjamin.
  • Goethe e seu Tempo (Goethe und seine Zeit), de György Lukács. 
  • Deus e o Diabo no Fausto de Goethe, de Haroldo de Campos.
  • Dinheiro e Magia. Uma crítica da economia moderna à luz do Fausto de Goethe (Geld und Magie), de Hans Christoph Binswanger. 
  • The Cambridge Companion to Goethe, ed. Por Lesley Sharpe. 
  • Goethe. Life as a work of art, de Rüdiger Safranski. 
  • Goethe: A Very Short Introduction, de Ritchie Robertson. 
  • De Leibnitz a Goethe, de Wilhelm Dilthey. 
  • Goethe, Kant and Hegel, de Walter Kaufmann. 
  • Reading Goethe. A critical introduction to the literary work, de M. Swales e E. Swales. 
  • Rousseau, Kant, Goethe, de Ernst Cassirer. 
  • Tres poetas filosofos. Lucrécio, Dante, Goethe, de George Santayana. 
  • Goethe. The Poet and the Age, de Nicholas Boyle. 
  • Goethe. His Life and Times, de Richard Friedenthal.
  • Der Briefschreiber Goethe, de Albrecht Schöne.
  • Michael Jaeger: Wanderers Verstummen, Goethes Schweigen, Fausts Tragödie. Oder: Die grosse Transformation der Welt, de Michael Jaeger.
  • Mit einer Art von Wut – Goethe in der Revolution, de Gustav Seibt.
  • Goethe-Lexikon, ed. por Gero von Wilpert.
  • Goethes Faust. Erster und Zweiter Teil. Grundlagen. Werk. Wirkung, de Jochen Schmidt.  

Ilustração: Goethe em Weimar, aos 30 anos. Por Georg Melchior Kraus (1778, Wikimedia Commons).

O post Goethe apareceu primeiro em Estado da Arte.

Para ouvir episódios explícitos, inicie sessão.

Fique por dentro deste podcast

Inicie sessão ou crie uma conta para seguir podcasts, salvar episódios e receber as atualizações mais recentes.

Selecionar um país ou região

África, Oriente Médio e Índia

Ásia‑Pacífico

Europa

América Latina e Caribe

Estados Unidos e Canadá