Mirante Observatório Psicanalítico
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- Sociedade e cultura
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Este é o MIRANTE, um podcast para ouvir psicanalistas e pensadores de outros campos debatendo temas relevantes no nosso cotidiano contemporâneo.
O MIRANTE é do Observatório Psicanalítico e pertence à Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi).
Venha conosco nessa viagem de olhar o mundo a partir do mirante da psicanálise!
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A cidade como palco da dança da libido com a destrutividade
Como viver juntos? Ou melhor, como continuar a viver juntos?
Tal como no psiquismo humano, onde uma ferida lateja e nos retira do lugar de imaginarmos ter o domínio em nossa própria casa, uma cidade também é composta por uma miríade de lugares desconhecidos. Charles Baudelaire captou o espírito da cidade moderna ao falar sobre a errância, o caminhardespretensioso, similar a uma atenção flutuante do método psicanalítico, quando escutamos uma história ou andamos por uma cidade sem ansiar encontrar algo específico, até que um susto possa nos mostrar uma relevância e abrir um caminho novo.
Todavia, são vários os desafios à soltura da errância. Na cidade é possível acompanhar usos e abusos: espaços públicos são privatizados, espaços comuns são apropriados, espaços criados para uma função acabam sendo utilizados para outras funções, a intimidade é exposta como mercadoria de consumo: segregações sociais violentas em deslocamentos urbanos, a febre dos porsches em colisão com pessoas em situação de rua, condomínio e hotéis de luxo ao lado de favelas. A cidade é cada vez mais um lugar de interditos.
O que é possível fazer para propiciar a construção de laços sociais em uma cidade contemporânea?
Para conversar conosco convidamos a urbanista Regina Meyer e a psicanalista Magda Khoury -
Sonhos na contemporaneidade: entre a neurociência e a psicanálise
Na aurora do século XX, Freud publica “A interpretação dos sonhos”, livro que também representa a entrada da psicanálise na cultura moderna, um marcador da ruptura com o século XIX, constituindo um novo futuro
sobre a compreensão da vida mental humana.
O significado dos sonhos sempre intrigou a humanidade, ao passo que foi descredenciado ou combatido em determinadas épocas e culturas. Freud criticou a posição médica vigente de seus contemporâneos, evidenciando a
rigidez científica que impossibilitava alcançar o significado psicológico de um sonho. E constatou, com assombro, “que a visão dos sonhos que mais se
aproximava da verdade era a não médica, mas a popular.”
Freud concluiu que o sonho é uma realização de desejo.
Um sonho nos leva a um espaço tão íntimo que conduz à seara do inconfessável, algo muitas vezes contraditório diante da imagem que a pessoa tem de si.
No entanto, culturas que preservam interpretações milenares podem ter uma visão diferente dos sonhos e sua relação com os desejos.
Diante disso, nos questionamos: atualmente, como vivenciamos os sonhos? Quais as funções do sono e dos sonhos? Diante dos avisos de culturas ancestrais acerca da “Queda do céu” é urgente reaprendermos a sonhar? Os sonhos continuam a ser nossos oráculos, a nossa via régia?
Para conversar conosco sobre os sonhos na contemporaneidade convidamos o neurocientista Sidarta Ribeiro e o psicanalista Pedro Coli. -
O impacto estético na arte e na psicanálise
O que ocorre em uma experiência estética? Em 1908, Freud compara os devaneios e fantasias dos adultos com as brincadeiras infantis. A criança expressa seu mundo imaginário ao brincar de ser adulta, envolvendo-se em jogos, imitações e encenações que refletem as situações cotidianas dos mais velhos, como brincar de “papai e mamãe”.
O contato com o estético, por meio das diversas linguagens
artísticas, proporciona prazer e deleite, mas também instiga a inquietude diante da ausência de respostas claras sobre o que nos comove. Desde a antiguidade até os dias contemporâneos, das belas artes às artes abjetas, a experiência estética se desenrola em uma ampla gama de possibilidades, envolvendo fruição, prazer, repulsa e desprezo.
Existe algo que ressurge no encontro estético? Ao considerar
a dualidade entre Eros e Tânatos, como podemos compreender o prazer estético? Seria a arte o único meio de tocar, ainda que precariamente, o humano?
