Quem conta as histórias do bairro? António Brito Guterres

Pergunta Simples

A maneira como narramos as histórias conta.

Como contamos o que vemos. Como ignoramos o que não queremos ver.

Neste episódio vamos ao bairro. Ao bairro que insistimos em não ver.

O bairro são muitos bairros.

Mas todos, sem exceção, são chamados periféricos ou de intervenção social.

Um lugar onde tudo é difícil.

Da vida até às histórias que se contam dele.

O bairro veio ao Pergunta Simples.

E simples é tudo o que o bairro não é.

António Brito Guterres é um alquimista dos estudos urbanos.

Da formação em assistência social ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver.

Ele assume-se como um narrador das vidas que por lá se vivem. Ou sobrevivem.

No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, mediante narrativas genuínas, auxilia-as a ressignificar as suas realidades. É alguém que acredita que toda a história merece ser contada — principalmente aquelas que ainda não saltaram os “muros” das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade.

Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como as cidades são desenhadas, quem nelas vive e como podemos construir espaços mais justos e inclusivos. Ele trabalha nos “pontos de dor”, como ele próprio descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas: bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio.

Durante a conversa, exploramos como as desigualdades estruturais perpetuadas pelo urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação.

Falámos muito sobre Importância das Narrativas:

Como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos ‘media’ tradicionais, ou nas redes sociais.

As mesmas redes socais que abrem caminhos para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem desses bairros, desafiando preconceitos e estigmas.

Músicos que nem sabíamos existirem até terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem as letras para a cantiga de protesto, artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional do que aparecem na televisão portuguesa.

Quão surdos estamos para não querer ouvir estas vozes?

Quão alto é o muro criado pelo urbanismo do betão feio?

Do Urbanismo como ferramenta de exclusão ou emancipação:

Falámos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar “gaiolas” em vez de trampolins sociais.

Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da Pobreza:

Mas não desistimos por aqui. Porque navegamos na cultura como Forma de resistência:

A ascensão de artistas periféricos, como rappers e criadores culturais, que usam a arte para reescrever as narrativas dos seus territórios.

Proponho que viajemos aos bairros. Ouvir. Simplesmente, ouvir.

Há uma história que precisa de ser recontada.

LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

00:00:12:24 – 00:00:44:07
JORGE CORREIA
Uma dádiva. Um Bem vindos ao. Pergunta simples O vosso pecado sobre a comunicação. A maneira como narramos as histórias conta como contamos o que vemos, como ignoramos o que não queremos ver. Neste episódio vamos ao bairro, ao bairro que insistimos em não ver o bairro. São muitos bairros, mas todos, sem exceção, são chamados de periféricos ou de intervenção social, num lugar onde tudo é mais difícil da vida e das histórias que se contam dele.

00:00:44:13 – 00:01:01:00
JORGE CORREIA
Do bairro veio a pergunta simples e simples é tudo aquilo que o bairro não é?

00:01:01:02 – 00:01:30:16
JORGE CORREIA
António Guterres é um alquimista dos estudos urbanos, da formação em essência social, ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver e assume se como um narrador das vidas que por lá se vivem ou sobrevivem. No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, através de narrativas narrativas genuínas, ajuda a ressignificar, a criar novos significados para as suas realidades.

00:01:30:18 – 00:01:56:04
JORGE CORREIA
É alguém que acredita que toda a história merece ser contada, principalmente aquelas histórias que ainda não saltaram os muros das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade. Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como é que as cidades são desenhadas, quem nelas vive, como podemos construir espaços mais justos e inclusivos?

00:01:56:06 – 00:02:27:00
JORGE CORREIA
Ele trabalha nos chamados pontos de dor, como ele próprio o descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas. Bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção com alunos chumbar logo nos primeiros anos, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio. Durante esta conversa, exploramos como as desigualdades estruturais que são perpetuadas com a ajuda do urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação pela tal narrativa.

00:02:27:02 – 00:02:53:09
JORGE CORREIA
Falamos, de resto, muito sobre a importância das narrativas, não fosse este um caso sobre comunicação, como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos media tradicionais ou nas redes sociais, as mesmas redes sociais onde se abrem caminhos de esperança para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem destes bairros, desafiando preconceitos e estigmas.

00:02:53:11 – 00:03:19:13
JORGE CORREIA
Músicos que nem sabíamos existirem até eles terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem letras para cantigas de protesto ou artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional lá fora do que aparecem na televisão portuguesa. Com surdos estamos nós para não querer ouvir estas vozes com auto e o muro criado pelo urbanismo do betão fácil do urbanismo como ferramenta de exclusão ou de emancipação.

00:03:19:17 – 00:03:47:24
JORGE CORREIA
Falamos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar gaiolas ao invés de criar trampolins sociais. Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da pobreza. Mas não desistimos por aqui porque navegamos na cultura como forma de resistência à ascensão de artistas periféricos, primeiro periféricos, agora mundiais, como rappers e criadores culturais que usam a arte para reescrever as tais narrativas dos seus territórios.

00:03:48:01 – 00:04:21:06
JORGE CORREIA
Proponho que viajemos até aos bairros. Ouvir, simplesmente ouvir a uma história que precisa de ser recontada. António Brito Guterres é um contador dessas histórias que nos lembram o poder das narrativas, o poder transformador das narrativas. Este episódio de pergunta simples é mais do que uma simples conversa, é um convite a olhar para o mundo de uma maneira diferente, a escutar as vozes que muitas vezes são silenciadas e a reconhecer o valor de cada história humana.

00:04:21:08 – 00:04:24:07
JORGE CORREIA
Quem és tu? António Brito Guterres.

00:04:24:09 – 00:04:51:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Depende do ponto de partida e onde o túnel eventualmente contou na televisão ou na rádio. Isso parte de mim determinada e, contudo, outros locais sou outra parte de mim. Somos todos um caso. Não deixe fantasiar, pelo menos de fantasiar pelo que vêem, porque às vezes essa é uma parte recortada. É evidente que eu tento unir as pontas todas por resultar o mais genuíno possível, porque, imagino em nós estamos mais à vontade, estamos também e isso é importante.

00:04:51:22 – 00:05:07:14
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas agradeço sua essencial, sua investigação. Investigador em Estudos Urbanos, Doutorando em Estudos Urbanos e jornalista. E, na verdade, eu acho que o trabalho não é muito diferente, porque meu trabalho é contar histórias.

00:05:07:14 – 00:05:09:13
JORGE CORREIA
É uma espécie de etnografia.

00:05:09:15 – 00:05:10:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não é bem isso.

00:05:10:20 – 00:05:11:21
JORGE CORREIA
O que faz a procura.

00:05:11:21 – 00:05:40:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Até porque não gosto de muito observar e de aprender com a tradição oral dentro dos gestos, das pessoas. Mas quando digo que meu trabalho muitas vezes não é longe, não está longe de um jornalista, é porque eu estou numa posição de trabalho que lida com as inconformidades do mundo em que vivemos. Por exemplo, contrato social. Estou exposto num sítio que denuncia as desigualdades, denuncia as inconformidades, trabalha as contradições do nosso mundo.

00:05:40:14 – 00:05:42:00
JORGE CORREIA
Trabalha nos pontos de dor.

00:05:42:03 – 00:05:51:22
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Exatamente. No entanto, quando eu digo que são histórias e eu ouço as pessoas e tento tecnicamente apoiá las para lhes pedir, emancipar e ser livre de determinarem.

00:05:51:24 – 00:05:54:02
JORGE CORREIA
Como é que suas obras.

00:05:54:04 – 00:06:07:03
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Ouvindo mesmo ouvindo e depois respondendo de acordo com outra, não é o que o Antonio acha que deve ser. É ouvir percebê

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