Para conversar conosco sobre “O impacto estético na arte e
na psicanálise” convidamos o arquiteto, designer, professor de História da Arte Pedro Boaventura e o psicanalista Luiz Meyer. -
A literatura libertina e a analidade na psicanálise
Marquês de Sade é considerado uma das figuras desviantes na literatura. A construção de suas personagens seguiu na contramão de qualquer convenção social, longe de qualquer aprisionamento a regras morais. Na literatura libertina de Sade a analidade e o sadismo aparecem em narrativas de dominação, submetimento, crueldade, coprofilia.
Freud, ao falar da sexualidade humana, explicita seu caráter
complexo e composto, ressalta as excitações periféricas de partes do corpo, como genitais, boca, ânus, uretra. Desenvolve, em seus argumentos sobre a sexualidade, as formações reativas ou forças contrárias, como a vergonha, o nojo e a moral.
Freud e os escritores fogem, portanto, das formas habituais de pensar o humano. Nesse sentido, pensar o erotismo é, amiúde, sair da convenção. É trazer o incômodo, a inquietude.
Freud relacionou a analidade ao sadismo e nomeou como fase sádico-anal aquela na qual esses aspectos estão em primeiro plano. Como a analidade aparece na teoria psicanalítica? Seria Freud um libertino?
Para conversar conosco sobre essas e outras questões nesta temporada sobre “O Sexual na Polis” convidamos a professora e crítica literária Eliane Robert Moraes e a psicanalista Berta Hoffmann Azevedo. -
O phallus na história romana e a sexualidade na psicanálise
Os primeiros estudos psicológicos e pedagógicos no século XIX legitimaram uma concepção da infância baseada em ideais de felicidade, fragilidade, inocência e espontaneidade.
Freud inaugurou um novo olhar sobre a vida psíquica das crianças. Essa se faria acompanhar, desde o seu início, da dimensão sexual. Ele propõe uma nova ética, articulando o sexual ao infantil, insistindo na importância dos primeiros anos da infância para a etiologia sexual das neuroses.
O termo sexualidade precisará ser diferenciado da noção de genitalidade. Afirmará também que o psiquismo é bissexual; apresentará conceitos como o complexo de Édipo, o complexo de castração, colocando o órgão pênis como referência na diferença entre os sexos e como objeto de “inveja” nas meninas.
Como podemos pensar a teoria freudiana hoje? O falocrentrismo e seus efeitos estariam presentes ainda hoje na nossa cultura?
Para continuar pensando sobre o sexual na Polis em nossa época, convidamos o historiador Alexandre Coser e a psicanalista Luciane Falcão. -
O leite, a comida e a sexualidade
Estamos acostumados a pensar que o bebê humano, diferentemente dos filhotes de outras espécies, é completamente dependente do outro.
Freud, já em 1885, no “Projeto para uma psicologia científica, entendia que quando as necessidades corporais exigem satisfação, o bebê com fome grita e esperneia. No entanto, esses movimentos não o saciam. É a ação de cuidado do outro que o assiste, e portanto, que permitirá que a experiência de satisfação aconteça, pondo fim às estimulações internas que provém das necessidades.
O seio da mãe é oferecido não apenas com o intuito de nutrição, mas de apaziguamento das tensões, minimizando as sensações de desconforto que o ego incipiente do bebê não pode ainda sustentar. Neste sentido, para a psicanálise, a relação com o seio é ampla e complexa.
Nos “Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), Freud assinala que a pessoa que se ocupa dos primeiros cuidados do bebê - "que geralmente é a mãe - dedica-lhe sentimentos que se originam de sua própria vida sexual: acaricia, beija e embala a criança, claramente a toma como substituto de um objeto sexual completo".
É a partir dessa experiência com o corpo do outro, que a pulsão sexual é despertada no bebê, deixando marcas e criando possibilidades desejantes. Dessas marcas, principalmente a partir da retirada do seio e de alguma separação em relação à mãe, observaremos os mais diferentes destinos pulsionais que se expressam na vida humana.
Seriam os filhotes de outras espécies realmente menos desamparados que os nossos? E ainda, como psicanalistas, que aspectos da nossa sexualidade estariam postos nesta relação política que travamos com as fêmeas de outras espécies?
Para nos ajudar a pensar sobre o sexual na Polis convidamos a artista Cecília Cavalieri e a psicanalista Luciana Saddi.